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A conferência climática COP15 está em crise?

Países ricos, em desenvolvimento e pobres têm até sexta-feira para chegar a um acordo sobre as metas de redução de gases causadores do efeito estufa

Até sexta-feira, último dia de conferência, cerca de 110 líderes mundiais terão passado por Copenhague (.)

Até sexta-feira, último dia de conferência, cerca de 110 líderes mundiais terão passado por Copenhague (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.

Será possível virar uma partida de futebol aos 40 minutos do segundo tempo, quando o adversário está vencendo o jogo por 2 a 0? É mais ou menos esse o desespero que toma conta de Copenhague. A dois dias do final da conferência climática, o novo acordo sobre redução de emissão de gases causadores do efeito estufa parece estar cada vez mais difícil de sair. "As negociações finais serão tensas e intensas", disse hoje o primeiro-ministro dinamarquês Lars Lokke Rasmussen, depois de substituir a presidente da cúpula das Nações Unidas (ONU), Connie Hedegaard.

A troca de presidentes da conferência feita na reta final tem o intuito de dar novo fôlego ao time de negociadores. Até sexta-feira, estima-se que 110 chefes de Estados passem por Copenhague. Cada um ao seu modo, defendendo seus interesses políticos, tentará contribuir com a formulação de um novo acordo. Desde semana passada, representantes de todos os cantos do mundo promovem diversas discussões sobre possíveis cláusulas que agradem tanto a países ricos como ao G77, composto pelas nações em desenvolvimento e pobres. Mas, até agora, só saíram esboços de protocolos.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse em entrevista ao jornal britânico Financial Times na terça-feira que não será possível chegar a um acordo sobre o financiamento do combate ao aquecimento global. As principais divergências entre os países envolvem as seguintes questões: qual será a meta de redução de emissão de gás carbônico que cada país deve assumir; quanto será destinado à limpeza do meio ambiente; quem irá entrar nessa “vaquinha” (países emergentes?); erá que as nações se submeterão à fiscalização caso assinem o novo protocolo.

Como disse Janos Pasztor, chefe da equipe que presta assessoria ao secretário-geral da ONU, “não se trata apenas de uma negociação climática, mas de algo que tem a ver com a força econômica de cada país”. E mexer com o desenvolvimento megalomaníaco da China é como cutucar um dragão com palito de dente. Não dá certo. Alguém acaba se machucando. Isso significa que qualquer proposta que prejudique o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês não será aceita.

O mesmo vale para os Estados Unidos. Sob a liderança de Todd Stern, o principal enviado da Casa Branca a Copenhague, o governo norte-americano tenta inverter o jogo ao seu favor. O negociador alega que o país nunca se tornou parte do Protocolo de Kyoto, assinado no Japão em 1997. Então, por que agora os Estados Unidos deveriam se vincular a um novo acordo? O presidente Barack Obama, que só participará do último dia da conferência, responde que o principal entrave para ele agir é o Senado, que precisa aprovar qualquer meta de mudança climática.

Para pressionar ainda mais as negociações, a União Europeia anunciou hoje que cortará as suas emissões de gases poluentes em 20% até 2020. Caso outros países sejam ousados na meta global estipulada, a UE garante que poderá se comprometer em reduzir em 30% os gases poluentes emitidos no Velho Continente.

Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu hoje com a sua comitiva para decidir o que será discutido ao longo da conferência. Segundo fontes ligadas ao governo brasileiro, Lula insistirá na importância de os países em desenvolvimento serem incluídos no pacote destinado ao financiamento da redução de gases causadores do efeito estufa. A prioridade do Brasil é sair de Copenhague com as mesmas metas anunciadas antes da cúpula da ONU e com o bolso cheio de recursos das nações ricas para a preservação ambiental do país.

Como em uma partida de futebol em que tudo pode acontecer até o apito final, a conferência climática de Copenhague aguarda com expectativa esses dois últimos dias decisivos de negociações. Até sexta-feira o mundo poderá assistir à maior virada histórica de todas as cúpulas da ONU. Ou talvez a uma das maiores derrotas.

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