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A estranha fascinação de Trump por Putin

"Putin é, em certo modo, o que Trump sonha ser", diz um especialista em Rússia.

Donald Trump: para especialista, Putin é, em certo modo, "o que Trump sonha ser" (John Moore/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 6 de agosto de 2016 às 11h03.

Washington — A estranha fascinação de Donald Trump por Vladimir Putin quebrou o discurso clássico direcionado à Rússia nas eleições presidenciais dos EUA e deu a Moscou a desculpa perfeita para tentar influenciar no resultado do pleito, mas não é suficiente para esclarecer como a relação bilateral pode mudar se o magnata chegar ao poder.

Em um dos murais mais fotografados de Vilnius, a capital lituana, Trump dá um beijo na boca em Putin. É uma versão moderna de uma pintura de 1990 no muro de Berlim, que tinha como protagonistas um líder soviético e outro da Alemanha do Leste. Mas nesta ocasião, os "amantes" têm os olhos abertos, atentos.

O candidato republicano elogiou reiteradamente Putin, chamando-o de "líder forte" que sabe como dirigir seu país, e chegou a assegurar que os dois se davam "muito bem", antes de se retratar na semana passada e reconhecer que, na realidade, "nunca" o conheceu pessoalmente.

O presidente russo lhe devolveu os elogios, ao afirmar em dezembro que Trump é uma pessoa "brilhante e de talento", o "líder absoluto na corrida presidencial" dos Estados Unidos.

Mas na afinidade entre Putin e Trump há um claro desequilíbrio: é o magnata quem tem há décadas uma estranha fascinação com a Rússia, quem mais questionou o "status quo" entre as duas potências e quem parece preferir o estilo do líder russo ao de qualquer dos últimos presidentes de seu país.

"Trump aspira ser o tipo de líder que é Putin, enquanto Putin simplesmente está elogiando Trump por razões práticas e políticas. Putin é, em certo modo, o que Trump sonha ser", explicou à Agência Efe Michael Kofman, um especialista na Rússia do centro de estudos Wilson Center.

Como Putin, Trump acredita ter se conectado profundamente na psicologia de seu povo, uma sensação visceral de que seu país perdeu a força que costumava ter, e vê no líder russo um reflexo do vigor que ele gostaria exibir desde a Casa Branca.

O diretor da revista "The New Yorker", David Remnick, que foi correspondente na Rússia durante muitos anos, escreveu em artigo esta semana que Putin "vê em Trump uma grande oportunidade" e aproveita para "explorar" essa "ignorância" para seu próprio benefício.

"Atormentado por seus próprios problemas em casa, Putin vê um claro benefício em ter os Estados Unidos liderado por um narcisista que acredita que as questões geoestratégicas são tão fáceis de resolver como um acordo imobiliário", sustentou Remnick.

Ainda mais contundente se mostrou o ex-diretor da CIA Michael Morell em artigo nesta sexta-feira no jornal "The New York Times".

"Ao começo das primárias, Putin pôs a toda prova a vulnerabilidade de Trump ao bajulá-lo, e ele respondeu justo como Putin tinha calculado (...). No negócio da inteligência, diríamos que Putin recrutou Trump como um agente involuntário da Federação Russa", opinou Morell.

As derrapagens de Trump nas entrevistas não o ajudaram a combater essa imagem: no domingo passado disse à rede "ABC News" que Putin "não vai se meter na Ucrânia", algo que depois tratou de regular dizendo que se referia ao fato de que não haverá mais interferências russas nesse país se ele chegar ao poder.

Na mesma entrevista, Trump também pareceu justificar a anexação da Crimeia, ao assegurar que seus moradores "preferem estar com a Rússia do que onde estavam antes, e é levar isso em conta".

As dúvidas de Trump sobre a Otan mostram seu brusco desvio da tradicional política americana em direção à Rússia, e cada vez são mais os que o tacham de "marionete de Putin" nos veículos de imprensa dos EUA.

Para Stephen Cohen, professor emérito de estudos russos na Universidade de Princeton, esses tipos de caracterizações de Trump são "irresponsáveis" e desviam a atenção de uma série de "perguntas legítimas" que os EUA devem que fazer sobre sua política atual.

Trump "parece querer uma nova política americana com relação à Rússia. E levando em conta o perigo (da tensão atual), acredito que como cidadãos americanos merecemos esse debate", declarou Cohen na semana passada à rede de televisão "CNN".

A aproximação do magnata com a Rússia se encaixa, segundo outros analistas, com suas próprias ambições como empresário e a sensação de história inacabada que deixaram suas muitas tentativas de construir uma Torre Trump em Moscou e de vender sua própria vodca nesse país.

Segundo a revista "Time", vários projetos de Trump fora dos EUA tiveram financiamento russo, e um dos assessores de sua campanha, Carter Page, tem laços com a companhia petrolífera estatal russa, Gazprom.

Com esse panorama, muitos veem claro por que a Rússia poderia se interessar em hackear os e-mails do Comitê Nacional Democrata e debilitar Hillary Clinton justo quando ia ser coroada candidata presidencial, como denuncia sua campanha.

