Presidente da Síria, Bashar al-Assad: presidente sírio "tem um dos maiores programas de armas químicas da região e até mesmo do mundo", disse ex-inspetor da ONU (SANA/Distribuído via Reuters)
Da Redação
Publicado em 12 de setembro de 2013 às 08h33.
Amsterdã - Se o Iraque de Saddam Hussein é algo que serve de referência, a destruição do enorme arsenal de armas químicas da Síria significará checar dezenas de instalações remotas em uma zona de guerra, enquanto o governo deve empregar táticas protelatórias para esconder munições proibidas, disse um perito envolvido em antigas missões de desarmamento da ONU.
A rede de armas químicas do presidente sírio, Bashar al-Assad, compreende bunkers subterrâneos remotos onde centenas de toneladas de agentes nervosos, mísseis Scud e munição de artilharia, possivelmente armada com cianeto, e fábricas no interior de território hostil, que costumavam produzir gás VX ou mostarda, acreditam especialistas.
"É grande. Ele tem um dos maiores programas de armas químicas da região e até mesmo do mundo", disse Dieter Rothbacher, um ex-inspetor de armas da ONU no Iraque, que treinou membros da equipe que acaba de retornar da Síria.
"Há estimativas de que para garantir a segurança sejam necessários até 75 mil soldados", afirmou Rothbacher em entrevista à Reuters. "No Iraque levamos três anos para destruir isso, sob supervisão da ONU." Primeiro, é preciso que haja um acordo, seja por meio da adesão da Síria à Convenção de Armas Químicas ou, mais provavelmente, na forma de um acordo no Conselho de Segurança da ONU, no qual o governo sírio cederia o controle dessas armas.
Poderia ser semelhante ao feito com o Iraque, onde uma resolução do Conselho de Segurança forçou o país a declarar e destruir suas armas químicas. Certos militares já estão se preparando para esse cenário na Síria, segundo Rothbacher.
A Rússia propôs na segunda-feira que a Síria poderia evitar uma ação militar dos EUA, para puni-la pelo suposto uso de armas químicas em um ataque em Damasco no mês passado, ao concordar em colocar seus estoques sob controle internacional.
O programa sírio de armas químicas, criado nos anos 1970 com assistência do Irã e da Rússia, e suprimentos de material químico de empresas ocidentais, foi planejado como forma de contenção a Israel.
Órgãos de inteligência ocidentais calculam que o estoque esteja espalhado por dezenas de instalações e inclua centros de desenvolvimento e de pesquisa e múltiplas áreas de produção, algumas delas subterrâneas.
Além do Egito e Israel, a Síria é um dos sete países não signatários da Convenção de Armas Químicas, de 1993, supervisionada pela Organização pela Proibição de Armas Químicas, com sede em Haia.
Mesmo que a Síria cumpra o plano proposto pela Rússia, a história mostra que não há garantia de um caminho tranquilo.
Tática de gato-e-rato
A guerra civil na Síria, iniciada em 2011, já custou a vida de 100 mil pessoas, excluindo cerca de 1.400 que teriam sido mortas em um ataque com gás em Damasco, em 21 de agosto.
"Quando estávamos posicionados em Bagdá chegavam mísseis de cruzeiro, e nós saíamos todos os dias para a destruição", disse Rothbacher, que agora é sócio de uma consultoria em treinamento sobre armas, a Hotzone Solutions.
Os inspetores começariam mapeando os lugares suspeitos de serem instalações de armas e visitando-os, depois, juntando armas e munições em uma área construída especificamente para a destruição do arsenal.
"Os iraquianos tinham transferido todas as suas munições. Eles mudaram o grosso (das armas químicas). Eles as espalharam, o que tornou muito mais difícil o nosso trabalho", afirmou Rothbacher , descrevendo como as forças de Saddam tentaram minar os esforços dos inspetores.
Autoridades dos EUA acreditam que a Síria esteja mudando seus estoques de local, o que dificultará o levantamento do arsenal.