Economia

Até bilionários recuam diante de preços de mansões londrinas

Apesar da crise financeira global, preços em Londres subiram 23 por cento em relação ao seu pico anterior, em março de 2008


	Casa mais cara de Londres: desde 2009, mais propriedades de luxo mudaram de mãos em Londres do que em qualquer outra cidade
 (Divulgação)

Casa mais cara de Londres: desde 2009, mais propriedades de luxo mudaram de mãos em Londres do que em qualquer outra cidade (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 18 de novembro de 2013 às 21h06.

Londres - “Nós tivemos ofertas de cerca de 25 milhões de libras, mas elas não foram altas o suficiente”, diz Noel de Keyzer, corretor veterano da Savills Plc, uma agência imobiliária com sede em Londres.

Estamos de pé em um quarto familiar subterrâneo surpreendentemente iluminado debaixo do jardim do 29 Brompton Square, em Knightsbridge, à venda por 27,5 milhões de libras. Desenhos de borboletas do artista Damien Hirst estão pendurados nas paredes cor de terra da casa dos anos 1820 recentemente renovada e mobiliada.

“Eu diria que oito em 10 compradores pegariam uma casa como esta, incluindo seu conteúdo, e mudariam muito pouco o design”, diz de Keyzer.

Ao dizer “uma casa como esta”, de Keyzer se refere às “super-prime” -- designação dada às propriedades com valor acima de 10 milhões de libras (US$ 16 milhões), reporta a revista Bloomberg Pursuits.

Apesar da crise financeira global -- ou, mais precisamente, por causa dela --, os preços em Londres nos bairros de Belgravia, Chelsea, Kensington, Knightsbridge e Mayfair subiram 23 por cento em relação ao seu pico anterior, em março de 2008, segundo a corretora imobiliária Knight Frank LLP.

Desde 2009, mais propriedades de luxo mudaram de mãos em Londres do que em qualquer outra cidade, incluindo Hong Kong, Nova York e Cingapura; no ano passado, a cidade respondeu por cerca de um terço das cerca de 300 vendas globais de propriedades super-prime, segundo uma pesquisa da Savills.

Mercado de casas de luxo

O medo, assim como a cobiça, impulsiona o mercado super-prime. Apesar de um terço dos compradores de casas de luxo em Londres serem britânicos, predominam estrangeiros em busca de segurança. Xeques do petróleo querem uma apólice de seguro contra a Primavera Árabe. Os franceses ricos fogem do novo regime tributário do presidente François Hollande.


Indivíduos com altíssimo patrimônio líquido da periferia da zona do euro -- Chipre, Grécia, Itália, Portugal -- têm procurado trocar ativos da zona da moeda única para a libra. Para os russos, diz de Keyzer, “o fator Putin” -- ou seja, o medo de uma repentina mudança nos ventos políticos -- não pode ser subestimado. Os russos e os cidadãos das antigas repúblicas soviéticas indiscutivelmente lideram o mercado entre os compradores estrangeiros, diz Tim Wright, sócio da Knight Frank especializado em imóveis de luxo.

Esse é o empurrão. Eis a atração: para qualquer magnata dos mercados emergentes, uma casa em Londres confere um status de “cheguei”. E há também o prestígio de uma educação britânica.

“Seus filhos vão para a Eton ou a Harrow”, diz de Keyzer, citando os dois mais famosos internatos britânicos. “Londres é preferida nesse ponto em relação a Paris”.

Matt Griffith, um membro associado do Instituto para a Pesquisa de Política Pública de Londres, aponta outro traço menos virtuoso.

“É uma maneira muito fácil de lavar dinheiro”, diz ele. “É uma forma de legitimar uma riqueza de origem duvidosa e em grande escala, o que é difícil fazer com outros tipos de ativos”.

Em março, a Savills vendeu o número 1 da Cornwall Terrace em Regent’s Park, em Londres, por 80 milhões de libras, a venda mais cara até o momento neste ano, rendendo à corretora pelo menos 1,2 milhão de libras. Considerando os aumentos crescentes em preços desde a crise financeira, há quem se preocupe que o mercado de casas de luxo de Londres seja uma bolha prestes a explodir.

“É difícil dizer se é uma bolha porque as pessoas não estão comprando em métricas tradicionais de investimento”, diz Griffith, do Instituto para a Pesquisa de Política Pública de Londres.

Wright, da Knight Frank, insiste que qualquer bolha no mercado já se dissipou -- e que, por mais perverso que isso possa parecer, os compradores super-prime de hoje querem “valor”, mesmo a esses preços estratosféricos.

“Eles não pagarão a mais”, diz Wright. “Se você colocar o preço de uma propriedade em 30 milhões de libras quando ela deveria custar 25 milhões, você não a venderá rapidamente”.

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