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Roche investe em medicina personalizada para combater o câncer

Farmacêutica suíça usará banco de dados de hospitais brasileiros para fazer análise genômica de tumores

Roche: evolução tecnológica promove mudanças no modelo de negócios (Bloomberg/Bloomberg)
RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 20 de dezembro de 2019 às 13h03.

A farmacêutica suíça Roche firmou uma parceria com três hospitais brasileiros para a troca de informações sobre tumores. O objetivo é criar um grande banco de dados que será usado para desenvolver novas formas de combater o câncer. Participam da iniciativa o Hospital do Amor, de Barretos (SP), o Instituto do Câncer de São Paulo (ICESP) e o Hospital das Américas, do Rio de Janeiro.

Serão investidos 8 milhões de reais no projeto, cujo foco é a realização de análises genômicas de tumores. Esse investimento se soma aos 39 milhões de reais que a farmacêutica investiu em pesquisas clínicas no Brasil, em 2019.

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A iniciativa faz parte de uma agenda ampla de mudanças que a empresa adotou nos últimos anos. A meta é criar um modelo de negócios baseado na medicina personalizada, conceito que une a genética com a tecnologia da informação para criar diagnósticos mais precisos, evitando tratamentos desnecessários, que geralmente causam efeitos colaterais severos.

Segundo Padraic Ward, chefe de operações comerciais da empresa, a medicina, especialmente a área de oncologia, passa por um momento de grande transformação e a quimioterapia deixará de ser a única maneira de combater os tumores. “O tratamento do câncer irá mudar radicalmente”, afirmou Ward a Exame. A abordagem genérica da quimioterapia, que, basicamente, mata tudo o que estiver no caminho na esperança de eliminar o câncer, dará lugar a uma abordagem personalizada, em que cada pessoa terá um tratamento diferente com base nas suas características genéticas.

Graças à análise genômica dos tumores, é possível desenvolver remédios biológicos que combatem especificamente as células cancerígenas, sem os enormes efeitos colaterais dos quimioterápicos. Ao mesmo tempo, a ciência descobriu que o local onde o câncer ocorre no corpo não é tão importante quanto o tumor em si. Ou seja, o câncer de pele de uma pessoa pode ser semelhante ao câncer de pulmão de outra pessoa.

Para encontrar o tratamento mais eficaz, portanto, é preciso comparar cada novo caso com os que já foram resolvidos. E isso depende da chamada big data, conjunto de tecnologias que permite a análise de enormes quantidades de dados em pouco tempo. É nesse contexto que se insere a parceria da Roche com os hospitais brasileiros. Os dados do projeto serão combinados com uma biblioteca própria da empresa que conta com 260 mil casos tratados, de várias partes do mundo. Projetos similares já existem No Canadá, na Croácia, em Taiwan e no Reino Unido.

A evolução tecnológica tem provocado mudanças importantes no modelo de negócios da Roche, cujo faturamento no ano passado foi de 57 bilhões de dólares. A empresa está deixando de produzir remédios químicos – o que causou o fechamento de uma fábrica no Brasil – para se concentrar nas áreas de biomedicina e de diagnósticos. Ward afirma que as mudanças estão apenas no começo.

Segundo o executivo, a cura do câncer nunca esteve tão próxima. Embora não seja possível estabelecer um prazo para que a ciência e a medicina descubram um tratamento definitivo, o nível de conhecimento adquirido sobre a doença já permite a visualização de um caminho. E ele passa pela análise genômica dos tumores e a criação desses grandes bancos de dados. Num cenário hipotético, imaginando que todos os tumores existentes tenham sido mapeados, um paciente com câncer submeteria seus dados genéticos a esse grande banco de dados e o sistema faria uma análise comparativa, identificando o tratamento que melhor se encaixe na situação, com grandes chances de sucesso.

Desenvolver essa biblioteca sobre tumores é a grande competição em curso no mercado farmacêutico, diz Ward, esforço que atrai, inclusive, empresas de outros setores, como Google, Amazon e IBM. “Eu vejo a Roche competindo com as empresas de tecnologia”, afirma o executivo. “Não sabemos como será nosso modelo de negócio no futuro. Pode ser que, com o avanço da biomedicina e dos diagnósticos, a gente passe a vender a cura de uma doença, não o remédio”, diz ele.

Nesse modelo, o paciente pagaria apenas se o tratamento for bem-sucedido, o que muda completamente a lógica comercial do setor de saúde. Ward afirma, no entanto, que isso é apenas uma hipótese, sem previsão de ser colocada em prática. De qualquer maneira, para ele, está claro que, num futuro não tão distante, todo o sistema de saúde terá de ser revisto.

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