Minoria uigur está no centro do debate sobre casos de coronavírus na China
Dos 68 novos contágios na China nesta terça-feira, a maior parte é em região onde vive a minoria uigur. A China não registra uma morte desde maio
Carolina Riveira
Publicado em 28 de julho de 2020 às 11h17.
Última atualização em 28 de julho de 2020 às 11h38.
A China divulgou na manhã desta terça-feira, 28, que registrou o maior número de casos de coronavírus no mesmo dia desde abril. Foram 68 contágios nas 24 horas anteriores ao boletim desta madrugada.
Um dos focos nesta pequena nova onda de contágios é uma região chamada de Xinjiang. Dos 68 novos casos hoje, 57 foram na região, que também vem respondendo pela maior parte dos casos nos outros dias.
Uma parte significativa da população na província é da chamada minoria uigur, que pratica a religião muçulmana, ao contrário do restante da China, e falam idioma semelhante ao turco.
Os novos casos chineses ainda são pouco perto dos mais de 20.000 casos diários registrados atualmente em países como Brasil e Estados Unidos, que estão no auge do contágio em alguma de suas regiões.
Mas as dezenas de novos casos na China foram o suficiente para ligar um alerta no país. Os números desta terça-feira são a quarta alta diária consecutiva. Na segunda-feira, 27, a China já havia batido recorde de novos casos desde abril, com 61 novos registros.
Ao todo, a China tem mais de 86.800 casos e mais de 4.600 mortes por coronavírus. O Brasil registra mais de 2,4 milhões de casos e mais de 87.000 mortes por covid-19.
O novo "epicentro chinês" do coronavírus
Xinjiang é uma região semi-desértica que faz fronteira com países como Índia, Rússia e o Tibet. Cerca de 25 milhões de pessoas vivem na província.
A principal concentração de casos de coronavírus está na capital, Urumqi, onde vivem mais de 3 milhões de habitantes. O aumento de casos na região fez alguns bairros serem isolados, com paralisação do metrô e redução de voos.
Antes do coronavírus, Xinjiang e a população uigur também viraram centro de debate na última década em meio a denúncias de abuso de poder chinês e uso de mão de obra uigur para trabalho em situação análoga à escravidão em campos de concentração modernos.
Parte dos trabalhadores estariam ainda sendo transferidos para fábricas em toda a China em situações de servidão, incluindo plantas de grandes marcas como Apple e Nike.
Na semana passada, um movimento de ativistas lançou um manifesto pedindo que empresas do Ocidente cortem laços com a exploração da minoria uigur. Ativistas também vêm manifestando preocupação sobre os impactos do coronavírus sobre essas minorias.
O governo dos Estados Unidos impôs neste mês sanções a oficiais chineses pela situação com os uigures. O governo chinês afirma que a população pobre da região é levada a centros de formação profissional.
A pandemia pode voltar com força à China?
O crescimento gradual dos contágios faz o país temer uma segunda onda do coronavírus, que poderia levar a novas quarentenas em massa na China e desacelerar a retomada da economia chinesa.
Desde o fim de março, a China vem conseguindo segurar o contágio no país usando estratégias de testagem em massa da população e ampla adesão ao uso de máscaras.
Alguns novos surtos do vírus, ainda que pequenos, vêm fazendo o governo ocasionalmente voltar a restringir a circulação de pessoas. Em julho, um pequeno novo surto em Pequim foi suficiente para fazer parte da quarentena voltar na cidade. O avanço, por ora, parece ter sido controlado na capital, e só dois novos casos foram registrados nesta terça-feira.
No caso deste novo surto das últimas semanas, investigações começam a concluir que o início veio da cidade portuária de Dalian, na província de Liaoning.
A suspeita é que alguns casos tenham vindo de fora do país pelo porto e infectado cidadãos locais, que depois teriam viajado para outras partes da China e espalhado o vírus novamente.