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Beardsley, da Darden: liderança focada em liberdade

Camila Almeida   A escola de negócios Darden, da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, é uma das melhores do mundo. Já foi escolhida como a melhor escola de empreendedorismo e inovação do mundo, pelas publicações Entrepreneur Magazine e Princeton Review, e os cursos mais curtos são considerados um dos melhores em educação executiva pelo jornal Financial Times e pela […]

SCOTT BEARDSLEY: Reitor da escola de negócios de Darden busca parcerias com empresas brasileiras / Divulgação
DR

Da Redação

Publicado em 12 de dezembro de 2016 às 18h02.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h58.

Camila Almeida
A escola de negócios Darden, da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, é uma das melhores do mundo. Já foi escolhida como a melhor escola de empreendedorismo e inovação do mundo, pelas publicações Entrepreneur Magazine e Princeton Review, e os cursos mais curtos são considerados um dos melhores em educação executiva pelo jornal Financial Times e pela revista The Economist.
O reitor Scott Beardsley, que por mais de 20 anos foi diretor e sócio da consultoria de negócios Mckinsey, tem experiência em liderança e em alavancar empresas. Com esse know-how, assumiu a reitoria da Darden há pouco mais de um ano e, em visita ao Brasil, se dedicou a apresentar os cursos da universidade ao setor privado e a firmar parcerias, para atrair mais estudantes.
Essa é sua primeira experiência no setor educacional. Por que essa mudança na carreira agora?
A Mckinsey é uma referência em liderança ao redor do mundo, então eu já estava envolvido com a temática. Minha família é de educadores: meu irmão e minha irmã são professores, meus pais trabalham em universidades, meu tio é presidente de uma faculdade, minha avó era professora… Eu era o único que não tinha seguido esse padrão. De alguma forma, parece certo persegui-lo agora.
Qual o interesse da Darden no Brasil?
Nós somos uma escola global de negócios. E o Brasil é uma parte importante da economia mundial, a maior da América Latina. Então, estamos aqui é para nos conectar com empresas brasileiras. Algumas estão delas interessadas em contratar nossos estudantes ou recebê-los quando eles vêm aqui para aprender mais sobre a economia local, outras querem patrocinar funcionários para que estudem na nossa escola ou estão interessadas em formação executiva… São diferentes níveis de interesse. E também existem pessoas nessas empresas interessadas em estudar em uma escola de negócios de primeira linha, mesmo que a empresa não banque. Conversamos com eles também.
Quando a Darden recebe estudantes de outros países, qual a expectativa? Que eles fiquem nos Estados Unidos e contribuam para o crescimento do país ou que eles voltem para seus países de origem e fortaleçam a economia local?
Eu não tenho preferência pelo local para onde os estudantes vão; quero que eles possam perseguir a carreira que preferirem. Nós preparamos estudantes para serem líderes numa economia global, e eles precisam estar preparados para operar no mundo inteiro, em qualquer multinacional. Precisam ter a capacidade de trabalhar em diferentes ambientes. Acredito que um MBA de alto nível te permite ir para qualquer lugar. Geograficamente e profissionalmente.
O foco do curso é fazer com que esses estudantes se tornem líderes de grandes empresas ou há mais estímulo ao empreendedorismo?
Ambos. Nossos estudantes fazem os dois, então preparamos para as duas possibilidades. Inovação e empreendedorismo são grandes forças na Darden. Nós temos o Instituto Batten – assim nomeado depois que Frank Batten, fundador do canal de televisão Weather Channel, deu à Darden um presente de 130 milhões de dólares para focar em empreendedorismo e inovação. Temos cerca de 30 aulas oferecidas nessa área e uma aceleradora, aberta aos estudantes e outros membros da comunidade. Alguns dos nossos estudantes decidem começar seu próprio negócio enquanto estão na Darden, outros decidem que querem trabalhar com multinacionais e serem empreendedores em outros moldes. Há muitas maneiras de ser inovador e empreendedor, inclusive em grandes empresas. Nós preparamos futuros líderes para se arriscar e para serem bons gerenciadores.
