Apoiado pelos árabes, Gantz sai na frente para tentar formar governo
Lista Unida fez história ao recomendar Gantz, sendo a primeira vez desde 1992 que um grupo árabe indica um candidato israelense
EFE
Publicado em 23 de setembro de 2019 às 08h33.
Última atualização em 23 de setembro de 2019 às 11h26.
Jerusalém — Após a primeira rodada de consultas com o presidente de Israel , Reuven Rivlin, o centrista Benny Gantz, vencedor do voto popular nas eleições da semana passada, obteve o apoio da Lista Unida, que agrupa os partidos árabes, superando assim o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em número de recomendações para tentar formar governo.
Neste domingo, as cinco delegações mais votadas nas últimas eleições se reuniram com o presidente em sua residência oficial, em Jerusalém, para dar suas recomendações para primeiro-ministro.
As consultas, que foram transmitidas ao vivo para todo o país, começaram com uma reunião com parlamentares da coalizão centrista Azul e Branco, liderada por Gantz, que obteve 33 das 120 cadeiras, duas a mais que o Likud, de Netanyahu.
Moshe Ya'alon, que liderou a delegação do partido na reunião com Rivlin, recomendou, como esperado, Gantz como primeiro-ministro e reiterou a vontade de seu partido de formar um governo de unidade "nacional e liberal", com "todos os partidos sionistas, incluindo o Likud", embora "sem extremistas".
Depois foi a vez do Likud, cuja delegação foi chefiada pelo ministro do Turismo, Yariv Levin, recomendando que o atual premier tente formar um novo governo.
Durante seu encontro com Rivlin, Levin reiterou que sua legenda e o restante dos partidos de direita e ultra-ortodoxos manterão uma posição conjunta e negociarão como bloco e, da mesma forma que feita por Netanyahu no dia seguinte ao pleito, chamou a Gantz que se junte a eles e formem um governo "estável", que seja "amplo e de união nacional".
A Lista Unida, que conquistou 13 cadeiras nas eleições, fez história ao recomendar Gantz, sendo a primeira vez desde 1992 que uma lista árabe indica um candidato israelense para o cargo.
"Nos transformaram em um grupo ilegítimo para a política israelense, e como eles querem nos substituir, tomaremos nosso lugar", disse o presidente Ayman Odeh, líder da lista, explicando sua decisão argumentando, que "o mais importante é tirar Netanyahu do poder".
Antes dessa decisão, o atual primeiro-ministro respondeu com um vídeo onde aponta que há duas possibilidades de formação do governo, sendo uma de gabinete de união nacional, presumivelmente chefiado por ele, e a outra um governo de minoria, liderado por Gantz e com o apoio dos partidos árabes, que Netanyahu acredita "rejeitar Israel como um Estado judeu e democrático e glorifica os terroristas que assassinam soldados e cidadãos".
Depois foi a vez do Shas, partido ultra-ortodoxo liderado por Aryeh Deri, que conseguiu nove cadeiras e que ratificou o acordo estabelecido na semana passada com o bloco de partidos de direita e ultra-ortodoxos e explicou que sua legenda, da mesma forma que o restante do tal bloco, recomenda Netanyahu como primeiro-ministro.
Por último, o partido Israel Nosso Lar, liderado por Avigdor Lieberman e que obteve 8 assentos, esteve representando pelo parlamentar Oded Forer, e informou que seu presidente não recomendaria nenhum candidato e reiterou seu desejo de um governo de unidade que inclua o Azul e Branco e o Likud.
Essa decisão se deve, segundo Lieberman, a impossibilidade de recomendar Netanyahu, um aliado dos partidos ultra-ortodoxos aos quais sua formação se opõe, ou Gantz, que obteve a recomendação da Lista Unida Árabe, à qual o líder da Israel Nosso Lar é considerado um "inimigo".
Com a recomendação da Lista Unida, Gantz chega ao número de 46 parlamentares que o apoiam para tentar formar governo, enquanto, neste momento, o Likud tem 40.
Amanhã, outros quatro partidos com cadeiras na Knesset (Parlamento) que darão suas respectivas recomendações a Rivlin.
Enquanto o partido ultra-ortodoxo Judaísmo Unido pela Torá (8 cadeiras) e o extrema-direita Yamina (7) prometeram recomendar Netanyahu, os outros dois, Trabalhismo-Guesher (6 cadeiras) e União Democrática (5), asseguraram que indicarão Gantz.
Se as expectativas se confirmarem, Gantz obteria um total de 57 recomendações, e Netanyahu, 55, com isso, seguindo a lógica histórica de recomendar quem tiver mais indicações, Rivlin recomendaria ao líder da Azul e Branco a formação do governo.
A partir desse momento, Benny Gantz teria 28 dias para fazê-lo, com a possibilidade de o presidente lhe conceder uma prorrogação de 14 dias se ele não obtiver êxito.
Se falhasse, seria a vez de Netanyahu, que teria o mesmo tempo do rival.
Durante suas consultas com os partidos, Rivlin deixou claro hoje que sua intenção é a formação de um governo de unidade "estável" entre Azul e Branco e Likud, um cenário que continua sendo o mais provável, embora ainda seja preciso definir quem o lideraria e se teria ou não a participação de Netanyahu, que tem programado uma audiência com o procurador-geral do Estado no próximo 3 de outubro, quando uma acusação contra ele por corrupção poderia ser formalizada.