Coreia do Sul e Norte iniciam conversas em zona fronteiriça
Encontro ocorre na localidade fronteiriça de Panmunjom, situada na zona desmilitarizada que divide a península
AFP
Publicado em 9 de janeiro de 2018 às 06h40.
Seul - Coreia do Norte e Coreia do Sul iniciaram nesta terça-feira suas primeiras conversações em mais de dois anos, informou o ministério sul-coreano da Unificação.
O encontro ocorre na localidade fronteiriça de Panmunjom, situada na zona desmilitarizada que divide a península, e começou às 10H00 local (23H00 Brasília de segunda), com uma declaração do líder da delegação de Seul.
A delegação sul-coreana chegou em comboio a Panmunjom, o mesmo local onde se firmou o cessar-fogo da guerra da Coreia (1950-1953).
Em um dos postos de controle que levam à zona desmilitarizada, um grupo de manifestantes exibiu um cartaz desejando sorte aos negociadores.
Pouco antes do início da reunião, o ministro da Unificação, Cho Myung-Gyun, afirmou que as duas partes se concentrarão na participação do Norte nos Jogos de Inverno de Pyeongchang, mas que a agenda prevê outros temas.
"Hoje abordaremos a participação da Coreia do Norte nas Olimpíadas e Paraolimpíadas de Pyeongchang, e também a questão da melhoria das relações intercoreanas", disse Cho, que lidera a delegação sul-coreana.
A Coreia do Sul também tentará discutir sobre a retomada dos reencontros das famílias separadas nas conversações intercoreanas desta semana.
"Nós nos prepararemos para conversar sobre a questão das famílias separadas e sobre a forma de reduzir as tensões militares", afirmou à imprensa o ministro Cho Myoung-Gyon.
A participação dos norte-coreanos nos Jogos, que acontecem de 9 a 25 de fevereiro, depende ainda da avaliação do Comitê Olímpico Internacional (COI).
O presidente do COI, Thomas Bach, e o membro norte-coreano da organização, Chang Ung, participam da conversa.
Uma das questões é sobre a apresentação dos atletas nas cerimônias de abertura e encerramento: se aparecerão unidos, como nas Olimpíadas de Sidney-2000 e Atenas-2004, e nos Jogos de Inverno de Turim-2006.
Também há a questão da composição da delegação norte-coreana e de onde ficará hospedada.
O grupo poderá ficar em um navio de cruzeiro em Sokcho, a uma hora de estrada das instalações olímpicas, o que permitiria vigiar e controlar de perto seus movimentos.
Com apenas um punhado de atletas classificados para os esportes de inverno, os analistas acreditam que Pyongyang enviará um exército de animadoras aos Jogos para atrair a atenção.
A Guerra da Coreia (1950-1953) terminou com um armistício e não com um tratado de paz formal, e, por isso, as duas Coreias continuam tecnicamente em guerra.
A questão das famílias divididas nos dois lados da fronteira é uma das consequências mais delicadas do conflito, que acabou com a divisão da península em 1953.
Cerca de 60.000 sul-coreanos idosos continua esperando para reencontrar seus familiares do lado norte.
A delegação do Norte é liderada por Ri Son-Gwon, chefe do departamento responsável pelos assuntos intercoreanos.
As tensões entre os dois países aumentaram no ano passado, com os testes nucleares e os lançamentos de mísseis da Coreia do Norte, que assegura ser capaz de atingir com um ataque militar todo o território continental dos Estados Unidos.
Esta tentativa de aproximação acontece depois de o líder norte-coreano, Kim Jong-Un, advertir, em seu discurso de Ano Novo, que o botão nuclear estava em sua mesas, ao mesmo tempo em que estendeu a mão ao sugerir que poderia enviar uma delegação aos Jogos de Inverno.
Seul respondeu com uma oferta para negociar, e na semana passada foi restabelecida a linha telefônica intercoreana, depois de quase dois anos inativa.
Também nos últimos dias, os Estados Unidos e a Coreia do Sul concordaram e adiar seus exercícios militares anuais até depois dos Jogos de Inverno, em uma aparente tentativa de acalmar os ânimos.