O senhor acredita que as escolas de negócios ainda estão muito focadas em estudantes com perfil executivo?
Nós estamos abertos para todos os perfis. Tudo é negócio. O governo, a universidade, empresas públicas ou privadas, no mercado de ações ou não, que visam lucro ou não – todas precisam de liderança. Elas têm orçamento, precisam contratar pessoas, precisam melhorar seus processos e serem eficientes. Na nossa escola, recebemos ex-atletas, músicos, professores, consultores de bancos, militares… São pessoas com experiências muito diversas.
Há uma onda de medo da globalização no mundo. Qual o papel das escolas de negócios para romper com esse temor?
Parte do medo da globalização é o medo do desconhecido e ignorância sobre outras culturas. Um dos papéis de uma escola global de negócios é expor futuros líderes a experiências diferentes. Quase 40% dos nossos estudantes vêm de outros lugares que não os Estados Unidos. Conhecendo pessoas de outros contextos, é possível entender do que se trata o mundo.
O presidente eleito Donald Trump fez uma campanha muito forte contra imigração. Esse tipo de discurso pode afastar estudantes estrangeiros e dificultar o cenário para empresas que queiram buscar talentos no exterior?
Acho difícil que isso aconteça. Eu não espero que existam mudanças dramáticas em políticas para estudantes bem qualificados. Em termos de discurso, sim, as pessoas podem perder o interesse em vir para cá, mas só o tempo pode dizer. Os Estados Unidos são um dos países mais abertos, diversos e livres do mundo, e deve continuar muito receptivo. Espero que o número de estudantes que se inscrevem em universidades americanas continue a crescer, mantendo a evolução dos últimos dez anos.
Na Europa, a impressão é de que as escolas estão mais conectadas e de que há um projeto integrado para desenvolver a educação superior, com programas como o Erasmus e o Horizon 2020. Nos Estados Unidos, as escolas agem de forma muito independente. Por que essa diferença?
Na Europa, a maioria das universidades é financiada pelo governo; nos Estados Unidos, a maioria é privada, com um mercado muito forte e um componente filantrópico aguçado. Na Europa, os alunos pensarem em fazer doações para as universidade é completamente absurdo. Ninguém faz isso. Nos Estados Unidos, fazer campanhas multimilionárias para arrecadar fundos não é incomum. São 4.500 escolas americanas, enquanto que um país como a Bélgica tem 15 ou 20. Os tipos de universidades também mudam muito. Na Europa, cada faculdade atende cerca de 5.000 alunos, aqui, não faltam escolas que dão aula a 300. O custo para manter essas estruturas é muito diferente, assim como a forma de ensinar, o escopo, a escala. Nós poderíamos falar disso por horas, mas tem uma razão pela qual muitas pessoas estudam nos EUA: porque a qualidade é muito alta.
O fato de as universidades serem privadas é o que cria competição entre elas?
Não é só por serem privadas, acho que é porque há muitas possibilidades. Os estudantes podem escolher. Então, elas precisam competir para permanecerem relevantes aos olhos dos estudantes, focando em manter o nível do que oferecem. Em muitos países, os estudantes não têm muitas opções e vão para as escolas que têm. Nos Estados Unidos, há uma infinidade de possibilidades, inclusive com uma diversidade muito grande de especializações, com cursos muito específicos.
Que tipo de líder a Darden estão procurando? E que tipo de líder vocês acham que o mundo merece?
Estamos procurando pessoas com caráter. No século 21, um líder se define mais por quem ele é, do que pelo que ele é. Ele precisa ter a habilidade de motivar outras pessoas e de reconhecer os nobres propósitos que elas têm na vida. Os melhores líderes têm integridade, humildade, autenticidade, desejam que cada ser humano faça seu melhor papel no mundo e permitem que alcancem seu melhor. São ótimos em desenvolver o potencial de outras pessoas. Um líder à frente de uma empresa com milhares de funcionários é tão bom quanto as pessoas que trabalham para ele. A próxima geração vai ser melhor em permitir que as pessoas tenham uma vida mais equilibrada e em balancear energias para que as pessoas façam seu melhor.

