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Ato em rua do luxo de Hong Kong chama atenção de turistas

Ao invés de lidar com espera sob o sol, turistas deram de cara com acontecimento inesperado e insólito na China continental: cidadãos pedindo democracia

Hong Kong: alteração da ordem estabelecida é precisamente o que buscaram manifestantes (Carlos Barria/Files/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 1 de outubro de 2014 às 19h15.

Hong Kong - Os cidadãos das "duas Chinas", a que enriqueceu pela abertura econômica e a que reivindica democracia , ficaram cara a cara nesta quarta-feira em Hong Kong na principal avenida de lojas de luxo da ilha, ocupada pelos protestos durante a chegada de turistas no Dia Nacional.

Todos os anos, a imagem comum neste primeiro dia da "Semana de Ouro" de férias no país asiático é a de dezenas de milhares de turistas chineses formando longas filas na porta das lojas de luxo de Hong Kong, que oferecem preços únicos porque seus produtos são livres de impostos.

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No entanto, neste 1° de outubro, a imagem mudou. Ao invés de lidar com a espera sob o sol, os turistas deram de cara com um acontecimento, para muitos, inesperado e insólito na China continental: cidadãos pedindo democracia.

"Não sabia que estava assim e, para ser sincera, sinto pena de ver esta situação, acho que a economia de Hong Kong vai ser muito afetada", comentou uma jovem chamada Candy, de 24 anos e procedente da região de Guangxi, após ter chegado à ilha para "encher de comésticos" a mala que levou em sua primeira visita a Hong Kong.

A opinião da jovem foi compartilhada por outros turistas chineses que caminhavam pela principal avenida "das marcas", como Xiong Wei, que, acompanhado de sua mãe, não hesitou em criticar a atitude dos jovens de Hong Kong.

"Acho que suas reivindicações não são razoáveis. Sabia que estavam aqui criando o caos, e eu decidi vir, mas muitas pessoas da China decidiram cancelar suas viagens, e é normal. Há lojas fechadas, e o trânsito está interrompido", declarou Xiong, engenheiro de uma das companhias de telecomunicações mais fortes da China, ZTE, na cidade de Shenzhen, limítrofe com Hong Kong.

Os dados que foram revelados nestes dias apoiam suas palavras.

Segundo a Associação de Operadores de Tours de Hong Kong, neste ano o número de visitas em grupo - a opção preferida para os chineses do continente - reduziu em até 20% com relação ao ano anterior, e espera-se que ocorram cancelamentos de última hora.

"O negócio foi afetado. Só é preciso ver o volume de pessoas nas lojas, em anos anteriores, tinham que entrar com conta-gotas", comentou um segurança de um dos principais hotéis da avenida onde ficam lojas de Gucci, Prada, Dolce & Gabbana e Louis Vuitton.

O vigilante também pensa que os eventos cancelados, como os famosos fogos de artifício que tradicionalmente iluminam o porto de Victoria no Dia Nacional da China, podem ter "alterado viagens".

E isso, a alteração da ordem estabelecida, é precisamente o que buscaram os manifestantes hoje, que começaram a ocupar a avenida "de ouro" de Hong Kong durante a manhã com um objetivo claro.

"É simbólico. Estamos em um dos principais atrativos para os turistas chineses e essa é a razão de termos expandido a ocupação até aqui. Queremos que nossa mensagem seja exposta, que chegue aos chineses do continente, que sofrem uma censura brutal", explicou Gordon, um estudante de pós-graduação de Economia.

Outra jovem que trabalha em uma consultoria foi além. "Não queremos ser um animal econômico, não queremos só pensar no dinheiro; queremos um futuro melhor. Não somos chineses".

Suas palavras evidenciavam um sentimento muito estendido entre os jovens de hoje de Hong Kong, que nasceram na ilha, ao contrário de seus pais, cuja maioria viveu no continente, e desfrutaram de liberdades que no país asiático são punidas com prisão.

"Isso seria impossível lá", comentava cochichando uma universitária procedente de uma cidade próxima a Xangai que preferiu não se identificar diante de possíveis represálias.

Para ela, as manifestações podem ser uma inspiração para muita gente que visita Hong Kong - cerca de 40 milhões de turistas chineses por ano -, mas, como comentou à Agência Efe, "é muito difícil admitirem isso em público".

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