Com paralisação, 800 mil funcionários não receberam salários nos EUA
A um dia de se tornar a maior paralisação da história dos EUA, Trump ainda não conseguiu os 5,7 bilhões de dólares para cumprir sua promessa de campanha
AFP
Publicado em 11 de janeiro de 2019 às 16h22.
Os cerca de 800.000 funcionários federais americanos afetados pelo fechamento do governo não receberão seus salários pela primeira vez nesta sexta-feira (11), enquanto o presidente Donald Trump ameaça recorrer a um procedimento excepcional para financiar seu projeto de erguer um muro na fronteira com o México.
No 21º dia de "shutdown", que afeta parte das administrações, não parece haver avanços nas negociações entre Trump - que quer destinar 5,7 bilhões de dólares para cumprir sua promessa de campanha - e a oposição democrata no Congresso - que se nega a liberar esses fundos para financiar uma obra que considera "imoral", cara e ineficaz para combater a imigração ilegal.
Se antes da meia-noite desta sexta não houver acordo, o este "shutdown" será o mais longo da História, superando os 21 dias de outra paralisação orçamentária ocorrida entre 1995 e 1996 durante o mandato de Bill Clinton.
Enquanto isso, cerca de 800.000 funcionários públicos de vários departamentos e agências federais não receberam o seu salário nesta sexta-feira. A maioria deles recebe a cada quinzena e, por isso, o pagamento foi feito no final de dezembro.
Para metade dos funcionários, considerados "não essenciais", foi dada uma licença sem salário, enquanto a outra metade se retirou temporariamente.
O "shutdown" atinge vários deparamentos fundamentais, como os de Segurança Nacional (DHS), Justiça e Transporte. "Mais de 200.000 funcionários do DHS - encarregados de proteger o nosso espaço aéreo, nossas vias fluviais e nossas fronteiras - não receberão o seu salário enquanto trabalham", denunciou Bennie Thompson, presidente democrata da Comissão para a Segurança Nacional da Câmara de Representantes.
Os principais sindicatos do transporte aéreo, entre eles os de pilotos, tripulação e controladores aéreos, denunciaram na quinta-feira que a situação está piorando, e advertiram sobre o risco que isso supõe para a segurança do país.
Cerca de 2.000 funcionários se manifestaram na quinta-feira em Washington para mostrar a sua inquietação pela deterioração de suas condições de vida.
"Feitos reféns"
"Temos contas a pagar. Temos que pagar nossas hipotecas", se queixou à AFP Anthony, um funcionário público da Guarda Costeira.
"Sempre tive o salário mais alto em casa e os tempos são difíceis agora que o dinheiro não chega. Felizmente temos algumas economias para sobreviver, mas não durarão muito", explicou. Nós, funcionários, fomos "feitos reféns" pelo presidente, acrescentou.
Ao longo do país são organizadas iniciativas privas e públicas, como distribuição gratuita de comida e feiras de emprego para funcionários tecnicamente desempregados.
O "shutdown" afeta também os recém-casados, que não podem legalizar a sua união pela falta de funcionários federais.
Diante de um panorama nada encantador no Congresso, Trump ameaçou recorrer a um procedimento de "emergência nacional". "Se não chegarmos a um acordo, o mais provável é que eu faça o que disse que faria", afirmou na quinta-feira ao canal Fox News, à margem de uma visita à colônia McAllen, na fronteira com o México.
"Temos o direito absoluto de declarar uma emergência nacional, é um problema de segurança", argumentou o bilionário republicano.
Mas este mecanismo que concede ao presidente poderes extraordinários acabaria, previsivelmente, nos tribunais, uma situação que agravaria ainda mais a crise política.
A Casa Branca planeja desviar os fundos de ajuda de emergência para áreas devastadas por desastres naturais, como Porto Rico, para financiar a construção do muro fronteiriço, segundo publicações da mídia americana.
Uma paralisação prolongada do governo federal "teria um efeito considerável" na maior economia do mundo, advertiu o chefe do Federel Reserve (Fed), Jerome Powell.