Sucessão Familiar: quais os principais desafios?
André Freire explica como empresas familiares podem superar os principais desafios que costumam ameaçar os processos de sucessão e governança
Colunista
Publicado em 8 de abril de 2024 às 13h41.
Última atualização em 8 de abril de 2024 às 13h42.
Como consultor, lido todos os dias com empresas familiares em seus diversos graus de estrutura, governança e profissionalização. Quando uma empresa é criada, potencialmente a última coisa que o fundador está pensando é no processo sucessório.
Ele está apaixonado por uma ideia, resolveu tirá-la do papel e arriscar capital e tempo em um país complexo como o Brasil para colocar seu sonho de pé. Na sua grande maioria, tem energia para fazer acontecer e um espírito empreendedor.
Ocorre que o tempo passa, a empresa vai crescendo e se tornando complexa, algumas competências necessárias para a sustentabilidade e crescimento do negócio podem não existir e momentos econômicos ou sociais podem chacoalhar os planos. Além disso, como a grande maioria dessas empresas nasce em núcleos familiares, existem expectativas de que as novas gerações possam levar o negócio adiante, sejam elas explícitas ou veladas.
Levanto abaixo os 10 principais desafios que encontro trabalhando com essas empresas em seus processos de sucessão e governança:
1 - Resistência à mudança
os membros da família podem resistir à mudança e se apegar às práticas tradicionais, mesmo que não sejam mais eficazes, visando manter o controle do negócio dentro do núcleo familiar. É a falsa sensação de que ninguém pode fazer melhor do que a gente que concebeu a ideia e tem paixão pelo negócio.
2 - Comunicação deficiente
A comunicação aberta e honesta é essencial para uma sucessão familiar bem-sucedida, mas pode ser difícil para os membros da família se comunicarem de forma eficaz, especialmente sobre questões delicadas. Facilmente as discussões empresariais se confundem com temas pessoais e familiares, e o lado emocional é muito latente nesse escopo.
3 - Conflitos de interesse
Os membros da família podem ter interesses conflitantes, o que pode dificultar a tomada de decisões no melhor interesse da empresa. Já vi diversos casos de irmãos que querem um futuro totalmente antagônico para o negócio, ou que estão em momentos de vida ou financeiros muito diferentes. Tudo isso afeta o processo.
4 - Falta de preparação
Os sucessores podem não estar adequadamente preparados para assumir funções de liderança na empresa. Assessments e uma visão externa e isenta via consultores, mentores ou conselheiros deve ser o caminho para entender se os sucessores familiares estão preparados, têm esse potencial para estarem ou mesmo se querem trabalhar no negócio. Quase sempre é melhor ser um bom acionista e herdeiro do que um mau CEO.
5 - Favoritismo
Os membros da família podem favorecer certos familiares na sucessão, o que pode criar ressentimento e desconfiança entre os outros membros. É normal que existam favoritos, mas essa decisão deve ser fundamentada e não subjetiva.
6 - Emoções
As emoções podem prejudicar o processo de sucessão, especialmente quando os membros da família estão sob estresse ou têm expectativas conflitantes. Quando lidam com as empresas que criaram, muitos empresários tomam decisões emocionais ao invés de racionais. Um balanço entre ambas é vital para a saúde do negócio.
7 - Falta de planejamento
A falta de planejamento adequado pode levar a uma sucessão caótica e malsucedida. Como comentei acima, a maioria dos fundadores acredita que a próxima geração é pior do que a deles e que alguém de fora nunca poderia fazer melhor. Aliás, 90% dos meus clientes não se prepararam para esse momento de sucessão, o que demanda tempo e esforço.
8 - Dinâmica familiar
A dinâmica familiar existente pode influenciar o processo de sucessão de forma positiva ou negativa. É muito importante separar discussões familiares das profissionais. Conselhos de família servem para isso, as discussões de trabalho devem se restringir aos conselhos e ao corpo executivo.
9 - Resistência externa
A empresa pode enfrentar resistência externa de funcionários, clientes ou outras partes interessadas que não estão prontas para aceitar um novo líder. Isso acontece porque a cultura do “dono” é a regra aceita. Muitas empresas são a personificação do seu fundador e controlador, cabe a ele balancear isso. A empresa tem vida própria e ela não pode ser o “CPF” do fundador.
10 - Questões tributárias e legais
A sucessão familiar pode levantar questões tributárias e legais complexas que precisam ser cuidadosamente gerenciadas. Temas como acordos de acionistas, planejamento sucessório, entre outros devem ser prioridade em grupos familiares, pois muitas vezes esses entraves podem atrapalhar um processo de profissionalização, venda ou governança.
Superar essas dificuldades requer tempo, planejamento cuidadoso, comunicação aberta, preparação adequada e uma vontade de trabalhar juntos, como uma família.