As promessas eleitorais descomunais na Itália
Candidatos propõem a criação de novos postos de trabalho, a redução de impostos, mudança na aposentadoria e um salário mínimo garantido para todos
AFP
Publicado em 3 de março de 2018 às 12h15.
A campanha para as eleições legislativas deste domingo (4) na Itália foi marcada por promessas descomunais, as quais, se cumpridas, segundo cálculos, deixarão o país endividado durante décadas.
Quase todos propõem a criação de novos postos de trabalho, a redução de impostos, uma mudança no sistema de aposentadorias, um salário mínimo garantido para todos, subsídios e ajudas para idosos: todos programas que seriam muito custosos para o Estado.
Mas quanto custam as promessas eleitorais e como cobri-las?
As promessas do Partido Democrata (PD, de centro-esquerda), liderado por Matteo Renzi, são as menos custosas: 35 bilhões de euros, segundo o partido; 38,6 bilhões de euros, segundo o Observatório para as Contas Públicas italianas da Universidade Católica; e 56,4 bilhões de euros, segundo o economista Roberto Perotti, da Universidade Bocconi em Milão.
Para a sigla antissistema Movimento Cinco Estrelas (M5E, populista) aplicar seu programa, que pede uma renda básica de cidadania, custará 78,5 bilhões, segundo os cálculos do partido; 103,4 bilhões, de acordo com o Observatório; e 108 bilhões, segundo Perotti.
Para tornar realidade as propostas da coalizão de direita liderada por Silvio Berlusconi, o número é bastante elevado, já que parte de um mínimo de 136,2 bilhões, segundo o Observatório; e de 171 bilhões, de acordo com Perotti.
O economista da prestigiosa Bocconi reconhece, por exemplo, que as propostas da xenófoba Liga Norte, aliada de Berlusconi, de eliminar a atual lei de aposentadorias são praticamente irrealizáveis, mas que "servem para conquistar votos".
"É óbvio que não poderão cumpri-las", afirma o economista.
Para o especialista de Oxford Economics, Nicola Nobile, trata-se também de promessas "pouco realistas, ou desnecessárias".
Entre as promessas mais emblemáticas da direita, está o imposto único, o chamado Flat Tax, que substituiria o sistema progressivo atual. Seria uma redução da carga tributária que poderia custar cerca de 40 bilhões de euros ao Estado, segundo cálculos da imprensa especializada. Para Perotti, o custo beira os 65 bilhões de euros.
O que mais preocupa é o impacto que tais medidas poderão ter sobre a dívida pública.
"Se aplicássemos apenas um terço do prometido, a Itália não respeitaria a obrigação de se manter no limite de 3% de déficit sobre o PIB", explica Perotti.
Hoje, a Itália se encontra em 2,5% e bastaria gastar 8 bilhões de euros a mais para chegar a 3%", adverte o especialista.
"Se, como o imposto fixo, perde 65 bilhões de euros e calcula recuperar esse dinheiro com o crescimento do PBI, esse PIB deveria ser de 9%, algo impensável no momento", diz Perotti.
À exceção da Liga, todos os partidos se comprometeram com respeitar o limite de 3% exigido pela União Europeia.
O analista Jack Allen, da Capital Economics, considera que a política de corte de gastos não chegará a cobrir as cifras necessárias.
A dívida da Itália, que representa 131,6% de seu PIB, é a mais alta da Europa, depois da registrada pela Grécia. Segundo analistas, em quatro anos, vai chegar a 134,8% com o programa do PD; a 135,8%, com a FI; e a 138,4%, com o M5E.