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Camila Almeida
A escola de negócios Darden, da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, é uma das melhores do mundo. Já foi escolhida como a melhor escola de empreendedorismo e inovação do mundo, pelas publicações Entrepreneur Magazine e Princeton Review, e os cursos mais curtos são considerados um dos melhores em educação executiva pelo jornal Financial Times e pela revista The Economist.
O reitor Scott Beardsley, que por mais de 20 anos foi diretor e sócio da consultoria de negócios Mckinsey, tem experiência em liderança e em alavancar empresas. Com esse know-how, assumiu a reitoria da Darden há pouco mais de um ano e, em visita ao Brasil, se dedicou a apresentar os cursos da universidade ao setor privado e a firmar parcerias, para atrair mais estudantes.
Essa é sua primeira experiência no setor educacional. Por que essa mudança na carreira agora?
A Mckinsey é uma referência em liderança ao redor do mundo, então eu já estava envolvido com a temática. Minha família é de educadores: meu irmão e minha irmã são professores, meus pais trabalham em universidades, meu tio é presidente de uma faculdade, minha avó era professora… Eu era o único que não tinha seguido esse padrão. De alguma forma, parece certo persegui-lo agora.
Qual o interesse da Darden no Brasil?
Nós somos uma escola global de negócios. E o Brasil é uma parte importante da economia mundial, a maior da América Latina. Então, estamos aqui é para nos conectar com empresas brasileiras. Algumas estão delas interessadas em contratar nossos estudantes ou recebê-los quando eles vêm aqui para aprender mais sobre a economia local, outras querem patrocinar funcionários para que estudem na nossa escola ou estão interessadas em formação executiva… São diferentes níveis de interesse. E também existem pessoas nessas empresas interessadas em estudar em uma escola de negócios de primeira linha, mesmo que a empresa não banque. Conversamos com eles também.
Quando a Darden recebe estudantes de outros países, qual a expectativa? Que eles fiquem nos Estados Unidos e contribuam para o crescimento do país ou que eles voltem para seus países de origem e fortaleçam a economia local?
Eu não tenho preferência pelo local para onde os estudantes vão; quero que eles possam perseguir a carreira que preferirem. Nós preparamos estudantes para serem líderes numa economia global, e eles precisam estar preparados para operar no mundo inteiro, em qualquer multinacional. Precisam ter a capacidade de trabalhar em diferentes ambientes. Acredito que um MBA de alto nível te permite ir para qualquer lugar. Geograficamente e profissionalmente.
O foco do curso é fazer com que esses estudantes se tornem líderes de grandes empresas ou há mais estímulo ao empreendedorismo?
Ambos. Nossos estudantes fazem os dois, então preparamos para as duas possibilidades. Inovação e empreendedorismo são grandes forças na Darden. Nós temos o Instituto Batten – assim nomeado depois que Frank Batten, fundador do canal de televisão Weather Channel, deu à Darden um presente de 130 milhões de dólares para focar em empreendedorismo e inovação. Temos cerca de 30 aulas oferecidas nessa área e uma aceleradora, aberta aos estudantes e outros membros da comunidade. Alguns dos nossos estudantes decidem começar seu próprio negócio enquanto estão na Darden, outros decidem que querem trabalhar com multinacionais e serem empreendedores em outros moldes. Há muitas maneiras de ser inovador e empreendedor, inclusive em grandes empresas. Nós preparamos futuros líderes para se arriscar e para serem bons gerenciadores.
O senhor acredita que as escolas de negócios ainda estão muito focadas em estudantes com perfil executivo?
