Com 1,3 bi de habitantes, a Índia será o novo epicentro do coronavírus?
Em lockdown há semanas, a Índia parecia ter o coronavírus sob controle. Nessa semana, contudo, registrou recorde de novos casos e estendeu as restrições
Gabriela Ruic
Publicado em 19 de maio de 2020 às 16h40.
Última atualização em 19 de maio de 2020 às 21h02.
A Índia é um país acostumado com o gigantismo. É dono do maior processo eleitoral do mundo, bem como da segunda maior população. Em tempos de pandemia do novo coronavírus, tem, ainda, o maior confinamento em andamento no planeta hoje. Em vigor desde o final de março, o lockdown na Índia restringiu a locomoção de 1,3 bilhão de pessoas.
Até o momento, a Índia registra 102.335 casos confirmados da covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, e 3.212 mortes. Esse último número, vale notar, é menor do que o observado em países com populações tão numerosas quanto a Índia, como China ou Estados Unidos.
Há alguns dias, no entanto, o país passou a registrar, em média, cinco mil novos casos por dia. No último dia 17 de maio, veio recorde de novos casos em 24 horas, 5.242, e que trouxe à tona a inevitável pergunta: a Índia está caminhando para se tornar o novo epicentro do coronavírus no mundo?
Assim como em Singapura, que viu a sua estratégia de contenção da epidemia se abalar com a propagação veloz da doença entre trabalhadores estrangeiros, há sinais de que a alta nos casos na Índia também esteja relacionada com a movimentação da força de trabalho.
De acordo com a revista Time, os estados que estão contribuindo para essa alta são justamente os estados que mais contribuem para a massa de trabalhadores nas grandes cidades e em outros países. Com as restrições e o desemprego, essas pessoas retornaram aos seus locais de origem na zona rural, trazendo consigo o vírus e contribuindo para um reforço nas transmissões locais.
A situação no país, agora, é delicada. As medidas de lockdown foram decretadas há quase dois meses, em 25 de março, e a expectativa era a de que terminasse nesta semana. As notícias recentes, contudo, fizeram com que o governo indiano estendesse o confinamento até o final deste mês.
Apesar dos números preocupantes, a Índia está se preparando para uma gradual retomada, focando em minimizar os impactos econômicos das medidas restritivas: o transporte público está voltando a funcionar, estabelecimentos comerciais autorizados a reabrir (com exceção de shoppings centers e outros centros comerciais que possam criar aglomerações).
Até pouco tempo, especialistas debatiam o que, afinal, estava por trás dos bons números em solo indiano quando comparado com outros países e acreditava-se que a Índia havia achatado a curva epidêmica poucas semanas depois do início do lockdown. Agora, o governo corre contra o relógio para evitar que esse gigantesco país se transforme no próximo epicentro da doença.