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Acordo entre UE e Mercosul não deve sair em 2018, diz embaixador europeu

Em entrevista a EXAME, João Cravinho, embaixador da União Europeia no Brasil, reconhece que não houve progresso suficiente nas negociações entre os blocos

Embaixador da UE no Brasil João Cravinho (PAULO MÚMIA / KAS/Divulgação)

Gabriela Ruic

Publicado em 21 de setembro de 2018 às 16h59.

Última atualização em 21 de setembro de 2018 às 18h13.

Rio de Janeiro – O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia está muito perto de se tornar realidade. Contudo, apesar das expectativas iniciais de que as negociações poderiam ser concluídas em 2018, a aguardada assinatura que encerraria duas décadas de tratativas não deve acontecer ainda neste ano. É o que estima João Gomes Cravinho, embaixador da delegação da União Europeia no Brasil.

No Rio de Janeiro para participar da XV Conferência Internacional de Segurança do Forte de Copacabana, organizada pela Fundação Konrad Adenauer (KAS, Alemanha) em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), Cravinho concedeu uma breve entrevista a EXAME na qual discutiu temas como o acordo comercial entre os blocos, a relação da UE com o Brasil e a crise na Venezuela . Veja abaixo:

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EXAME - O acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia está em negociação há 20 anos. Quais os maiores entraves para a sua concretização?

João Cravinho – Infelizmente, não houve suficiente progresso para finalizarmos o acordo agora, como queríamos. Nossa expectativa anterior era a de que isso aconteceria no primeiro semestre de 2018. Depois, que seria possível no terceiro trimestre.

Agora, período eleitoral, não é o momento para se tomar grandes decisões. Posso dizer que estamos perto, falta muito pouco, mas o que falta é importante. Acreditamos que em alguns meses será possível retomar as negociações e finalizar um acordo que terá muito significado para todos os envolvidos.

EXAME - Quando, afinal, esse acordo será assinado?

João Cravinho - Quando for possível superar as diferenças que ainda existem. E creio que isso significa que será quando houver um novo governo, um capaz de assumir essa responsabilidade, porque, embora esse governo continue em função até 31 de dezembro, acho difícil assumir essa responsabilidade. Contudo, estamos abertos. Quando o governo brasileiro nos disser que está pronto para avançar, nós estaremos disponíveis. Mas acho difícil que isso aconteça antes do final do mandato.

EXAME - Como a União Europeia está enxergando a disputa eleitoral no Brasil? Qual a expectativa do bloco para o próximo governo?

João Cravinho – Nós somos democracias e, portanto, entendemos o que é um processo democrático. Não há qualquer dificuldade nisso, respeitamos o processo democrático brasileiro, que nos dá total confiança. Na história do Brasil, desde a redemocratização, sempre pudemos trabalhar com os líderes que surgiram da escolha dos brasileiros. Há valores muito importantes que compartilhamos e acreditamos que, a partir de janeiro de 2019, haverá um governo que compartilhará desses mesmo valores.

EXAME - Estamos observando uma crise no multilateralismo, que vem sendo colocado à prova pelas políticas protecionistas, especialmente dos Estados Unidos. Há alguma preocupação no bloco que essa onda se fortaleça no Brasil?

João Cravinho - A economia brasileira já é altamente protecionista. Portanto, acho que se for mais protecionista ainda, o impacto será muito negativo para a economia brasileira. Julgo que seria um retrocesso grande para o Brasil, que está pouco integrado nas cadeias de valor globais, cada vez maiores nos tempos em que vivemos. A penalização seria muito mais para o Brasil que para outras partes do mundo.

Dito isso, apesar disso que você falou e tem razão, estamos conseguindo tecer uma malha muito significativa de acordos internacionais, que não são de livre-comércio, são preferenciais, mas regrados, e olham para questões ambientais, laborais, procuram trazer os benefícios da globalização para todos.

Já temos um com o Canadá e recentemente fechamos com o Japão. Na América Latina, temos com o México e estamos próximos de fechar com o Chile, creio que até o fim do ano. Essa malha é muito significativa e está se alastrando. Queremos que o Mercosul participe desse processo, mas vamos ter de esperar um pouco para que isso aconteça.

EXAME - O bloco doou mais de 100 milhões de reais para ajudar o reassentamento de famílias venezuelanas que buscaram refúgio no Brasil. Como o senhor avalia a resposta do governo brasileiro para essa crise até o momento?

João Cravinho - Sabemos o que é sofrer um fluxo inesperado e creio que o ponto de partida tem de ser humanitário. Temos obrigações com as pessoas que fogem, que não fazem isso por gosto ou mera aventura, mas porque as circunstâncias em que vivem são insuportáveis. E isso merece nossa consideração e respeito.

O governo brasileiro enviou o exército para a fronteira de Roraima em fevereiro de 2018 e isso fez uma enorme diferença. Roraima é um estado pequeno, pobre, que por si só não tem capacidade de acolher esse fluxo migratório. Quando se olha para as dimensões do Brasil, no entanto, o fluxo de venezuelanos é pequeno. Acredito que a solução está em ajudar essas pessoas, distribuí-las pelo país. A prazo, é necessária uma coesão melhor a nível federal.

EXAME – Como o bloco enxergou a declaração recente do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos sobre uma possível intervenção militar na Venezuela?

João Cravinho - Acredito que não há na história da América Latina exemplos de intervenções militares bem-sucedidas e não vejo como podemos imaginar que a Venezuela seja o primeiro. Há outras soluções: imediatamente, o diálogo, a criação de pontes entre as diferentes visões para o futuro da Venezuela. É preciso a solidariedade dos países vizinhos e da Europa. Não acredito que o futuro desse país passe por uma intervenção militar.

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