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Biden se reúne com governadores democratas em meio a sinais de que avalia desistir de reeleição

Aliados reclamam da falta de comunicação com o presidente após fiasco no debate com Trump, e alguns já pensam em cenários caso ele escolha não concorrer

Joe Biden, presidente dos Estados Unidos (Mandel NGAN/AFP)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 3 de julho de 2024 às 16h36.

Última atualização em 3 de julho de 2024 às 16h49.

Uma semana após o desastroso desempenho de Joe Biden no debate com seu rival na campanha à Presidência, Donald Trump, as vozes que defendem sua desistência se multiplicam e se amplificam dentro do Partido Democrata, e até o atual morador da Casa Branca questiona se deve mesmo seguir na disputa. Nesta quarta-feira, ele se encontra com um grupo de governadores democratas, em busca de apoio para continuar na disputa, e também de conselhos sobre seus próximos passos.

A pauta e os detalhes do encontro — que ocorrerá de forma virtual e presencial — não foram divulgados pela Casa Branca, e a expectativa é de que o presidente tente acalmar os ânimos da cúpula do partido, virtualmente em chamas depois do debate. Na segunda-feira, em uma conversa entre governadores democratas, muitos se disseram surpresos com o silêncio de Biden desde a quinta-feira da semana passada, e citaram que apenas assessores do presidente entraram em contato com eles.

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"Eles querem ouvir o próprio presidente falar antes de saírem e arriscarem seus pescoços por ele mais uma vez", disse à CBS News uma pessoa que acompanhou a conversa. Líderes democratas no Congresso e a vice-presidente, Kamala Harris, também devem participar das discussões.

Na terça-feira, o deputado Lloyd Doggert, do Texas, foi o primeiro parlamentar democrata a pedir publicamente que Biden abandone a disputa, e o ex-deputado Tim Ryan disse que a candidata do partido deve ser Kamala Harris. Nesta quarta-feira, a Bloomberg revelou que um grupo de deputados democratas considera escrever uma carta pedindo que o presidente desista: eles não temem apenas uma derrota na corrida pela Casa Branca, mas também nas eleições para o Congresso, que renovará toda a Câmara e um terço do Senado.

"Acho que eles têm provavelmente cinco ou seis dias [ para tomar uma decisão ]", disse à Bloomberg Surveillance Charles Myers, fundador da consultoria Signum Global Advisors e doador do Partido Democrata. Ele afirmou que as coisas estão "se movendo muito rapidamente contra" Biden, bem mais do que o presidente esperava ou gostaria. Casas de apostas consideram que as chances de desistência do democrata hoje superam os 50%.

Segundo o New York Times, o presidente confidenciou a um aliado saber que, caso não consiga passar confiança ao eleitorado, não terá mais chances de recuperação.

"Ele sabe que se tiver dois eventos como esse [ o debate ], nós estaremos em uma posição bem diferente", disse o aliado ao jornal, em condição de anonimato. Um outro conselheiro do presidente, também sob anonimato, disse que Biden “está ciente do desafio político que ele enfrenta”. Um porta-voz da Casa Branca disse que as alegações eram “absolutamente falsas”.

Em público, Biden creditou o mau desempenho no debate a fatores como cansaço, viagens e uma gripe, e tem intensificado sua agenda de eventos para demonstrar força. Na sexta-feira, ele dará uma entrevista ao canal ABC, a primeira desde o embate com Trump.

"Amigos, eu não ando mais como costumava andar, não falo da forma como falava, não deba… debato tão bem como debatia. Mas eu sei o que fazer, eu sei como contar a verdade", afirmou Biden, em discurso um dia depois do debate, na Carolina do Norte. "Eu sei, eu sei diferenciar o certo do errado. Sei o que é necessário para desempenhar esse trabalho, e sei fazer as coisas. E sei o que milhares de americanos sabem: quando você é derrubado, você se levanta."

Lapsos recorrentes

Aliados e apoiadores do presidente têm lembrado, de forma recorrente, como a vida de Biden foi marcada pela resiliência e pela capacidade de se recuperar de tragédias: a morte de sua primeira mulher, Neilia, e de sua filha, Ashley, em um acidente de carro em 1977, a morte de seu filho Beau, visto por muitos como um provável sucessor político, em 2015, moldaram o longevo senador, vice-presidente e presidente. Uma noite ruim, argumentam, seria mais um degrau para alguém acostumado com longas escadarias.

