Biden: "haverá consequências" se Brasil não parar de derrubar floresta
No debate de ontem, o democrata citou o Brasil para criticar a política ambiental de Donald Trump, mas não mencionou diretamente o presidente Jair Bolsonaro
Carolina Riveira
Publicado em 30 de setembro de 2020 às 08h34.
Última atualização em 30 de setembro de 2020 às 09h18.
Em meio aos ataques entre Donald Trump e Joe Biden no debate presidencial nos Estados Unidos na noite de terça-feira, 29, o Brasil foi citado quando o assunto foi política ambiental.
Biden, que é ex-vice-presidente na gestão de Barack Obama, criticou a política ambiental de Trump e citou o Brasil, dizendo que a "floresta tropical" no país está sendo destruída.
O candidato democrata disse que, se eleito, se juntaria a outros países para conseguir 20 bilhões de dólares para a preservação da Amazônia. Mas afirmou que, se o Brasil fracassar, haveria consequências econômicas significativas.
"Eu iria me juntar para garantir que países juntos tenham um pacote de 20 bilhões. 'Está aqui um pacote de 20 bilhões para vocês pararem de desmantelar a floresta'. Se não fizerem isso, vão ter consequências significativas", disse Biden ( veja aqui os principais momentos do debate ).
O democrata não falou diretamente sobre o presidente Jair Bolsonaro, que é aliado de Trump e já defendeu publicamente a reeleição do atual presidente americano.
Biden também se comprometeu a recolocar os Estados Unidos no acordo climático de Paris, assinado por Obama em 2015 e do qual Trump saiu em seu primeiro ano como presidente, em 2017.
Queimadas no Brasil à parte, o presidente Donald Trump é criticado pelos incêndios na Califórnia e em outros lugares da Costa Oeste americana, que já devastaram 2 milhões de acres e destruíram centenas de casas. O incêndio é um dos piores da história na região. O fogo começou em agosto e metade dele ainda não está contido, segundo o jornal Los Angeles Times.
Quando questionado por Biden, o presidente disse que é preciso "manejo florestal" e que "todo ano escuto que a Califórnia está queimando". "Você precisa de manejo florestal, além de todo o resto. O solo da floresta é cheio de árvores velhas e folhas e tudo mais. Você derruba um cigarro e toda a floresta queima", disse Trump.
Biden nega apoiar o "Green New Deal"
Trump, por sua vez, criticou a gestão ambiental do governo Obama e acusou Biden de apoiar o plano ambiental conhecido como "Green New Deal", que faz referência ao "New Deal" do presidente Franklin Delano Roosevelt depois da crise de 1929. O plano consistiu em investimentos e obras públicas de infraestrutura para recuperar a economia americana.
O New Deal "verde" é defendido pelas estrelas da esquerda americana, como o senador Bernie Sanders (que foi pré-candidato contra Biden) e a deputada Alexandria Ocasio-Cortez.
No debate, quando questionado por Trump, Biden negou apoiar a proposta e disse que tem o seu próprio plano ambiental.
O plano de uma retomada da economia após a crise do coronavírus priorizando os negócios sustentáveis não é apenas da ala mais à esquerda do Partido Democrata. Os países da União Europeia têm trabalhado no que chamam de "Green Deal Europeu", com o objetivo de destinar 40% do socorro de 750 bilhões de euros do bloco a negócios à base de energias renováveis.
“Precisamos ter certeza de que a recuperação da crise do coronavírus esteja calcada na transformação ambiental e digital”, disse Frans Timmermans, primeiro vice-presidente da Comissão Europeia, que está à frente do plano, conforme mostrou reportagem de julho daEXAME.
Aproximadamente um quarto do orçamento do bloco para os próximos sete anos deve ser destinado a iniciativas verdes, como transporte elétrico e construção sustentável -- o mesmo aperfeiçoamento da infraestrutura de Roosevelt no New Deal, mas em uma versão ambientalista.
(Com Estadão Conteúdo)