Startup que ajuda na gestão de loteamentos recebe aporte de R$ 5 milhões
A Hent, fundada em 2019, tem um software que automatiza processos de administração de loteamentos imobiliários
Carolina Ingizza
Publicado em 8 de junho de 2020 às 11h00.
Última atualização em 8 de junho de 2020 às 13h29.
A vontade de trabalhar juntos fez os empreendedores Leonardo Pinho, David Aragão e Thiago Diniz criarem a startup Hent em 2019. Os três já haviam fundado empresas de sucesso e vendido para outras companhias quando perceberam que era hora de empreender novamente. Dessa empreitada nasceu uma plataforma de gestão de loteamento imobiliários que acaba de receber um aporte de 5 milhões de reais, liderado pelo fundo brasileiro Canary (Loft, Gupy).
"O mercado de loteamentos é ainda muito fragmentado e low-tech no Brasil, por isso, vimos uma grande oportunidade à frente da Hent. Também é importante destacar que estamos falando de um time de fundadores experiente. São second-time founders, preparados tanto para resolver um problema antigo e difícil, como para atrair bons talentos para ajudá-los nessa empreitada", diz Marcos Toledo, co-fundador e sócio diretor do Canary.
Antes da Hent, Leonardo Pinho era um dos fundadores da Kaplen, fintech vendida em 2015 para o Itaú. Já David Aragão era um dos sócios da Motonow, empresa de delivery comprada para a Loggi em 2015. Thiago Diniz, por sua vez, foi um dos criadores da startup de eventos Eventick, adquirida pela Sympla em 2016.
Como funciona
A Hent oferece um software para que donos de loteamentos comerciais possam administrar seu negócio de forma simplificada.A empresa cobra cinco reais por mês por lote ativo pelo software.
Segundo Pinho, os maiores problemas de um loteador profissional no Brasil são inadimplência, que gira em torno de 18% a 22%, alto custo de processamento financeiro e alto custo operacional com os funcionários. A proposta da startup é facilitar todos esses processos em uma plataforma que padroniza os contratos de venda, emite e envia os boletos para os compradores e faz a cobrança deles posteriormente.
Hoje a Hent está implementando 25.000 lotes de três clientes. Por conta da crise do coronavírus, as taxas de inadimplência dos compradores saltaram para cerca de 75%, o que dificulta a prospecção de novos clientes. A expectativa dos sócios é conseguir retomar o crescimento nos próximos meses e terminar 2020 administrando 45.000 unidades.
Com o capital recebido no investimento, a meta é contratar mais pessoas para a equipe da startup. Pinho afirma que a empresa planeja ser muito cautelosa na crise, priorizando a validação do modelo de negócio antes de investir muito do capital recebido. “Focamos em controle financeiro e paciência para achar o nosso product market fit”, diz o cofundador e presidente da startup.
Trajetória do negócio
A Hent foi criada inicialmente para ajudar as imobiliárias que existem no Brasil a digitalizar suas operações. Em poucos meses, os fundadores perceberam que não era um modelo escalável e fizeram um software para ajudar proprietários a gerir o aluguel de seus imóveis.A startup se responsabilizaria por emitir boletos e garantir a comunicação com os inquilinos em troca de uma taxa sobre os valores transacionados.
Com essa proposta, os sócios foram aprovados no programa de aceleração do Y Combinator nos Estados Unidos em dezembro do ano passado. Enquanto trabalhavam para cumprir as metas do programa, começaram a receber pedidos dos clientes brasileiros para fazer um software similar para gestão de loteamentos. Faltando um mês para o dia de apresentação, decidiram dar uma chance para o mercado de lotes.
Nas duas primeiras semanas em que tentaram o novo segmento, conseguiram 110.000 potenciais lotes clientes para a Hent. No modelo anterior, demoraram cinco meses para chegar a marca de 1.600 apartamentos. O contraste entre os números fez os sócios decidirem por uma última mudança de rumo no negócio. A estratégia deu certo. No programa de aceleração, a Hent conseguiu 150 mil dólares e, no Brasil, levantou mais 750 mil.
Crédito é o futuro
O projeto de longo prazo da Hent é trabalhar com concessão de crédito. A empresa percebeu que com a organização financeira do loteamento, seria mais fácil para os loteadores acessarem capital no mercado. “Falei com dezenas de fundos e recebi um feedback de que não conseguem trabalhar com loteamento no Brasil”, diz Pinho.
Durante a crise, a startup já está intermediando a obtenção de crédito para capital de giro entre alguns loteadores e fundos. A expectativa dos sócios é ter, daqui a dois meses, uma plataforma formalizada de acesso a crédito.
A longo prazo, a Hent quer oferecer crédito tanto para o loteador que pretende investir em outros projetos tanto para compradores que normalmente não acessariam crédito imobiliário no mercado tradicional. A garantia da operação seria o próprio lote comercializado.
Para o fundador, a principal vantagem para a Hent entrar no mercado de crédito seria a facilidade na aquisição de clientes. “Enquanto outras fintechs tem um custo de aquisição de clientes alto porque precisam pescar no oceano, a gente pesca na piscina, que é a base do loteador que precisa do nosso software”.