China fecha fábricas poluidoras antes de conferência do clima
Governo ordenou o fechamento até setembro de 2.087 indústrias e ordenou que diversas outras diminuam o consumo de energia
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
Pequim - A China, segunda economia mundial e primeiro emissor global de gases de efeito estufa, determinou o fechamento de milhares de fábricas poluidoras, antes de sediar, em outubro próximo, uma conferência preparatória da Cúpula do Clima de Cancún.
As autoridades chinesas querem mostrar-se responsáveis, embora continuem argumentando que o gigante asiático emite menos gases estufa por habitante do que os países desenvolvidos.
O fechamento brutal de fábricas é "um gesto para mostrar que o país faz tudo o possível para alcançar seus objetivos", disse à Andy Xie, economista independente radicado em Xangai.
"Os dirigentes precisam salvar a pele", acrescentou Andy Xie.
Nas últimas semanas, o governo determinou o fechamento, até setembro, de 2.087 siderúrgicas, cimenteiras, fábricas de alumínio e vidro, sob pena de ter interrompido o fornecimento de energia elétrica e seus proprietários fiquem privados do acesso ao crédito.
As autoridades já aplicaram sanções na província de Anhui (leste, perto de Xangai), onde mais de 500 fábricas que não reduziram suas emissões o suficiente viram interrompido por um mês o abastecimento de eletricidade, noticiou a imprensa.
Uma dúzia recebeu ordem para fechar definitivamente, enquanto outras deverão reduzir sua capacidade de produção, destacou a mídia chinesa.
As províncias vizinhas também tomaram medidas com o mesmo objetivo.
Em Nanquin, capital de Jiangsu, 1.000 empresas viram o governo impôr um teto para seu consumo elétrico e um número não determinado de usinas teve que suspender sua produção.
Na província vizinha de Zhejiang, 69 empresas da cidade de Jinhua são submetidas, desde julho até setembro, a um racionamento de energia, e em Shaoxing, 200 companhias vivem a mesma situação, embora a condição ali se estenda até o fim do ano.
Em julho, Pequim anunciou o fim das tarifas preferenciais de eletricidade às indústrias grandes consumidoras de eletricidade, que reduziram suas contas em um valor estimado em 15 bilhões de iuanes (1,7 bilhão de euros).
O governo chinês tenta, com estas medidas, "esverdear" sua imagem "verde" depois de ter se comprometido, durante a Cúpula do Clima em Copenhague, a reduzir em 45% sua intensidade de carbono, ou seja, suas emissões de CO2 por unidade do PIB até 2020, com relação aos níveis de 2005.
Para alcançar este objetivo, o país investirá 738 bilhões de dólares na próxima década para produzir 15% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis, sobretudo de origem hídrica e eólica.
No fim de 2009, a China reduziu sua intensidade energética em 14%, mas durante o primeiro semestre deste ano, voltou a aumentar levemente (0,09%). Este foi o primeiro aumento desde 2006.
Pequim sediará, em outubro, uma conferência climática preparatória para a Cúpula da ONU, em Cancún (México), prevista para o fim do ano e destinada a alcançar um acordo que substitua o protocolo de Kyoto, que expira em 2012.
Neste contexto, se a China se distanciar de seu objetivo de redução para 2010, "sua credibilidade com relação aos compromissos sobre as mudanças climáticas ficará comprometida em nível internacional", disse Damien Ma, da Eurasia Group, empresa de consultores estabelecida em Nova York.
As tentativas precedentes de fechamento das fábricas poluidoras terminaram, com frequência, em fracasso, já que novas fábricas abriam no mesmo local onde outras fechavam. Mas o governo parece encarar o tema com mais seriedade desta vez, adverntindo à dirigência local que não teria promoções se não alcançarem seus objetivos de redução de emissões, disse Ma.
Para Yang Ailun, responsável do Greenpeace China, o fechamento de fábricas parece uma medida enganosa, uma vez que os problemas de poluição na China não param de se agravar nas três últimas décadas de crescimento econômico.
"Estas fábricas devem fechar, mas seria mais conveniente para o governo tomar medidas de longo prazo agindo sobre os preços (da energia)", disse a militante ecologista.
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