Cessar-fogo em Gaza deve durar pouco, avalia Eurasia; entenda por quê
Israel e Hamas fecharam acordo nesta quarta-feira para pausar guerra que já dura 15 meses
Repórter de macroeconomia
Publicado em 15 de janeiro de 2025 às 18h27.
O cessar-fogo entreIsraeleHamas, anunciado nesta quarta-feira, 15, durará inicialmente 42 dias. Para a consultoria Eurasia, o acerto não deverá se manter por muito mais tempo que isso.
"A pressão dos EUA provavelmente manterá o acordo durante a primeira fase, enquanto Israel trabalhará para libertar todos os reféns restantes. No entanto, a preferência de Israel será retomar as hostilidades para reduzir ainda mais a presença do Hamas em Gaza. Sem progressos substanciais no estabelecimento de um quadro para governar Gaza sem o Hamas, o que é improvável, os combates provavelmente serão retomados após o período inicial de 42 dias", diz uma análise do departamento de Oriente Médio e norte da África da Eurasia.
Neste cenário, o premiê israelense Benjamim Netanyahu poderia argumentar que o Hamas segue representando um perigo e que as hostilidades poderiam ser retomadas após o resgate dos reféns.
O Hamas mantém cerca de cem estrangeiros sequestrados. O acordo de cessar-fogo prevê que 33 deles sejam libertados na primeira fase do acordo, e os demais seriam soltos na fase seguinte, mediante o cumprimento de metas dos dois lados.
A consultoria avalia que os Estados Unidos, sob o governo de Donald Trump, tamtém terão menos interesse em lutar pela manutenção do acordo. "A retomada das operações ofensivas de Israel após o período inicial de 42 dias provavelmente não enfrentará muita resistência dos EUA, se os reféns que são cidadãos americanos já tiverem sido libertados, já que Trump terá conquistado sua 'vitória'", diz a Eurasia.
Sobre o impacto regional, a Eurasia avalia que o cessar-fogo em Gaza pode levar os Houthis no Iêmen a limitar seus ataques a Israel e sua tentativa de bloqueio no Mar Vermelho. No entanto, consiera improvável que cessem completamente suas atividades enquanto o exército israelense permanecer em Gaza, "pois eles têm motivações próprias de política doméstica, econômica e externa para manter as hostilidades com Israel".
Entenda a guerra entre Israel e Hamas
Desde sua fundação, em 1948, Israel é criticado por ter se estabelecido em parte sobre terras onde palestinos viviam. Todos os vizinhos apoiam a causa palestina e poucos reconhecem Israel como um Estado (veja mapa abaixo). Nos últimos anos, no entanto, isso vinha mudando.
Em 2020, foram assinados os Acordos de Abraão, com Israel, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos. Os tratados criaram parcerias, como abertura comercial e criação de voos diretos. Assim, turistas israelenses foram a Dubai, e os negócios entre Israel e os Emirados atingiram 500 milhões de dólares em 2023.
O ataque do Hamas, em 7 de outubro de 2023, freou esse processo. Naquele dia, terroristas invadiram Israel e mataram pelo menos 1.195 pessoas e sequestraram mais de 200, segundo o governo israelense. O Hamas disse que atacou em resposta a pressões de Israel, a quem acusa de sufocar a economia de Gaza e de seguir criando assentamentos em áreas em disputa.
Um dia após o ataque, Israel invadiu Gaza. De forma dura. O governo local, controlado pelo Hamas, diz que mais de 41.000 palestinos foram mortos e 95.000 ficaram feridos desde o início da operação.
Além disso, centenas de milhares de pessoas tiveram de deixar suas casas. Isso aumentou a pressão sobre Israel, especialmente do Irã. O país encabeça o “eixo da resistência”, que inclui grupos como Hamas e Hezbollah, rebeldes houthis no Iêmen e milícias que apoiavam o governo deposto de Bashar al-Assad, na Síria.
Imagens da guerra em Gaza
A história da faixa de Gaza
A Faixa de Gaza tem este nome por ser, literalmente, uma faixa no mapa: tem 11 quilômetros de largura e 40 quilômetros de extensão e ocupa área de 360 km², equivalente a um quarto da cidade de São Paulo
A população de Gaza era estimada em 2,1 milhões de pessoas antes do conflito, segundo dados do CIA World Factbook, sendo que 98% são muçulmanos. A região tem muitos jovens: a idade média da população é de 18 anos, e quase 40% dos moradores tem até 14 anos.
Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel retomou a Faixa de Gaza do Egito, e ocupou a região militarmente até os anos 1990, quando iniciou uma transição de governo da região para a Autoridade Palestina. A retirada completa de tropas israelenses só foi concluída em 2005. Israel manteve forte controle das fronteiras, para impedir que palestinos acessem livremente seu território.
No entanto, em 2007, o grupo Hamas passou a controlar o governo na Faixa de Gaza, após ser bem votado nas eleições palestinas. Isso fez com que Israel, Estados Unidos e Europa adotassem sanções contra Gaza. O governo israelense, Israel adotou medidas duras contra a região como impedir a importação de combustível.
Nos anos seguintes, houve vários momentos de tensão, com troca de ataques de mísseis, entre Gaza e Israel. Em 2014, houve uma das maiores crises: depois que três adolescentes foram sequestrados, forças israelenses invadiram Gaza, em uma ofensiva que durou 50 dias. Mais de 5.000 locais em Gaza foram atacados. Novos embates ocorreram entre os dois lados nos anos seguintes.
Para entender mais do conflito entre Israel e Hamas:
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