Comunismo, arma nuclear, excrementos e lei marcial: a guerra sem fim entre Coreia do Sul e do Norte
Entenda as origens do conflito que começou após a Segunda Guerra Mundial e teve envolvimento dos EUA
Repórter de macroeconomia
Publicado em 3 de dezembro de 2024 às 13h16.
Última atualização em 3 de dezembro de 2024 às 13h53.
As Coreias do Sul e do Norte vivem uma espécie de guerra fria há décadas. Um cessar-fogo foi assinado em 1953, mas um acordo de paz, para colocar fim ao conflito, nunca foi assinado. Assim, a guerra nunca foi encerrada oficialmente.
Nesta terça-feira, 3, a disputa escalou de forma dramática quando o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarou lei marcial após acusar a oposição de um conluio com a Coreia do Norte.
Nos últimos anos, o confronto teve cenas curiosas, como o envio de balões com excrementos para a Coreia do Sul, feitos pela Coreia do Norte. No sentido contrário, a Coreia do Sul diversas vezes enviou panfletos para a região perto do vizinho do norte.
A península da Coreia foi unificada por séculos. Em 1910, o Japão invadiu o país e o ocupou até 1945, quando perdeu a Segunda Guerra Mundial. A Coreia foi então dividida em dois blocos, separados pelo paralelo 38. Ao norte, havia controle feito pela União Soviética. Ao sul, pelos Estados Unidos.
No norte, foi estabelecido um governo de orientação comunista, enquanto no sul, o governo era capitalista. Assim, a possibilidade de reunificar as Coreias foi ficando mais distante. Em 1948, foi criada a Coreia do Sul.
No entanto, em 1950, a Coreia do Norte, sob comando de Kim Il-Sung, decidiu invadir o Sul, com apoio da União Soviética e da China. Do outro lado, os Estados Unidos enviaram soldados para defender o Sul. O conflito se estendeu por três anos: as forças do Sul conseguiram recuperar território e invadiram o Norte, mas os comunistas tiveram mais apoio da China e expulsaram as forças americanas para abaixo do paralelo 38.
Em 1953, um cessar-fogo definiu a divisão atual, com uma zona desmilitarizada entre os dois países, que se mantém até hoje.
Crise na Coreia do Sul
Comunismo e capitalismo
Nas décadas seguintes, Kim Il-Sung se tornou ditador da Coreia do Norte, e foi sucedido por familiares, como Kim Jong-il, seu filho, que assumiu o poder em 1994, e o atual líder, Kim Jong-un, no cargo desde 2011.
A Coreia do Norte se manteve comunista, mas se tornou um dos países mais pobres do mundo. Mesmo com poucos recursos, o país conseguiu obter armas nucleares. Com frequência, os norte-coreanos fazem testes com mísseis para demonstrar poder.
Ao mesmo tempo, a Coreia do Sul se manteve capitalista e se tornou um dos países mais prósperos da Ásia, ao investir fortemente em educação e inovação. Fabricantes de eletrônicos, como LG e Samsung, se espalharam pelo mundo, assim como a fabricante de carros Hyundai.
A Coreia do Sul não possui armas nucleares, mas tem acordos de defesa com os Estados Unidos, que se comprometeram a defender o país em caso de ataque.
Lei marcial na Coreia do Sul
Nesta terça, 3, o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, decretou uma lei marcial de emergência que pode abrir caminho para um golpe de Estado. Pela lei marcial, as atividades do Parlamento são suspensas por tempo indeterminado. Parlamentares tiveram acesso barrado à sede da Assembleia Nacional após o anúncio do presidente.
O chefe do Executivo sul-coreano anunciou as medidas nesta terça-feira, 3, durante um pronunciamento de TV que não estava previsto. Ele disse que a medida foi necessária para "erradicar as forças pró-norte-coreanas e proteger a ordem democrática constitucional". A oposição disse que a lei marcial é uma tentativa de golpe de Estado e convocou uma reunião de emergência. A situação está em andamento. Acompanhe aqui.