Colapso de ponte expõe polêmica sobre estado da infraestrutura na Itália
O governo italiano, que realizou nesta quarta-feira uma reunião de emergência em Gênova, decretou estado de emergência na cidade por 12 meses
AFP
Publicado em 15 de agosto de 2018 às 15h38.
O desabamento de uma ponte central na autoestrada de Gênova, que deixou quase 40 mortos, deflagrou uma polêmica sobre o estado da infraestrutura na Itália, um país castigado por "tragédias anunciadas".
O governo italiano, que realizou nesta quarta-feira (15) uma reunião de emergência em Gênova, decretou estado de emergência em Gênova por 12 meses.
A decisão foi anunciada pelo primeiro-ministro italiano , Giuseppe Conte, ao término de um conselho de ministros no qual também decidiram criar um fundo de cinco milhões de euros para a cidade.
Além disso, acusou a empresa Autoestrade - a concessionária das autoestradas, com 30% de seu capital acionário nas mãos da família Benetton - de ter adiado os controles e a manutenção do viaduto.
"Uma companhia que ganha milhões em pedágio deve explicar aos italianos porque não fez todo o possível para investir boa parte desse lucro em segurança", declarou indignado à emissora Rádio 24 o ministro do Interior, Matteo Salvini.
Em resposta às acusações do governo, a empresa divulgou um comunicado com os elevados investimentos (1 bilhão de euros) para a segurança das autoestradas italianas, colocando-as entre as mais seguras da Europa.
Segundo o jornal "La Stampa", a empresa decidiu adiar para depois da temporada de férias as obras para reforçar a viga da ponte, o que, segundo especialistas, causou o desabamento do gigantesco viaduto.
"Tratava-se de uma obra delicada, complexa e invasiva, que tinha de iniciar depois das férias de verão de agosto. Os cálculos falharam e, ao que parece, não haviam sido instalados os aparelhos para monitorar o suporte da ponte", escreveu o jornal.
Cerca de 200 metros da ponte Morandi, que tem 1.182 metros de extensão e uma altura de 90 metros, vieram abaixo e sepultaram vários veículos sob escombros e blocos de concreto.
"Que não me venham dizer que foi uma fatalidade", comentou indignado o célebre arquiteto genovês Renzo Piano.
"Espero que esse desabamento nos ponha para pensar e nos obrigue a abandonar a mentalidade de que 'para mim, se faz assim'. Essa ponte era controlada, não era um problema de manutenção. É que era usada de forma inverossímil. Tem que usar mais a água e as ferrovias para unir o Oeste com o Leste", disse o arquiteto, em uma entrevista ao jornal "La Repubblica".
O jornal alega que mais de 300 pontes e túneis da península apresentam problemas por deficiências de seus materiais, excesso de uso, ou falta de manutenção.
"Um percentual baixo em relação às 45.000 infraestruturas existentes entre pontes, viadutos e túneis", reconhece o jornal.
O viaduto de Gênova é a quinta ponte que colapsa na Itália em cinco anos.
Duas pontes desabaram na Sicília em 2014, uma delas um dia depois da inauguração, e outras duas na Lombardia e em Las Marcas em 2017, onde morreram três pessoas.
"Um sinal preocupante", afirma Antonio Occhiuzzi, especialista do Instituto para a Tecnologia da Construção do Centro Nacional de Pesquisas (CNR).
Outra ponte que gera preocupação é a ponte de Agrigento, na Sicília, concebida pelo engenheiro Riccardo Morandi, o mesmo que projetou a de Gênova, fechada para o tráfego desde o início de 2017 por razões de segurança.
Em Roma, os especialistas temem pela ponte da Magliana, sobre o rio Tíber, por onde cerca de 20 milhões de veículos circulam a cada ano.
Segundo Occhuizzi, para evitar novas tragédias, são necessários "milhões de euros", um plano de investimentos que divide o governo populista formado pelo movimento antissistema Cinco Estrelas e a ultradireitista Liga, os quais se debatem entre frear as grandes obras, usar fundos públicos, ou escolher um novo modelo de desenvolvimento.