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Covid-19: Índia já está fazendo centenas de milhões de doses da vacina

Maior produtor de vacinas do mundo, instituto indiano arrisca fabricar milhões de doses, mesmo sem eficácia comprovada

Cyrus Poonawalla: indiano fundou o Instituto Serum, hoje comandado por seu filho único Adar Poonawalla (Bloomberg/Getty Images)
MB

Murilo Bomfim

Publicado em 1 de agosto de 2020 às 17h49.

Última atualização em 2 de agosto de 2020 às 10h13.

Se tem algo que une o mundo polarizado de hoje, não há dúvidas que é o desejo pela vacina que dará fim à pandemia do novo coronavírus . A corrida pela imunização, no entanto, é desafiadora: criar uma vacina exige investimentos e uma série de testes.

Mesmo sem eficácia comprovada, o indiano Instituo Serum, o maior produtor global de vacinas, aposta na fabricação de centenas de milhões de doses. A informação é do diário americano New York Times.

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Controlado por uma pequena e bilionária família indiana, o Serum trabalha atualmente com a vacina desenvolvida por cientistas de Oxford -- que está em testes inclusive no Brasil. Se bem sucedida, a empreitada deve dar destaque a Adar Poonawalla, diretor executivo do instituto e herdeiro único do fundador da organização: ele terá, em mãos e antes de todos, o antídoto para a crise global.

O Serum foi uma das primeiras companhias a anunciar, em abril, a produção em massa de vacinas antes mesmo da conclusão dos ensaios clínicos — ou seja, sem ter conhecimento da eficácia das doses. A capacidade de produção é de 500 unidades por minuto.

Hoje, Poonawalla é constantemente acionado por autoridades de diversos países, que disputam ferozmente pelos primeiros lotes. Mas afirmou ao New York Times que pretende distribuir metade de sua produção à Índia, e metade para o resto do mundo, com prioridade para países pobres.

A velocidade de desenvolvimento das vacinas depende das enormes linhas de montagem do Serum. Anualmente, o instituto produz 1,5 bilhão de doses de outras vacinas. Estima-se que metade das crianças do mundo tenham sido vacinadas com a produção do Serum.

A Índia é o terceiro país mais atingido pelo novo coronavírus em números absolutos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e do Brasil. Em seu histórico na pandemia, o primeiro-ministro Narendra Modi, conhecido por ter perfil nacionalista, já baniu a exportação de drogas que poderiam auxiliar no tratamento da covid-19.

A empreitada do Serum coloca a Índia como potencial líder de uma corrida global pela distribuição de vacinas. Semana passada a Rússia anunciou que já está inoculando militares e profissionais de saúde com uma vacina ainda em desenvolvimento. Os Estados Unidos, por sua vez, anunciaram o investimento de mais 2,1 bilhões de dólares para reservar um lote de até 600 milhões de vacinas das farmacêuticas Sanofi e GlaxoSmithKline.

Ao menos três linhas de pesquisa estão na fase final de testes, com potencial de chegar ao mercado ainda este ano -- da chinesa Sinovac, de Oxford em parceria com a AstraZeneca, e da americana Moderna. Em entrevista a Exame semana passada, Ricardo Hausmann, professor da Universidade Harvard, afirmou que a maior discussão deste momento deveria ser como as vacinas serão fabricadas e distribuídas.

“Esses contratos deveriam estar sendo escritos agora, por governos em conjunto com as empresas, e sob coordenação da Organização Mundial de Saúde", afirmou. Na falta de uma coordenação, a família Poonawalla assumiu o risco e se adiantou. Se der certo, todos sairão ganhando -- a começar pelos indianos.

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