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Aumenta preocupação no Irã antes de novas sanções dos EUA

Com as novas sanções americanas, a moeda nacional, o rial, perdeu quase dois terços de seu valor desde o começo deste ano

A crise do Irã se agravou desde que os EUA deixaram o acordo nuclear (Sergei Karpukhin/Reuters)

A crise do Irã se agravou desde que os EUA deixaram o acordo nuclear (Sergei Karpukhin/Reuters)

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AFP

Publicado em 3 de agosto de 2018 às 14h23.

A preocupação tem se espalhado entre os iranianos antes de os Estados Unidos imporem novas sanções, anunciadas para segunda-feira (6), que ameaçam desestabilizar ainda mais a já deteriorada economia do país.

Diversas cidades, como Shiraz (no sul), Ahvaz (sudoeste), Mashhad (nordeste) e Karaj (perto de Teerã), tiveram "manifestações esporádicas" nos últimos dias, reunindo centenas de pessoas, informaram as agências de imprensa estatais na noite desta quinta-feira (3).

Vídeos que circulam nas redes sociais, cuja origem não pôde ser verificada, mostram manifestações em cidades turísticas como Ispahan (centro) e Teerã.

"Essas manifestações continuarão", avalia Adnan Tabatabai, diretor do centro de pesquisa alemão CARPO, que acompanha de perto assuntos iranianos.

"O poder sabe que são legítimas, mas o risco é que sejam perturbadas por grupos do interior, ou do exterior do país, e que se tornem violentas", afirmou.

O principal sinal da crise ligada ao retorno das sanções americanas é a queda vertiginosa da moeda nacional, o rial, que perdeu quase dois terços de seu valor desde o começo deste ano.

O governo tentou frear a desvalorização em abril, estabelecendo uma taxa oficial fixa e controlando o mercado negro - medidas que fizeram o mercado paralelo crescer ainda mais.

Presos

As consequências às vezes são absurdas. Uma expatriada contou como se encontrou com um operador cambial do mercado negro debaixo de uma ponte no centro de Teerã para trocar 2 mil dólares.

"Ele me pediu para usar um véu vermelho e se aproximou pedindo, em voz baixa, que eu mostrasse o dinheiro, como se estivéssemos em um filme de espionagem", contou.

A impressão de estarem presos entre as manobras do governo e a vontade dos Estados Unidos de paralisar a economia obriga diversos iranianos a pouparem dólares para usar depois da crise.

"As pessoas têm medo de não encontrarem mais seus produtos se não comprarem hoje", disse Ali, um comerciante do Grande Bazar de Teerã, explicando que os vendedores a varejo estocam produtos, enquanto esperam para ver como a situação vai evoluir.

Os Estados Unidos decidiram, unilateralmente, em maio, deixar o acordo sobre o programa nuclear iraniano, assinado em 2015, anunciando sua vontade de exercer "pressão máxima" sobre o Irã, com novas sanções a partir de 6 de agosto e de novembro.

Embora os europeus, a Rússia e a China tenham decidido respeitar o acordo, as multinacionais que tinham se instalado no Irã há três anos agora se preparam para deixar o país.

Outras empresas, menores, tentam tirar proveito da atual confusão e esperam que os governos europeus, que declararam sua determinação em defender o acordo, as proteja.

Iniciativas tardias

"Ninguém sabe como serão as sanções. O governo de Donald Trump faz isso de propósito para que todo mundo continue se sentindo ameaçado", disse em Teerã um empresário ocidental que trabalha no setor de hidrocarbonetos.

De acordo com ele, as ameaças americanas irritam os europeus, em vez de preocupá-los.

Segundo alguns analistas, as exportações iranianas de petróleo cairiam drasticamente. De 2,4 milhões de barris por dia, passariam a 700.000 no fim do ano.

Alguns países, como Índia, China e Turquia, afirmaram que dependiam muito do petróleo iraniano para poderem cumprir as exigências americanas, mas diversas refinarias, especialmente europeias, já estão deixando o Irã.

Muitos acreditam que as últimas iniciativas de Teerã, que recentemente substituiu o governador do Banco Central e predeu 12 especuladores, chegaram tarde demais.

"O governo não conseguiu tirar proveito da situação quando as condições lhe permitiam", adotando um plano econômico convincente", afirmou Mohamed Reza Behzadian, ex-diretor da Câmara de Comércio de Teerã.

"Será ainda mais difícil em tempos de crise", alerta.

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