Mas Trump "também é imprevisível e volúvel", o que, segundo Kofman, não convém demais a Putin e faz impossível prever como mudaria a relação se o magnata que bajula o Kremlin conseguir chegar à Casa Branca.

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Em um dos murais mais fotografados de Vilnius, a capital lituana, Trump dá um beijo na boca em Putin. É uma versão moderna de uma pintura de 1990 no muro de Berlim, que tinha como protagonistas um líder soviético e outro da Alemanha do Leste. Mas nesta ocasião, os "amantes" têm os olhos abertos, atentos.

O candidato republicano elogiou reiteradamente Putin, chamando-o de "líder forte" que sabe como dirigir seu país, e chegou a assegurar que os dois se davam "muito bem", antes de se retratar na semana passada e reconhecer que, na realidade, "nunca" o conheceu pessoalmente.

O presidente russo lhe devolveu os elogios, ao afirmar em dezembro que Trump é uma pessoa "brilhante e de talento", o "líder absoluto na corrida presidencial" dos Estados Unidos.

Mas na afinidade entre Putin e Trump há um claro desequilíbrio: é o magnata quem tem há décadas uma estranha fascinação com a Rússia, quem mais questionou o "status quo" entre as duas potências e quem parece preferir o estilo do líder russo ao de qualquer dos últimos presidentes de seu país.

"Trump aspira ser o tipo de líder que é Putin, enquanto Putin simplesmente está elogiando Trump por razões práticas e políticas. Putin é, em certo modo, o que Trump sonha ser", explicou à Agência Efe Michael Kofman, um especialista na Rússia do centro de estudos Wilson Center.

Como Putin, Trump acredita ter se conectado profundamente na psicologia de seu povo, uma sensação visceral de que seu país perdeu a força que costumava ter, e vê no líder russo um reflexo do vigor que ele gostaria exibir desde a Casa Branca.

O diretor da revista "The New Yorker", David Remnick, que foi correspondente na Rússia durante muitos anos, escreveu em artigo esta semana que Putin "vê em Trump uma grande oportunidade" e aproveita para "explorar" essa "ignorância" para seu próprio benefício.

"Atormentado por seus próprios problemas em casa, Putin vê um claro benefício em ter os Estados Unidos liderado por um narcisista que acredita que as questões geoestratégicas são tão fáceis de resolver como um acordo imobiliário", sustentou Remnick.

Ainda mais contundente se mostrou o ex-diretor da CIA Michael Morell em artigo nesta sexta-feira no jornal "The New York Times".

"Ao começo das primárias, Putin pôs a toda prova a vulnerabilidade de Trump ao bajulá-lo, e ele respondeu justo como Putin tinha calculado (...). No negócio da inteligência, diríamos que Putin recrutou Trump como um agente involuntário da Federação Russa", opinou Morell.

As derrapagens de Trump nas entrevistas não o ajudaram a combater essa imagem: no domingo passado disse à rede "ABC News" que Putin "não vai se meter na Ucrânia", algo que depois tratou de regular dizendo que se referia ao fato de que não haverá mais interferências russas nesse país se ele chegar ao poder.

Na mesma entrevista, Trump também pareceu justificar a anexação da Crimeia, ao assegurar que seus moradores "preferem estar com a Rússia do que onde estavam antes, e é levar isso em conta".

As dúvidas de Trump sobre a Otan mostram seu brusco desvio da tradicional política americana em direção à Rússia, e cada vez são mais os que o tacham de "marionete de Putin" nos veículos de imprensa dos EUA.

Para Stephen Cohen, professor emérito de estudos russos na Universidade de Princeton, esses tipos de caracterizações de Trump são "irresponsáveis" e desviam a atenção de uma série de "perguntas legítimas" que os EUA devem que fazer sobre sua política atual.

Trump "parece querer uma nova política americana com relação à Rússia. E levando em conta o perigo (da tensão atual), acredito que como cidadãos americanos merecemos esse debate", declarou Cohen na semana passada à rede de televisão "CNN".

A aproximação do magnata com a Rússia se encaixa, segundo outros analistas, com suas próprias ambições como empresário e a sensação de história inacabada que deixaram suas muitas tentativas de construir uma Torre Trump em Moscou e de vender sua própria vodca nesse país.

Segundo a revista "Time", vários projetos de Trump fora dos EUA tiveram financiamento russo, e um dos assessores de sua campanha, Carter Page, tem laços com a companhia petrolífera estatal russa, Gazprom.

Com esse panorama, muitos veem claro por que a Rússia poderia se interessar em hackear os e-mails do Comitê Nacional Democrata e debilitar Hillary Clinton justo quando ia ser coroada candidata presidencial, como denuncia sua campanha.

Mas Trump "também é imprevisível e volúvel", o que, segundo Kofman, não convém demais a Putin e faz impossível prever como mudaria a relação se o magnata que bajula o Kremlin conseguir chegar à Casa Branca.

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