Nós estamos abertos para todos os perfis. Tudo é negócio. O governo, a universidade, empresas públicas ou privadas, no mercado de ações ou não, que visam lucro ou não – todas precisam de liderança. Elas têm orçamento, precisam contratar pessoas, precisam melhorar seus processos e serem eficientes. Na nossa escola, recebemos ex-atletas, músicos, professores, consultores de bancos, militares… São pessoas com experiências muito diversas.
Há uma onda de medo da globalização no mundo. Qual o papel das escolas de negócios para romper com esse temor?
Parte do medo da globalização é o medo do desconhecido e ignorância sobre outras culturas. Um dos papéis de uma escola global de negócios é expor futuros líderes a experiências diferentes. Quase 40% dos nossos estudantes vêm de outros lugares que não os Estados Unidos. Conhecendo pessoas de outros contextos, é possível entender do que se trata o mundo.
O presidente eleito Donald Trump fez uma campanha muito forte contra imigração. Esse tipo de discurso pode afastar estudantes estrangeiros e dificultar o cenário para empresas que queiram buscar talentos no exterior?
Acho difícil que isso aconteça. Eu não espero que existam mudanças dramáticas em políticas para estudantes bem qualificados. Em termos de discurso, sim, as pessoas podem perder o interesse em vir para cá, mas só o tempo pode dizer. Os Estados Unidos são um dos países mais abertos, diversos e livres do mundo, e deve continuar muito receptivo. Espero que o número de estudantes que se inscrevem em universidades americanas continue a crescer, mantendo a evolução dos últimos dez anos.
Na Europa, a impressão é de que as escolas estão mais conectadas e de que há um projeto integrado para desenvolver a educação superior, com programas como o Erasmus e o Horizon 2020. Nos Estados Unidos, as escolas agem de forma muito independente. Por que essa diferença?
Na Europa, a maioria das universidades é financiada pelo governo; nos Estados Unidos, a maioria é privada, com um mercado muito forte e um componente filantrópico aguçado. Na Europa, os alunos pensarem em fazer doações para as universidade é completamente absurdo. Ninguém faz isso. Nos Estados Unidos, fazer campanhas multimilionárias para arrecadar fundos não é incomum. São 4.500 escolas americanas, enquanto que um país como a Bélgica tem 15 ou 20. Os tipos de universidades também mudam muito. Na Europa, cada faculdade atende cerca de 5.000 alunos, aqui, não faltam escolas que dão aula a 300. O custo para manter essas estruturas é muito diferente, assim como a forma de ensinar, o escopo, a escala. Nós poderíamos falar disso por horas, mas tem uma razão pela qual muitas pessoas estudam nos EUA: porque a qualidade é muito alta.
O fato de as universidades serem privadas é o que cria competição entre elas?
Não é só por serem privadas, acho que é porque há muitas possibilidades. Os estudantes podem escolher. Então, elas precisam competir para permanecerem relevantes aos olhos dos estudantes, focando em manter o nível do que oferecem. Em muitos países, os estudantes não têm muitas opções e vão para as escolas que têm. Nos Estados Unidos, há uma infinidade de possibilidades, inclusive com uma diversidade muito grande de especializações, com cursos muito específicos.
Que tipo de líder a Darden estão procurando? E que tipo de líder vocês acham que o mundo merece?
Estamos procurando pessoas com caráter. No século 21, um líder se define mais por quem ele é, do que pelo que ele é. Ele precisa ter a habilidade de motivar outras pessoas e de reconhecer os nobres propósitos que elas têm na vida. Os melhores líderes têm integridade, humildade, autenticidade, desejam que cada ser humano faça seu melhor papel no mundo e permitem que alcancem seu melhor. São ótimos em desenvolver o potencial de outras pessoas. Um líder à frente de uma empresa com milhares de funcionários é tão bom quanto as pessoas que trabalham para ele. A próxima geração vai ser melhor em permitir que as pessoas tenham uma vida mais equilibrada e em balancear energias para que as pessoas façam seu melhor.
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