Até 2080, a população de idosos no mundo será maior que a de menores de 18 anos
De acordo com projeções da ONU, cenário deve ocorrer no mesmo momento em que o número de pessoas no planeta atingirá seu pico, desafiando as estruturas de seguridade social dos países
Agência de notícias
Publicado em 11 de julho de 2024 às 16h08.
Última atualização em 11 de julho de 2024 às 16h17.
De acordo com um estudo das Nações Unidas divulgado nesta quinta-feira, a década de 2080 marcará a mudança de uma era na demografia mundial. Até lá, projeções apontam que a população global atingirá seu pico com 10,3 bilhões de habitantes e o número de idosos (65+) será superior que o de menores de 18 anos — cenário que desafiará as estruturas de seguridade social dos países.
Há uma década, as previsões da ONU indicavam que o pico populacional do planeta aconteceria mais tarde e seria ainda maior, mas os baixos índices de fertilidade ao redor do mundo adiantaram o processo e diminuíram seu tamanho. Estima-se que, já em meados dos anos 2030, o número de pessoas com mais de 80 anos será maior que o de bebês com menos de 1 ano.
"O pico mais cedo e mais baixo é um sinal de esperança", afirma Li Junhua, subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, em comunicado. "Isso pode significar uma redução das pressões ambientais decorrentes dos impactos humanos devido ao menor consumo agregado. Entretanto, um crescimento populacional mais lento não eliminará a necessidade de reduzir o impacto médio atribuível às atividades de cada pessoa."
Nascimentos em queda
Segundo o estudo, hoje as mulheres têm, em média, um filho a menos do que tinham nos anos 1990. Em mais da metade dos países, a média de nascimentos está abaixo de 2,1, considerado o nível necessário para que a população consiga manter seu tamanho sem precisar da imigração. Em quase um quinto das nações, a taxa de fertilidade é de 1,4, classificada como "ultrabaixa" — entre elas, Itália, Espanha, China e Coreia do Sul.
"O cenário demográfico evoluiu muito nos últimos anos", aponta Junhua. "Em alguns países, a taxa de natalidade está ainda mais baixa agora do que o previsto anteriormente, e também estamos observando declínios um pouco mais rápidos em algumas regiões de alta fertilidade."
A imigração será uma aliada de pelo menos 50 países que já estão sentido os efeitos da queda nos nascimentos e no crescimento da população idosa, aumentando o número de habitantes em idade de trabalho. No entanto, parte do grupo afetado por taxas de fertilidade ultrabaixas também enfrenta a forte emigração de seus cidadãos para outros lugares, o que contribuirá para que sua população reduza ainda mais nos próximos 30 anos, afirma a ONU.
A edição deste ano do relatório Perspectivas para a população mundial, realizado desde 1951 pelas Nações Unidas, aponta que uma em cada quatro pessoas no mundo vive em um país que já atingiu o seu pico populacional. Isso corresponde, mais precisamente, a 28% da população mundial, espalhada em 63 nações que incluem China, Alemanha, Rússia e Japão. Nesse grupo de países, o número de habitantes diminuirá até 14% nos próximos 30 anos.
Impacto no Brasil
O Brasil será um dos próximos a ter de encarar de frente essa transformação demográfica. O estudo inclui o país no grupo cuja população poderá atingir seu pico já a partir do ano que vem. A projeção dialoga com os resultados do último censo, no qual descobriu-se que a população brasileira era menor do que o previsto anteriormente pelo IBGE e registrou, na última década, o menor crescimento da História. Além do Brasil, nações como Turquia, Irã e Vietnã também devem chegar ao seu auge entre 2025 e 2054.
Na outra ponta, 126 países vão continuar crescendo até a primeira metade deste século, notadamente a Índia — que recentemente ultrapassou a China como o mais populoso do planeta — e os Estados Unidos — principal destino de migrantes mundo afora. Desse grupo, nove verão sua população dobrar até 2054, a maioria no continente africano, como Angola, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Níger e Somália. Os desafios, nesse caso, são outros: enfrentar a gravidez precoce e preparar o sistema de saúde e educação para atender a quantidade de crianças.
"Em 2024, 4,7 milhões de bebês, ou cerca de 3,5% do total mundial, nasceram de mães com menos de 18 anos", diz o relatório. "Desses, cerca de 340 mil nasceram de crianças com menos de 15 anos, com graves consequências para a saúde e o bem-estar das jovens mães e de seus filhos."
Questão de gênero
Para além dos números, o estudo destaca a relação das políticas de gênero com a questão demográfica, tanto para países com queda nos indicadores de natalidade quanto para aqueles que precisam lidar com o rápido crescimento de suas populações.
Barreiras legais ao acesso de meninas e mulheres a serviços de saúde sexual e reprodutiva, como métodos contraceptivos e aborto legal, prejudicam a contenção dos altos índices de nascimentos, em especial no caso de gravidez precoce. A ONU também indica políticas públicas como o aumento da idade legal para o casamento, a integração do planejamento familiar à saúde primária e a ampliação da participação feminina no mercado de trabalho.
Já em nações que atingiram seu pico populacional ou estão perto disso, como o Brasil, o documento sugere ações como oferecimento de licença parental remunerada e flexível, ampliação da rede de creches de qualidade e incentivo à distribuição igualitária das tarefas domésticas entre homens e mulheres para incentivar a gravidez. Por outro lado, a ONU também reforça a necessidade de investir no cuidado com a população idosa, tanto no âmbito da saúde quanto econômico.