Renda é indicador impreciso para o Brasil, afirma consultor
Para Ricardo Neves, diretor da ITC Consultoria, elevado grau de informalidade do país impede que renda seja um indicador confiável para planejamentos estratégicos das empresas
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h54.
Apenas 3,1% dos brasileiros têm renda mensal superior a dez salários mínimos. Na outra ponta, 21,8% da população economicamente ativa ganha até 260 reais por mês. Com o aumento do custo de vida e a queda do poder aquisitivo, a maior parte do dinheiro vai para o consumo de itens básicos, como alimentos, o que reduz a capacidade de poupança e de aquisição de bens mais sofisticados. Em 1974, 74% da renda familiar ia para o consumo de itens básicos. Em 2002, a porcentagem subiu para 82,41%. Mas, segundo Ricardo Neves, diretor da consultoria ITC, as empresas que se detiverem nesses números estarão planejando suas ações sobre dados pouco precisos.
"A análise da renda dos brasileiros não basta para entender a vitalidade do nosso mercado consumidor, porque ignora que parte da economia é informal", afirma Neves, que participou nesta quinta-feira (9/9) doseminário Marketing em Foco, promovido pelas revistas EXAME e Meio&Mensagem. Neves, que já trabalhou para organismos internacionais como o Banco Mundial, afirma que "há um paradoxo entre os dados de renda e de consumo".
Esse descasamento é expresso em situações concretas, como as vendas do varejo. Segundo reportagem da revista EXAME , de cada 100 clientes da Casas Bahia, 70 não têm como comprovar sua renda. Ainda assim, a empresa possui 14 milhões de clientes e lidera o setor varejista no país. Para Neves, da ITC Consultoria, casos como esse indicam que as empresas devem adotar novos critérios para seu planejamento estratégico, menos focados na renda formal e mais no poder de consumo do público-alvo.
Atendimento diferenciado
O maior risco de traçar o perfil do mercado baseado em sua renda é nivelar diferenças entre os consumidores que poderiam ser mais exploradas como novos filões de negócio, segundo Neves. "Em última análise, as pessoas se recusam cada vez mais a ser massificadas", diz.
Neves critica a própria metodologia do IBGE para a coleta de informações sobre renda. Segundo ele, o procedimento é impreciso, porque a informação é fornecida pelo entrevistado, o que dá margem para distorções, como o rebaixamento deliberado do valor informado ou a ocultação de rendas extras, como as informais. "Estamos diagnosticando mal a sociedade", afirma.
Daniela Picoral | |
Pela manhã, painelistas abordaram as mudanças do mercado consumidor brasileiro |
Promovido pelas revistas EXAME e Meio & Mensagem, o seminário Marketing em Foco é um ciclo inédito de palestras voltado para a relevância do marketing na gestão das empresas, a valorização das marcas e a atualização profissional.
Nesta quinta-feira (9/9), empresários, executivos da iniciativa privada debatem como aproveitar as novas oportunidades de um mercado consumidor cada vez mais segmentado. O tema das palestras de hoje, que ocorrem no hotel Gran Meliá, em São Paulo, é o Brasil Consumo Como explorar esse potencial. Os debatedores do painel da manhã ( foto ) foram, da esquerda para a direita: Ricardo Neves, da ITC, Osvaldo Coni Jr., da Tigre, Marco Moreno, da SAP, Flávio Ferrari, do Ibope, Eduardo Nunes, do IBGE, Marina Campos, da Lowe, e Ricardo Monteiro, da Procter&Gamble. Para ter mais informações sobre o seminário, clique aqui e visite o site do Marketing em Foco .