Macron e Putin (foto de arquivo): estatal russa Gazprom cortou fornecimento de gás da França (Alexander Zemlianichenko/Pool/Reuters)
Da redação, com agências
Publicado em 17 de junho de 2022 às 12h36.
Última atualização em 17 de junho de 2022 às 14h03.
Depois de a estatal russa Gazprom cortar parte de seu fornecimento de gás à Alemanha e outros países europeus, França e Itália também relataram nesta sexta-feira, 17, problemas no recebimento de gás russo. As movimentações acontecem em meio ao quarto mês de guerra na Ucrânia e as recentes declarações de líderes europeus de que apoiam a entrada ucraniana na União Europeia.
A França não recebe um único metro cúbico desde quarta-feira, 15, segundo anunciou hoje a operadora local GRTgaz. A Itália também teve redução no fornecimento, embora não corte total, de acordo com a empresa de energia local Eni.
A Itália recebe da Rússia 40% de seu gás importado. A França recebe 17%, um dos europeus que menos dependem da compra com os russos — o que, para analistas, explica em parte a tentativa do presidente Emmanuel Macron de se colocar na linha de frente das negociações.
Na semana passada, a estatal russa Gazprom já havia cortado deliberadamente o fornecimento de gás à Alemanha, anteriormente sua maior compradora (agora ultrapassada pela China). O gás russo chega à Alemanha pelo gasoduto Nord Stream 1.
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A GRTgaz disse não saber precisar o motivo do gás zerado na França. Como a maior parte das importações de gás do país vem via Alemanha no Nord Stream 1, a França pode também ter sido impactada.
Moscou tem citado problemas de manutenção, o que é rechaçado pelos governos.
Na quinta, durante visita a Kiev, na Ucrânia, o chefe do governo italiano, Mario Draghi, qualificou de "mentiras" as explicações dadas pela Gazprom para justificar a redução da oferta, incluindo operações de manutenção.
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"A Gazprom não precisa de nenhuma justificativa. É uma decisão política do Kremlin. Está cortando de forma diferenciada para quebrar a unidade europeia", diz o especialista Thierry Bros, professor do Instituto Sciences Po de Paris, à AFP.
Nesta quinta-feira, Draghi, Macron e o chanceler alemão, Olaf Scholz, fizeram sua primeira visita à Ucrânia desde o início da guerra, em 24 de fevereiro. Os líderes disseram apoiar a entrada da Ucrânia na União Europeia. Horas depois, já nesta sexta, a Comissão Europeia também recomendou a aceitação da adesão ucraniana, decisão vista como "histórica" por Kiev.
Uma série de países tiveram corte no gás russo recentemente, em retaliação de Moscou contra a resposta europeia à guerra na Ucrânia. O fluxo foi totalmente interrompido para Polônia, Bulgária e Finlândia, e reduzido para a Áustria, além das próprias Itália e Alemanha.
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Moscou pressiona onde mais dói e joga com a vulnerabilidade energética dos europeus, que consomem em média 40% do gás procedente da Rússia. Esse percentual é ainda maior em alguns países, de 55% no caso da Alemanha, e 85%, da Bulgária.
Na maioria dos países europeus, a escassez de gás ainda não é sentida, pois em pleno verão não é necessário ligar o aquecimento. Mas é justamente no período de verão que os países costumam reabastecer suas reservas, com o objetivo de estocar pelo menos 80% até novembro na UE.
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A queda nas entregas eleva os preços, o que será caro para as indústrias, especialmente na Alemanha, cujas fábricas, muitas vezes diretamente conectadas a gasodutos, precisam de grandes quantidades de gás nas indústrias química, siderúrgica, de cimento e fertilizantes.
Nesta semana, o ministro da Economia e do Clima alemão e vice-chanceler, Robert Habeck (dos Verdes), foi à televisão estatal pedir que cidadãos economizem energia. "Não devemos ter ilusões, estamos em confronto com Putin", disse o ministro.
(Com informações da AFP)