Julian Assange: segundo o advogado, esta audiência "deve durar vários dias" (Peter Nicholls/File Photo/Reuters)
AFP
Publicado em 14 de novembro de 2016 às 10h31.
Última atualização em 14 de novembro de 2016 às 14h22.
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, foi ouvido nesta segunda-feira na embaixada do Equador em Londres, onde está refugiado desde 2012, por um procurador equatoriano, na presença de uma magistrada sueca, para responder a uma acusação de estupro que pesa contra ele na Suécia.
A procuradora sueca Ingrid Isgren, instrutora adjunta na investigação de Assange, chegou na embaixada pouco antes das 10h00 GMT (8h00 de Brasília), segundo um fotógrafo da AFP.
Suécia e Equador negociaram há meses as condições de seu interrogatório. O Equador impôs que um procurador equatoriano fizesse as perguntas, mesmo que sugeridas pelos investigadores suecos.
Esta audiência "deve durar vários dias", indicou à AFP Per Samuelsson, advogado sueco de Julian Assange, que espera participar de pelo menos parte.
Esta é a primeira vez que o australiano, de 45 anos, acusado de estupro desde 2010, vai dar a sua versão dos acontecimentos à justiça.
Enquanto a justiça sueca o acusa de fugir sistematicamente de suas convocações, Per Samuelsson garante que Assange "sempre quis dar a sua versão dos acontecimentos diretamente para os investigadores."
"Pedimos esta audiência desde 2010", explicou. "Ele quer uma chance de limpar a sua honra (...) e espera que a investigação preliminar seja abandonada" após o interrogatório.
A advogada da parte civil, Elisabeth Fritz, e sua cliente consideram igualmente que "é uma boa coisa que Assange seja enfim ouvido".
"Nós esperamos que após esta audiência, a procuradoria o indicie e que este indiciamento conduza a um processo diante de um tribunal sueco. Minha cliente espera que a justiça seja feita", acrescentou Elisabeth Fritz.
A justiçá deverá recolher, se Assange consentir, amostras de seu DNA, segundo a procuradoria sueca.
A transcrição do interrogatório será entregue posteriormente aos magistrados suecos, que decidirão o futuro da investigação.
A procuradora sueca encarregada do caso, Marianne Ny, comemorou o fato "de a investigação preliminar poder avançar com a audiência do suspeito".
Nesta segunda de manhã, um grupo de partidários do ex-hacker se reuniu em frente à embaixada, exibindo cartazes de "Libertem Assange" ou "Obrigado WikiLeaks".
Uma primeira audiência prevista para meados de outubro com o procurador Wilson Toainga havia sido adiada a pedido de Assange, que evocava a falta de garantias sobre a "sua proteção e defesa", segundo o Equador.
O australiano permanece desde junho de 2012 na embaixada equatoriana da capital britânica, quando pediu asilo a Quito para evitar ser extraditado à Suécia.
O Ministério Público sueco quer interrogá-lo por um suposto estupro cometido em 2010, que ele nega. Ele é alvo de um mandato de prisão europeu, emitido como parte desta investigação.
Assange não quer voltar à Suécia por medo de ser extraditado aos Estados Unidos, onde é criticado pela publicação por parte do WikiLeaks em 2010 de 500.000 documentos classificados sobre Iraque e Afeganistão, assim como 250.000 comunicações diplomáticas.
Ele não deixou o local desde então, recluso em um pequeno apartamento e tendo que se contentar com algumas aparições públicas em sua varanda.
O australiano perdeu outra batalha judicial em setembro, quando, pela oitava vez em seis anos, um tribunal sueco rejeitou o recurso e confirmou o mandado de detenção europeu contra ele.
Ele solicitou no final de outubro uma simples suspensão deste mandato para ir ao funeral de um amigo, o que foi recusado.
Durante a campanha presidencial americana, o WikiLeaks divulgou milhares de mensagens hackeadas de pessoas próximas a Hillary Clinton, levando John Podesta, chefe da equipe de campanha da candidata democrata a acusar Julian Assange de fazer o jogo do republicano e agora presidente eleito Donald Trump.
Uma petição, assinada por cerca de 18.000 pessoas, pede que Donald Trump conceda "perdão presidencial" a Julian Assange a o isente de perseguição nos Estados Unidos. Uma petição semelhante foi dirigida ao então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sem sucesso.