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A história do único fugitivo da pior prisão norte-coreana

Shin Dong-hyuk nasceu em uma prisão que tem sua existência negada pelo governo da Coreia do Norte e da qual conseguiu fugir. Hoje é ativista e testemunha da ONU

Shin Dong-hyuk, ex-prisioneiro do Campo 14, na Coreia do Norte: hoje ativista, Dong-hyuk é a única pessoa de que o mundo tem notícias que conseguiu escapar desta prisão (Chip Somodevilla/Getty Images)

Gabriela Ruic

Publicado em 28 de outubro de 2014 às 11h01.

São Paulo - Shin Dong-hyuk nasceu em uma prisão para presos políticos chamada informalmente como “Campo 14” e cuja existência é negada pelo governo da Coreia do Norte . Hoje com 32 anos de idade, ele é a única pessoa de que se tem notícia que conseguiu escapar deste local. Lá, a maioria dos presos nasce e vive por toda a vida, mas jamais são libertados.

Dong-hyuk virou um ativista de direitos humanos e é fundador da organização não governamental ( ONG ) Liberty for North Korea. Sua história veio à tona nesta semana, depois da publicação de um vídeo produzido pelo governo norte-coreano e no qual ele é retratado como um criminoso.

O vídeo, que parece ter o objetivo de prejudicar o seu testemunho e descreditar a sua história de vida, também mostra seu pai, que Dong-hyuk pensava estar morto. “Crie juízo e volte para abraçar o partido”, diz o frágil senhor. Para o ativista, ele foi tomado como refém. “Creio que a mensagem é que se eu não me calar, eles irão matá-lo”, disse em entrevista à Reuters.

O ativista é uma testemunha chave da Organização das Nações Unidas (ONU) nas investigações da entidade sobre violações de direitos humanos na Coreia do Norte. Seu relato se tornou ainda um dos fundamentos do processo movido pela entidade no Tribunal Penal Internacional.

Vida no Campo 14

Sua história é impressionante. Dong-hyuk é filho de dois prisioneiros que obtiveram a permissão para dormirem juntos como recompensa por “bom comportamento”, mas que jamais mantiveram uma relação amorosa. Viveu com a mãe até os 12 anos e viu seu pai poucas vezes.

Como a maioria das crianças que nasceu naquele local, Dong-hyuk foi treinado pelos guardas do campo para dedurar atividades suspeitas com as quais tivesse contato. A atitude lhe rendia, por exemplo, um pouco mais de comida.

Um dia soube dos planos de fuga de sua mãe e de seu irmão. Dong-hyuk, então com 14 anos, contou tudo aos guardas esperando pela recompensa, que veio de forma torta. Foi retirado de sua casa e torturado para que revelasse os detalhes do plano. Em troca, ganhou cicatrizes de queimaduras e o peso da culpa pela morte de sua mãe, que foi enforcada em seguida.

Alguns anos depois, o norte-coreano começou a trabalhar na fábrica de tecidos da prisão, onde conheceu o homem que mudaria sua vida. Seu nome era Pak e, segundo relatos de Dong-hyuk, deveria ter uns 40 anos de idade.

Pak já havia viajado por muitos países e contou histórias sobre todas as guloseimas que havia provado e que gostaria de comer mais uma vez. As conversas aos poucos começaram a trazer ao ativista a ideia de liberdade e ele passou a questionar o confinamento que conheceu desde o nascimento.

Meses depois, a dupla estava coletando lenha no topo de uma montanha, bem próxima das cercas eletrificadas que isolavam o campo do mundo exterior. Correram até elas, na tentativa de escapar. Pak ficou preso nos arames e acabou morrendo. Ao vê-lo paralisado, Dong-hyuk usou o seu corpo para se proteger dos choques e conseguiu escapar para a Coreia do Sul.

Estima-se que, atualmente, cerca de 200 mil pessoas encontram-se presas nos campos de prisioneiros políticos na Coreia do Norte. Entidades que lutam pela liberdade no país calculam que mais de 300 mil conseguiram fugir do país nos últimos anos. Dong-hyuk é um deles, mas é o único que deixou o Campo 14.

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Dong-hyuk virou um ativista de direitos humanos e é fundador da organização não governamental ( ONG ) Liberty for North Korea. Sua história veio à tona nesta semana, depois da publicação de um vídeo produzido pelo governo norte-coreano e no qual ele é retratado como um criminoso.

O vídeo, que parece ter o objetivo de prejudicar o seu testemunho e descreditar a sua história de vida, também mostra seu pai, que Dong-hyuk pensava estar morto. “Crie juízo e volte para abraçar o partido”, diz o frágil senhor. Para o ativista, ele foi tomado como refém. “Creio que a mensagem é que se eu não me calar, eles irão matá-lo”, disse em entrevista à Reuters.

O ativista é uma testemunha chave da Organização das Nações Unidas (ONU) nas investigações da entidade sobre violações de direitos humanos na Coreia do Norte. Seu relato se tornou ainda um dos fundamentos do processo movido pela entidade no Tribunal Penal Internacional.

Vida no Campo 14

Sua história é impressionante. Dong-hyuk é filho de dois prisioneiros que obtiveram a permissão para dormirem juntos como recompensa por “bom comportamento”, mas que jamais mantiveram uma relação amorosa. Viveu com a mãe até os 12 anos e viu seu pai poucas vezes.

Como a maioria das crianças que nasceu naquele local, Dong-hyuk foi treinado pelos guardas do campo para dedurar atividades suspeitas com as quais tivesse contato. A atitude lhe rendia, por exemplo, um pouco mais de comida.

Um dia soube dos planos de fuga de sua mãe e de seu irmão. Dong-hyuk, então com 14 anos, contou tudo aos guardas esperando pela recompensa, que veio de forma torta. Foi retirado de sua casa e torturado para que revelasse os detalhes do plano. Em troca, ganhou cicatrizes de queimaduras e o peso da culpa pela morte de sua mãe, que foi enforcada em seguida.

Alguns anos depois, o norte-coreano começou a trabalhar na fábrica de tecidos da prisão, onde conheceu o homem que mudaria sua vida. Seu nome era Pak e, segundo relatos de Dong-hyuk, deveria ter uns 40 anos de idade.

Pak já havia viajado por muitos países e contou histórias sobre todas as guloseimas que havia provado e que gostaria de comer mais uma vez. As conversas aos poucos começaram a trazer ao ativista a ideia de liberdade e ele passou a questionar o confinamento que conheceu desde o nascimento.

Meses depois, a dupla estava coletando lenha no topo de uma montanha, bem próxima das cercas eletrificadas que isolavam o campo do mundo exterior. Correram até elas, na tentativa de escapar. Pak ficou preso nos arames e acabou morrendo. Ao vê-lo paralisado, Dong-hyuk usou o seu corpo para se proteger dos choques e conseguiu escapar para a Coreia do Sul.

Estima-se que, atualmente, cerca de 200 mil pessoas encontram-se presas nos campos de prisioneiros políticos na Coreia do Norte. Entidades que lutam pela liberdade no país calculam que mais de 300 mil conseguiram fugir do país nos últimos anos. Dong-hyuk é um deles, mas é o único que deixou o Campo 14.

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