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Donald Trump, presidente eleito dos EUA, e Xi Jinping, dirigente chinês (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 10 de novembro de 2024 às 17h27.
Última atualização em 10 de novembro de 2024 às 17h31.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, planeja fazer das tarifas alfandegárias a pedra angular de sua política econômica, sob o risco de gerar intermináveis guerras comerciais das quais os agricultores americanos poderiam ser vítimas.
"Vejo este novo mandato com muita preocupação", reconhece Michael Slattery, produtor de grãos em Wisconsin, à AFP.
O primeiro governo de Trump foi marcado por grandes aumentos de impostos sobre as importações, especialmente sobre os produtos chineses, o que levou a medidas de retaliação de Pequim contra os produtos agrícolas americanos.
Esta medida custou caro a Slattery. Entre 2017 e 2018, sua renda caiu em mais de US$ 25.000 (R$ 91.355 na cotação da época) por ano, o que foi parcialmente compensado pela ajuda do governo, que cobriu apenas metade do que ele deixou de ganhar.
Na época, o presidente republicano havia imposto tarifas sobre US$ 300 bilhões (R$ 1 trilhão na época) em produtos chineses para pressionar a China a concordar com negociações comerciais que equilibrariam a balança comercial das duas potências, em grande parte deficitária para os EUA.
Pequim respondeu com medidas recíprocas, atingindo especialmente a soja, que Slattery produz e cujas vendas para a China caíram.
De acordo com o Departamento de Agricultura, as exportações agrícolas perderam US$ 27 bilhões (R$ 106,5 bilhões) entre meados e o final de 2019. Deste total, 95% da queda se deveu à China.
"Não tínhamos dinheiro para pagar nossas contas nem mesmo para viver apenas de nossa produção", contou à AFP Ted Winter, produtor de grãos em Minnesota.
O custo também foi de longo prazo: os importadores chineses procuraram comprar em outros lugares e, mesmo que o acordo comercial alcançado em 2020, pouco antes da pandemia de coronavírus, tenha impulsionado as exportações de produtos agrícolas americanos, os agricultores da maior potência mundial perderam partes do mercado.
"As tarifas alfandegárias levaram nossos clientes a encontrar os alimentos que precisavam em outro lugar", enfatizou Winter.
Para Slattery, "o mais preocupante é que isso colocou em risco décadas de trabalho para estabelecer relações comerciais".
Agora, Trump quer ir ainda mais longe, com tarifas de 10 a 20% sobre todos os produtos que entram no país, e de 60% e 100% sobre os produtos chineses.
A medida colocaria os produtos agrícolas americanos na mira de qualquer retaliação comercial, desta vez, em escala mundial.
A soja e o milho, em particular, poderiam estar "entre os primeiros alvos das tarifas" de países estrangeiros, segundo estimativa de um relatório conjunto de outubro, feito por associações de produtores de sementes oleaginosas e grãos.
O apoio federal pode permitir que os produtores suportem a mudança por um tempo, mas, a longo prazo, a perda de participação no mercado os prejudica, observou o economista-chefe da Associação Americana de Produtores de Soja (ASA), Scott Gerlt.
O relatório das associações de produtores de grãos estima que um novo capítulo na guerra comercial com a China significaria o retorno das tarifas aplicadas por Pequim aos produtos dos EUA, que desapareceram com o acordo de 2020.
Diante desta perspectiva, estima-se que as exportações de soja dos EUA para a China poderiam cair em mais de 50% em relação aos volumes atuais.
Concorrentes como Argentina e Brasil se beneficiarão a longo prazo, com possíveis compradores em todo o mundo preferindo recorrer a países vistos como parceiros comerciais mais confiáveis do que os Estados Unidos, alertou Gerlt.
"Vimos outros países abrirem seus mercados, como o Egito por um tempo, por exemplo. Mas nenhum deles é capaz de substituir o mercado chinês", observou.
No entanto, as áreas rurais votaram em grande parte em Trump e, em particular, nos candidatos republicanos nas eleições locais e para o Congresso, na esperança de que sua situação econômica melhorasse.
A inflação dos últimos três anos e, principalmente, o aumento dos preços da energia, pesaram muito nas finanças do agronegócio nos Estados Unidos.