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Brasil está à frente no planejamento de transição energética, diz diretora de agência dos EUA

Enoh Ebong, diretora da USTDA, vê país como lider no uso de energias limpas e se impressionou com nível de detalhe das demandas feitas pelas autoridades daqui

Enoh Ebong, diretora da USTDA (Agência de Desenvolvimento e Comércio dos EUA) (USTDA/Divulgação)
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 16 de setembro de 2023 às 12h00.

Enoh Ebong abriu uma exceção ao Brasil. Diretora da Ustda, a agência do governo americano voltada para comércio e desenvolvimento, ela costuma ficar apenas dois ou três dias em cada país nas viagens a trabalho. No Brasil, vai permanecer uma semana inteira.

Por aqui, Ebong visitou Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Teve encontros com autoridades como a ministra Esther Dweck, da gestão e inovação, com o diretor da Aneel, Sandoval Feitosa, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e autoridades do governo e da prefeitura do Rio de Janeiro.

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Ebong conversou com a EXAME durante sua passagem por São Paulo. Ela anunciou que a Ustda fará viagens técnicas para levar brasileiros para conhecerem tecnologias americanas em energia limpa e ferrovias.

Quais os objetivos de sua visita ao Brasil?

Como diretora da Ustda, estou visitando o Brasil com uma meta em mente. Quero, com base nos nossos 30 anos de parceria com o setor público e privado no Brasil, contribuir para o desenvolvimento de projetos de infraestrutura identificados como prioridades. A Ustda é a agência do governo dos EUA com uma missão dupla de avançar o desenvolvimento de infraestrutura sustentável em países parceiros como o Brasil, e ao mesmo tempo, gerar oportunidades de exportação para os EUA.

A Ustda provê fundos para estudos de viabilidade, assistência técnica e projetos-piloto, que são ferramentas críticas para atrair financiamento e lançar tecnologias inovadoras. Também financiamos parcerias entre o governo e atores privados para apoiar a infraestrutura do Brasil e as metas de desenvolvimento.

Desde nossa criação, em 1992, a Ustda financiou mais de 300 projetos de infraestrutura no Brasil, em setores que incluem energia limpa, transporte, estrutura digital e de saúde. Nosso portfólio atual consiste em atividades desenhadas para ajudar a destravar o financiamento de projetos prioritários de infraestrutura no Brasil.

Qual o peso do Brasil para as ações da Ustda hoje?

O Brasil foi o único país onde vou passar uma semana inteira. Nunca costumo ficar mais do que dois ou três dias na maioria dos países. Reconheço o Brasil como um mercado importante. É um grande país. A trajetória do nosso portfólio aqui demanda que eu passe tempo aqui para ouvir, entender e se conectar com nossos parceiros e para garantir que nosso programa está se desenvolvendo da melhor forma possível.

Neste ano, visitei muitos países, não só na América Latina, mas no Indo-Pacífico, África subsaariana, Oriente Médio, Leste Europeu. O presidente Biden tem sido bem claro que precisamos nos engajar com nossos países parceiros, e você não pode criar parceria estando em Washington o tempo todo, certo? Você tem que ir visitar os parceiros e passar tempo com eles.

Após visitar tantos países, o que viu de pontos positivos no Brasil e de coisas que o país precisa melhorar?

O Brasil está liderando em muitos caminhos. Destaco o imenso uso de energias renováveis, por conta das hidroelétricas, e vocês estão também trazendo solar e vento. É fenomenal. Vocês estão também pensando à frente nas reuniões que tive, incluindo com o Ministério do Planejamento e a Aneel. Há um grande senso de planejamento do que precisa ser feito para melhorar a infraestrutura em benefício das pessoas. Fiquei impressionada pelo nível de detalhes com que as pessoas têm trazido suas prioridades.

O Brasil está à frente em seu senso de planejamento e em entender as prioridades e necessidades. Está sendo muito específico conosco. Em termos do que mais precisa ser feito, há coisas como modernizar as redes de energia. Temos uma série de projetos focados em smart grids, para que as redes possam receber energias de novas fontes renováveis.

Nosso papel é identificar áreas onde a tecnologia pode fazer a diferença, mas não é só trazer a tecnologia. É entender como aplicar e adaptar para necessidades específicas. É trazer a expertise, mas entender que há expertise aqui também. Estamos trabalhando juntos. Não podemos vir aqui e prover expertise em um vácuo. Temos de fazer isso em parceria com a expertise que encontramos aqui no terreno. Esse é o caminho para que os projetos tenham sucesso.

Quais novas iniciativas foram fechadas durante a visita?

Nossas últimas parcerias incluem futuras visitas técnicas nos setores de energia limpa e transporte ferroviário, que levarão dezenas de representantes do setor público e privado para os Estados Unidos. Eles irão se encontrar com financiadores, fornecedores, especialistas em regulação e políticas para aprender mais sobre as últimas tecnologias dos EUA e práticas para apoiar as prioridades do Brasil.

Vamos trabalhar com nossa embaixada e nossos hosts para identificar quem serão os melhores representantes que podem tirar o máximo das viagens, tanto no setor público quanto privado. Estamos próximos do momento em que os representantes serão definidos, mas é um processo no qual queremos ter certeza de que os parceiros poderão se beneficiar da visita.

Tem mais detalhes sobre como as visitas funcionarão na prática e quando serão realizadas?

Não tenho as datas específicas agora. Mas será uma série de três visitas, ao longo do próximo ano, ano e meio, dois no máximo.

Primeiro, haverá uma visita em nossa agência, onde eu receberei os representantes. E então temos uma seleção de agências do governo dos EUA que estão envolvidas em financiamento de infraestrutura e práticas regulatórias, para a troca de informações. Depois teremos visitas às empresas americanas. Eles verão tecnologias com a visão de dentro. Vamos levá-los a diferentes cidades e empresas. Os convidados também terão a oportunidade de fazer apresentações de seus projetos para as empresas e financiadores americanos. Isso dá a oportunidade para fazer conexões, elaborar ideias e talvez desenvolver projetos para algumas delas.

Também achamos importante falar sobre compras públicas, então provavelmente teremos conversas entre os representantes [brasileiros] e especialistas em licitações, para que eles possam entender melhor técnicas como determinação de melhor valor e análise do custo de ciclo de vida.

Por que há prioridade para os setores de energia limpa e trens?

Ambos os presidentes [do Brasil e dos EUA] têm falado sobre a importância do clima e sobre energia limpa. Várias novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para tentar criar soluções para os desafios existentes. Assim, neste momento, este é um setor muito importante para nós. Somos uma agência muito orientada pelas demandas de dois grupos, um do setor público e privado dos países parceiros e outro da indústria americana, que busca parcerias para prover expertise de projetos no Brasil. Temos ouvido de forma clara: clima é importante e energia é importante. Então estamos tentando facilitar este tipo de troca de conhecimento. A demanda aqui é forte e temos companhias americanas que estão excitadas com este mercado. Então, queremos colocar os dois lados juntos.

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