Chefe da Força de Paz diz que não há mais possibilidade de ditadura no Haiti
O país caribenho está diante de um vazio político, marcado por conflitos em seu processo eleitoral
Da Redação
Publicado em 18 de janeiro de 2011 às 05h55.
Porto Príncipe - O comandante militar da Força de Paz no Haiti (Minustah), general Luiz Guilherme Paul Cruz, descartou qualquer possibilidade de que o país caribenho volte a ser vítima de um regime político ditatorial, mesmo diante da perspectiva de vazio político, conflito no processo eleitoral e com a recente volta do ex-ditador Jean-Claude Duvalier - Baby Doc - ao país.
Para o general, a presença de forças internacionais no Haiti é suficiente para conter qualquer tentativa de golpe. “Hoje existe uma força militar no Haiti. Não há possibilidade de nenhum grupo conquistar poder ou ameaçar o Estado em função do uso indiscriminado de violência”, disse o comandante.
“Eu não vejo a possibilidade de que aqui no Haiti se instale qualquer tipo de ditadura. O esforço da comunidade internacional, o mandato que as Nações Unidas nos dá é para que facilite ao governo viver de acordo com as leis haitianas. Qualquer coisa que seja fora das leis haitianas, eu creio que será veementemente condenado pela comunidade internacional”, destacou.
Cruz evitou emitir opinião sobre os possíveis objetivos de Baby Doc com sua volta ao Haiti após 25 anos de exílio na França e justamente nesse período eleitoral. O chefe da Minustah preferiu referir-se ao ex-ditador como “mais um ator” no já conturbado processo político do país. “Ele é mais um ator dessa equação. É claro que todos os atores envolvidos estão movimentando suas peças. Cada um dos grupos vai movimentar-se para conseguir os seus objetivos”, comentou.
“Pelo visto, ele [Baby Doc] chegou ao Haiti com um passaporte do país. As autoridades estão avaliando sua presença”, disse o general. Ele confirmou que a Minustah foi informada com antecedência da chegada do ex-ditador.
“A Minustah foi informada por meio do representante especial do secretário-geral das Nações Unidas, Edmond Mollet. Ele foi informado que o Baby Doc viria ao Haiti”, afirmou. “Ficou aí a nossa participação. Não o escoltamos, não tomamos nenhum tipo de providência em relação à presença de Baby Doc no Haiti”, ressalvou.
Baby Doc chegou à capital, Porto Príncipe, no último domingo (16) e foi recebido por centenas de simpatizantes. Ao chegar, disse que queria “ajudar na reconstrução do país” após o terremoto do ano passado, que deixou cerca de 300 mil mortos. No entanto, a volta de Baby Doc preocupa, porque ocorre em um momento de tensão política, devido à suspeita de fraude no primeiro turno das eleições presidenciais e indefinições em relação à realização do segundo turno. O mistério sobre seus reais objetivos continua intrigando os haitianos.
Ontem (17), o ex-ditador cancelou uma entrevista coletiva que daria na parte da tarde para falar sobre sua volta ao país.
Em 1971, Baby Doc herdou o poder de seu pai, o também ditador François Duvalier, conhecido como Papa Doc. Ele enfrentou uma insurreição popular em 1986 e partiu para a França com a família.
A Anistia Internacional pediu às autoridades do Haiti que processem judicialmente Baby Doc por crimes contra a humanidade. O atual presidente, René Préval, já disse anteriormente que o ex-ditador seria preso caso voltasse ao país.