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Dólar perto do recorde? Com inflação, só se chegar a R$ 7,70

Considerado o diferencial de inflação, moeda superou os 7 reais três vezes na história do Brasil

Dólar: maior marca nominal foi em setembro de 2018 (TARIK KIZILKAYA/Getty Images)

Dólar: maior marca nominal foi em setembro de 2018 (TARIK KIZILKAYA/Getty Images)

TL

Tais Laporta

Publicado em 29 de agosto de 2019 às 07h15.

Última atualização em 27 de novembro de 2019 às 17h52.

São Paulo — O dólar bateu um novo recorde histórico frente ao real? Sim e não, a depender do ponto de vista. A maior cotação nominal da moeda até aqui foi de 4,2398 reais no fechamento desta terça-feira (26). Mas quando se aplica a inflação do período, a moeda dos Estados Unidos ainda estaria bem longe de sua maior marca, batida em 2002. 

O economista Gesner Oliveira, sócio da GO Associados, calculou que o recorde real do dólar, no patamar atual, seria próximo de R$ 7,70.

Para fazer essa conta, ele aplicou as inflações do Brasil e dos EUA desde o dia 22 de outubro de 2002, quando o dólar chegou a R$ 3,95. Essa conta leva a uma taxa de câmbio real. A taxa real é útil para enxergar o poder de compra do brasileiro em reais e em dólar em diferentes períodos. Isso aconteceu com o chamado risco Lula, quando o ex-presidente estava prestes a ser eleito pela primeira vez.

Isso também o que defende o economista e diretor da LCA Consultores, Celso Toledo. Por tal ótica, a moeda americana superou 7,00 reais três vezes na história do Brasil: em 1984, 1985 e 2002. 

Naquele ano, o câmbio nominal médio foi de 2,92 reais - mas desde então a inflação acumulada no Brasil superou, em muito, a americana. “Olhando desta forma, já estivemos em situação mais miserável no passado quando se trata de poder de compra nos EUA”, afirma Toledo.

Já para o estrangeiro que investe no Brasil e pretende levar seu dinheiro de volta ao país de origem, é a taxa nominal que interessa. Ou seja, os atuais 4,23 reais, pelo fechamento desta quarta-feira (26).

Com um olhar de curto prazo, é correto afirmar que o dólar na faixa de R$ 4,20 é, sim, um recorde histórico, afirma Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora. “A correção não influencia o dia a dia do mercado”, defende. Em sua visão, não há necessidade de aplicar qualquer correção para entender a cotação atual da moeda, já que o câmbio se comporta como uma taxa flutuante.

Por que o dólar disparou?

Ao cravar que é melhor o Brasil se acostumar com um dólar alto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, talvez não imaginasse que a declaração levaria o câmbio a um estresse ainda maior. O Banco Central tentou acalmar o mercado após a moeda quebrar um novo recorde, atingindo o pico nominal de quase 4,28 reais nesta terça-feira (26). As intervenções no mercado à vista ajudaram, mas só como um paliativo.

A recente escalada do dólar desafia a tese de que a aprovação da reforma da Previdência e a agenda liberal do governo seriam as condições que faltavam para a moeda americana alcançar seu valor justo, fixado abaixo de 4 reais. Projeções mais otimistas chegaram a ver o dólar entre R$ 3,50 e R$ 3,80 ao longo do ano, tomando como base este cenário construtivo. Aconteceu o contrário. Agora, economistas e agentes do mercado atribuem o enfraquecimento do real a um coquetel de fatores que não estavam na conta, como a queda da Selic, uma possível percepção ruim sobre o Brasil e fatores internacionais.

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