COP28: Sem texto, negociadores seguem em busca de acordo madrugada adentro
Negociadores passarão a madrugada na busca de um acordo para poder votar um documento final
Editor de Macroeconomia
Publicado em 12 de dezembro de 2023 às 16h15.
Última atualização em 12 de dezembro de 2023 às 16h19.
O último dia oficial da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP28) chega ao fim. Mas as negociações entre as delegações dos países seguirão na noite desta terça-feira, 12, e na madrugada de quarta-feira, 13, em busca de um acordo para o encontro climático. Até o fechamento dessa reportagem, a projeção é de que haja uma sessão plenária na manhã de quarta-feira.
Membros da delegação brasileira disseram à EXAME estar otimistas sobre as negociações enquanto caminhavam em direção ao pavilhão do Brasil na COP28 entre uma reunião e outra. "Está saindo", disse genericamente um integrante da comitiva em referência ao texto. Existe expectativa de que um novo rascunho do texto final possa ser revelado a partir das 23h dessa segunda-feira.
Ou não. A presidência da COP28 emitiu nota aos jornalistas há pouco dizendo que as consultas entre as partes seguirão até as 3 da manhã, o que desencoraja essa perspectiva de um texto ainda hoje.
"Durante a noite e durante o dia, o presidente da COP28 e seu time estiveram engajados em extensivas consultas com uma ampla representação de grupos de negociação e partes", diz a nota, em referência a Sultan al Jaber, que preside a conferência. "Isso é para garantir que todos sejam ouvidos, e todas as visão sejam consideradas. Ele está determinado a entregar uma versão final do texto que tenha apoio de todas as partes."
Enquanto isso, nos bastidores, as movimentações seguiam até as 22h30 dessa segunda-feira, como EXAME observou.
Em um salão do bloco 1, onde há doze salas para encontros entre os países e observadores, pessoas aguardavam em cadeiras -- algumas até dormiam.
No pavilhão da representação da ONU para as mudanças climáticas, jornalistas e observadores aguardavam uma delegação que entrava para seguir em reuniões, como mostra a foto de abertura desta reportagem.
Dia de espera -- e muita negociação
O último dia da COP28 foi marcado por espera. Diversas entrevistas coletivas de países e blocos foram desmarcadas, a exemplo da União Europeia, do Brasil e do Secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry.
A conferência foi tomada por pessimismo após a divulgação de um rascunho do texto final na segunda-feira, 11, que não citava a eliminação gradual ( phase out, em inglês) do uso de combustíveis fósseis.
Pela manhã, Majid Al Suwaidi, diretor da COP28, afirmou um novo texto está sendo rascunhado e seria entregue hoje.
"Ontem publicamos um texto. Como é sabido, muitas partes sentiram que não endereçava totalmente suas preocupações. Esperávamos isso. Na verdade, queríamos que o texto iniciasse conversas, e isso aconteceu", disse. "O que vimos desde então é que as partes têm visões divididas, especialmente na linguagem em torno dos combustíveis fósseis. O texto que publicamos foi um ponto de partida para discussões."
Um texto ideal -- o que é virtualmente impossível em um acordo multilateral como a da COP -- teria medidas concretas sobre a transição energética, na avaliação Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.
"O texto ideal teria um pacote de energia mesmo, e não um shopping list, que trate explicitamente do phase out ou da transição ou da substituição, uma linguagem que vem do acordo China e EUA [em referência ao acordo de Sunnylands feito em novembro pelos países]. Que tenha desmatamento zero até 2030 -- isso parece garantido por enquanto", diz Unterstell.
O rascunho divulgado pela presidência da COP28 trouxe oito opções de ações para os países sobrea "necessidade de reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa (GHG)".
Segundo ela, é preciso que o documento tratasse da diferenciação do ritmo da transição energética e de quem é a responsabilidade pelo financiamento.
Por fim, em sua análise, seria muito importante a previsão de uma nova proposta -- que vem sendo defendida entre alguns países e membros da sociedade civil em Dubai -- que está sendo chamada de "Roadmap Dubai-Baku-Belém".
Em suma, seria uma iniciativa para manter as negociações em algum nível de forma a permitir que a COP29, na capital do Azerbaijão, cumpra suas metas de mecanismos de financiamento para a transição energética e que se chegue à COP30 com essas questões "digeridas".
Na segunda-feira, 11, a ministra Marina Silva se referiu a um "grupo de trabalho" para ampliar as energias renováveis e diminuir as fósseis. "Temos discutido essa questão, já conversamos sobre ela com alguns países e vamos ver como as coisas podem evoluir”, disse a ministra na ocasião.
"É importante sair essa plataforma, não sabemos como vai se chamar. Pode ter um ambiente produtivo e elevar a liderança. É preciso que tenha liderança", afirmou Unterstell, do Instituto Talanoa.