"Foi um início lento, isso ficou claro para todo mundo, não vou discutir isso", disse Kamala Harris, em entrevista à CNN, pouco depois do debate. "Mas vou falar sobre a escolha em novembro. Estou falando sobre uma das eleições mais importantes de nossa vida."

Mas o fracasso no debate não foi um episódio isolado: pessoas próximas afirmam que os lapsos são cada vez mais frequentes. Em reportagem, o New York Times disse que o presidente pareceu “congelar” durante a comemoração de um feriado nos EUA, no mês passado, e no dia 18 de junho teve dificuldades ao mencionar o nome do secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, em um discurso — diante dos olhares alarmados da plateia, ele eventualmente conseguiu citar corretamente o secretário. Na terça-feira, cometeu mais uma de suas famosas gafes em visita a um centro de operações de emergências em Washington, mais um lapso para uma lista crescente.

"Investimos bilhões para melhorar nossa rede elétrica, expandir a escassez [ armazenamento, em inglês são palavras similares ] de energia para que as luzes, o ar condicionado, a refrigeração e a Internet permaneçam ligados durante ondas de calor, tempestades e outras mudanças climáticas", disse Biden. A correção foi feita apenas na transcrição oficial da Casa Branca.

Segundo pesquisa divulgada nesta quarta-feira pela rede CBS, Trump ampliou a vantagem sobre Biden no cenário nacional e também nos chamados “estados decisivos”, onde não existe uma tendência histórica de votação, e onde a disputa pela Casa Branca deve ser definida. A idade de Biden foi citada por 69% dos entrevistados como um fator na hora de escolher o candidato — na semana passada, uma pesquisa, também da CBS, mostrou que 72% dos eleitores acreditam que Biden não deve concorrer. Entre os democratas, são 46% dos entrevistados. E para 41%, o presidente não tem condições cognitivas para o cargo, embora os médicos da Casa Branca digam que ele está apto a exercer suas funções.

'Furacão de categoria 5'

Na mensagem em que defendeu a desistência de Biden, Lloyd Doggert citou o exemplo de Lyndon Johnson, que abandonou a disputa à reeleição em 1968, em meio a críticas internas sobre a gestão da Guerra do Vietnã, dentre outros fatores. A cerca de seis semanas da convenção que deve (até o momento) confirmar o nome de Biden, democratas já traçam cenários para uma reunião sem o presidente na disputa, e alguns deles assustam.

"Seria um furacão de categoria 5", disse à CNN um integrante do Partido Democrata, quando questionado sobre a eventual desistência de Biden. "As pessoas não entendem a escala da destruição que seria liberada."

A hipótese considerada mais simples é Biden apontar Kamala Harris sua sucessora. Em tese, ela já teria o controle e o conhecimento da máquina pública, o apoio dos delegados que votaram em Biden nas primárias e a chance de unir o partido após meses de questionamentos sobre o presidente. Uma pesquisa divulgada pela CNN na terça-feira mostrou Harris dois pontos percentuais atrás de Trump em números nacionais (47% x 45%). Biden tem desvantagem de seis pontos percentuais (49% x 43%). Para 75% dos entrevistados, os democratas teriam mais chances de vencer se escolhessem outro candidato que não o atual presidente.

Mas existe a possibilidade de Kamala, mesmo com o apoio de Biden, ser desafiada em uma convenção aberta, quando o candidato não consegue os votos necessários para a indicação em uma primeira votação, liberando os delegados partidários para escolherem quem acharem mais apto. Além da vice-presidente, a lista é longa, e inclui governadores como Gavin Newsom, da Califórnia, Gretchen Whitmer, do Michigan, e do IIIinois, J.B. Pritzker, que tentariam fechar acordos, em sua maioria a portas fechadas, para garantir uma vaga na eleição presidencial.

Os riscos são elevados: em 1968, após a desistência de Lyndon Jonhson, os democratas protagonizaram uma das mais caóticas convenções da história, que indicou Hubert Humphrey, deixou dezenas de presos e feridos e expôs as fraturas dentro do partido. Meses depois, Humphrey seria derrotado por Richard Nixon.

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