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4 anos em uma prisão de Nicolás Maduro: dissidente conta sua história

Dias após a reeleição de Maduro, dezenas de presos políticos receberam liberdade condicional. Venezuela ainda mantém 275 presos políticos.

Nicolás Maduro: dias depois de sua reeleição, dezenas de presos políticos receberam liberdade condicional (Reuters/Reuters)

Gabriela Ruic

Publicado em 4 de julho de 2018 às 06h00.

Última atualização em 4 de julho de 2018 às 06h00.

Quando Renzo Prieto foi libertado da prisão, no mês passado, seu cabelo batia na cintura.

Após sua prisão em 2014, o líder estudantil venezuelano prometeu não cortar o cabelo enquanto permanecesse atrás das grades - um protesto contra sua prisão por organizar manifestações contra o regime autoritário do presidente Nicolás Maduro .

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Detido durante mais de quatro anos na tenebrosa prisão El Helicoide, Prieto, de 31 anos, foi protegido da maioria dos abusos físicos porque era um preso político.

Mas ele ouviu os gritos de outros detentos sendo torturados, viu as contusões, os cortes e as queimaduras deles e participou de uma greve de fome durante 15 dias exigindo liberdade.

Prieto, agora um membro do impotente congresso, passou mais tempo como preso político do que qualquer outro representante eleito venezuelano.

"É um recorde que eu gostaria de não ter", disse ele, em entrevista no dia 22 de junho. "Mas é um recorde que aceito, se isso significa impedir que algo assim aconteça novamente."

Maduro concedeu liberdade condicional a dezenas de dissidentes presos depois de conquistar uma reeleição amplamente condenada na tentativa de evitar a escalada das sanções e o isolamento internacional. Alguns foram exilados. Aqueles que permanecem são oficialmente impedidos de falar com a imprensa, mas Prieto forneceu um raro relato em primeira mão de um sistema desaprovado internacionalmente.

A Bloomberg News não conseguiu corroborar muitos detalhes, mas sua história coincide com relatos de organizações independentes defensoras de direitos. No mês passado, a Organização dos Estados Americanos acusou a Venezuela de crimes contra a humanidade, incluindo tortura, estupro e mais de 8.000 execuções extrajudiciais.

Pedidos de comentários enviados ao ministro da Informação, Jorge Rodríguez, não foram respondidos.

Sem julgamento

Prieto, que nega ter cometido delitos, foi detido inicialmente sob acusações como tráfico de drogas, associação criminosa, posse de explosivos, fabricação de armas - e bloqueio do tráfego. Muitas foram retiradas posteriormente, mas isso não teve relevância: ele nunca chegou a apresentar seu caso. O julgamento foi adiado mais de 30 vezes, porque a polícia se recusou a levá-lo ao tribunal ou porque o juiz simplesmente não apareceu.

Na prisão, Prieto nunca ficou sozinho, observando como ela enchia ao longo dos anos à medida que o governo prendia mais e mais dissidentes. Em determinado momento, ele dividiu a cela com outros 15 presos, e muitos dormiam em colchões no chão. Prieto disse que lhe foi negado ar puro nos primeiros seis meses. Guardas ameaçaram confiná-lo em uma cela apertada ou em um banheiro por desobedecer a ordens ou simplesmente por falar com outros detentos.

Ele passava os dias fazendo retratos de santos e personagens religiosos com papel alumínio descartado, jogando batalha naval em pedaços de papel e se exercitando. Ainda assim, ele teve mais sorte do que a maioria. Prieto diz que testemunhou prisioneiros algemados e vendados durante dias ou forçados a dormir em escadarias infestadas de ratos. Os guardas batiam com tábuas nas nádegas dos detentos até elas ficarem roxas.

De repente, livre

Então, dias após a reeleição de Maduro, Prieto e dezenas de presos políticos receberam liberdade condicional.

"Eu vou fazer o que puder - do lado de fora - para melhorar as condições e conquistar a liberdade para todos aqueles que continuam atrás das grades", disse ele.

Segundo o grupo jurídico Foro Penal, a Venezuela ainda mantém 275 presos políticos.

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