Anthony Fauci: reguladores europeus concluíram que imunizante não aumenta risco de coágulos e trombose, mas, nos EUA, vacina enfrenta outros problemas (Al Drago/Pool/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 23 de março de 2021 às 15h16.
Última atualização em 23 de março de 2021 às 15h16.
A AstraZeneca informou que vai divulgar em 48 horas os resultados mais atuais dos testes clínicos finais com sua vacina contra a Covid. A decisão vem após críticas de uma agência científica do governo dos EUA, que declarou que a análise da eficácia da vacina incluía informações antigas.
Os resultados publicados na segunda-feira foram baseados em uma análise provisória de dados disponíveis até 17 de fevereiro, segundo comunicado divulgado pela AstraZeneca. A empresa irá “se envolver imediatamente” com o painel independente que monitora os testes para compartilhar a análise baseada nos últimos dados sobre eficácia.
O Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA declarou na noite de ontem que o comitê de monitoramento encarregado de garantir a segurança e precisão dos testes com a vacina expressou preocupação com os resultados que incluíam informações desatualizadas.
O instituto comandado por Anthony Fauci pediu que a AstraZeneca trabalhe com o comitê para “garantir que os dados de eficácia mais precisos e atualizados sejam apresentados ao público o mais rápido possível”.
Na segunda-feira, a AstraZeneca anunciou que a vacina demonstrou 79% de eficácia na prevenção da Covid-19, com base em um teste clínico realizado nos EUA com mais de 30.000 voluntários. A vacina, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford e considerada uma das principais candidatas para ajudar a conter a pandemia, tem enfrentado uma série de complicações.
A vacina agora é motivo de disputas com a União Europeia relativas a abastecimento. Há alguns dias, preocupações com o risco de coágulos sanguíneos levaram mais de uma dezena de países a suspender campanhas de imunização com o produto.
“A última coisa que esta vacina precisa é de mais preocupações quando nós achávamos que já havíamos solucionado todas as outras preocupações”, disse Paul Griffin, professor de medicina da Universidade de Queensland em Brisbane, que está conduzindo testes clínicos na Austrália com quatro vacinas contra a Covid-19.
Após o Reino Unido e outros países liberarem sua vacina, a AstraZeneca se prepara para pedir aprovação do órgão que regula alimentos e medicamentos nos EUA (Food and Drug Administration ou FDA). Esse sinal verde agora poderá ser adiado.
A eficácia apurada nos testes realizados nos EUA foi superior à taxa de 70% relatada pela AstraZeneca em um estudo anterior. No entanto, os dados eram uma média de diferentes leituras — 62% e 90% — de dois segmentos do teste.
Devido a um erro de fabricação, um grupo de participantes recebeu uma primeira dose mais baixa em comparação com aqueles que receberam duas doses padrão. Uma análise mais aprofundada sugeriu que a discrepância não foi gerada pela quantidade, mas pela diferença de dosagem.
O Comitê de Monitoramento de Dados e Segurança, que é um painel independente, também comunicou suas preocupações em relação aos resultados à própria farmacêutica britânica e à Autoridade de Desenvolvimento e Pesquisa Biomédica Avançada, uma agência do governo dos EUA que ajudou a financiar a criação da vacina.
O estudo “se referia a informações desatualizadas e é difícil imaginar como informações desatualizadas poderiam ser incluídas, já que essas vacinas são tão novas”, afirmou o professor Griffin, que é especializado em infectologia e microbiologia. “A impressão que tive foi que eles estavam se referindo a algo muito significativo.”