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Chilenos fazem protesto de preto e marcam três meses de crise

Desde 18 de outubro, a convulsão social registrou 29 mortes e milhares de feridos. A confiança na polícia foi de 57% para 17%

Protesto no Chile: insatisfação sobre preço da passagem virou revolta geral (Henry Romero/Reuters)

Protesto no Chile: insatisfação sobre preço da passagem virou revolta geral (Henry Romero/Reuters)

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AFP

Publicado em 18 de janeiro de 2020 às 12h02.

Última atualização em 18 de janeiro de 2020 às 18h01.

Milhares de pessoas foram às ruas de Santiago neste sábado 18, vestidas de preto, para protestar em silêncio contra os abusos cometidos pela polícia do Chile para reprimir a maior crise registrada desde o fim da ditadura e pedir a renúncia do presidente do país, Sebastián Piñera.

Batizado como "Marcha contra a Repressão", o protesto partiu da Praça da Itália, epicentro do movimento que abala o país desde outubro do ano passado e completa três meses hoje, terminando no Palácio de la Moneda, sede do governo.

No local, os manifestantes taparam um dos olhos com as mãos, em homenagem às mais de 400 pessoas que sofreram ferimentos oculares causados por disparos feitos pelas forças de segurança.

Três meses de crise

O Chile, que há três meses vive a maior crise democrática dos últimos 30 anos, continua com os ânimos alternando entre violência, angústia e esperança. O atual estado do país reflete a insatisfação social com o modelo econômico vigente, que ignorou o seu bem-estar social.

Desde que a crise começou, nenhum político abraçou a causa defendida nas ruas de Santiago. Os manifestantes, por sua vez, continuam fazendo convocações de protestos nas ruas por meio das redes sociais, e as sextas-feiras já se tornaram dias clássicos para concentração e protestos nos arredores da Praça Itália.

Conforme o habitual, sob o sol quente do verão, mais de 1.000 pessoas se concentraram nesta sexta-feira 17 na Praza Itália, epicentro das manifestações em Santiago. O local foi rebatizado como "Praça Dignidade" pelos manifestantes.

Enquanto alguns se reuniam no local símbolo dos protestos, outro grupo enfrentava a polícia em ruas próximas, um dia antes de que se completem oficialmente os três meses do início da crise, em 18 de outubro.

O presidente Sebastián Piñera, um empresário milionário de 70 anos, que cumprirá metade do seu mandato em março, é o pior presidente avaliado nos últimos 30 anos, com apenas 6% de aprovação.

A confiança em relação aos Carabineiros de Chile, a polícia admirada por 57% da população em 2015, hoje é uma das instituições mais desprestigiadas, com apenas 17% aprovação.

"Essa institucionalidade do Chile é tão rígida, tão sólida em sua estrutura, que tem problemas para lidar com o terremoto social que existe hoje", ressalta Matías Fernández, professor de sociologia da Universidade Católica do Chile, à AFP.

Desde 18 de outubro, a convulsão social registrou 29 mortes, milhares de feridos e mais de 350 foram feridos gravemente nos olhos por material explosivo lançado pela polícia durante os protestos.

"Não sei como vamos sair dessa situação, espero que de uma forma positiva para todos os chilenos", disse à AFP a arquiteta Cecilia Vergara, de 40 anos, que costuma participar das manifestações.

O plebiscito que decidirá se haverão mudanças na Constituição - herdada da ditadura de Pinochet - está previsto para o próximo 26 de abril.

Em resposta ao momento de tensão pelo qual passa o país, Piñera afirmou na última quinta-feira 16 compreender que "os chilenos não estejam felizes com o que tem acontecido". "Eu também não estou", ressaltou o presidente, acrescentando que está disposto "a colocar as mãos à obra para ajudar os chilenos e resolver seus inúmeros problemas".

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