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A ascensão dos fundos ESG no Brasil: investir em sustentabilidade como estratégia de rentabilidade

Otacilio Soares da Silva Filho traça um panorama sobre o conceito de investimento ESG, seu crescimento no Brasil, principais desafios e oportunidades para investidores

Uma das principais vantagens dos investimentos ESG é a mitigação de riscos. (iStock/Reprodução)

Publicado em 23 de outubro de 2024 às 09h35.

Nos últimos anos, o conceito de investimentos ESG, que leva em conta critérios ambientais, sociais e de governança, ganhou força e se tornou uma tendência marcante no mercado financeiro global. ESG, na prática, avalia como as empresas lidam com questões ambientais, sociais e de governança corporativa. O que antes era visto como um nicho específico, hoje se consolidou como uma estratégia amplamente adotada, com trilhões de dólares sendo geridos sob esses critérios.

No Brasil, essa tendência vem ganhando espaço rapidamente. A busca por investimentos sustentáveis cresce, impulsionada pela maior conscientização sobre questões ambientais e sociais, além de uma percepção crescente de que a sustentabilidade não é apenas vital para o planeta, mas, também, pode gerar retornos financeiros sólidos a longo prazo. O crescimento dos fundos ESG no Brasil, as oportunidades que eles trazem e os desafios que ainda existem merecem uma análise cuidadosa.

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Temos visto um aumento significativo dos fundos ESG no Brasil nos últimos anos. Investidores e gestores de ativos estão cada vez mais alinhando seus portfólios a valores sustentáveis. Dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) indicam que o volume de ativos geridos em fundos ESG no Brasil saltou de alguns bilhões de reais em 2018 para dezenas de bilhões em 2024. Esse movimento sinaliza uma mudança importante na forma como os investidores estão enxergando suas carteiras: não se trata apenas de retorno financeiro, mas também de investir em um futuro mais sustentável.

Ao comparar os fundos ESG com os tradicionais, é interessante notar que muitos desses fundos têm apresentado um desempenho competitivo, frequentemente superando os índices tradicionais. Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, vários fundos ESG no Brasil tiveram um desempenho superior ao de fundos tradicionais. Isso ocorreu porque muitas das empresas com bons critérios ESG estavam mais preparadas para enfrentar os desafios trazidos pela crise.

Alguns fundos ESG no Brasil já se destacam pela sua performance e popularidade entre os investidores. Entre eles, vale mencionar gestores como Itaú, que foca em empresas que adotam práticas sustentáveis, investindo em setores como energia renovável, saneamento e agricultura sustentável; a  XP, que oferece exposição global a empresas que se destacam em critérios ESG, com diversificação geográfica e setorial; e o Bradesco, que foca em empresas brasileiras líderes em práticas ambientais e sociais, especialmente em áreas como energia limpa e inclusão social. Esses fundos demonstram como é possível investir com responsabilidade e, ao mesmo tempo, buscar bons retornos financeiros.

Investir em fundos ESG traz diversas vantagens, especialmente para quem busca combinar retornos financeiros com impacto positivo no mundo. Uma das principais vantagens dos investimentos ESG é a mitigação de riscos.

Empresas que adotam boas práticas ambientais, sociais e de governança tendem a ser mais resilientes, enfrentando menos problemas legais, reputacionais e regulatórios. Por exemplo, uma empresa com uma sólida política ambiental está menos exposta a multas e litígios relacionados à poluição. Da mesma forma, empresas que promovem a diversidade e a inclusão costumam ter uma melhor retenção de talentos e uma reputação mais forte.

Além disso, há evidências crescentes de que esses investimentos podem gerar retornos superiores a longo prazo. Empresas sustentáveis tendem a ser mais inovadoras, têm mais facilidade para atrair capital e mantêm a confiança dos investidores.

No Brasil, vários setores estão naturalmente alinhados com práticas ESG e oferecem boas oportunidades para os investidores. Entre eles, podemos destacar as energias renováveis, saneamento e agricultura sustentável.

O Brasil, com seu enorme potencial para geração de energia solar e eólica, oferece um campo vasto para investimentos em energia limpa. Com o novo marco legal do saneamento básico, o país abriu um grande leque de oportunidades de investimento em infraestrutura de água e esgoto, essenciais para a saúde pública e o meio ambiente.

Sendo um dos maiores produtores agrícolas do mundo, o Brasil tem uma demanda crescente por práticas agrícolas que protejam o meio ambiente e promovam a segurança alimentar. Esses setores não só oferecem oportunidades de crescimento, mas também contribuem significativamente para o desenvolvimento sustentável do país.

No entanto, investir em fundos ESG no Brasil ainda apresenta alguns desafios. Um dos principais é a falta de padronização na medição e no relato de critérios ESG. Diferentes gestores de ativos utilizam metodologias variadas para avaliar o desempenho ESG das empresas, o que pode levar a inconsistências e dificultar a comparação entre fundos.

Além disso, muitas empresas ainda não divulgam informações ESG de maneira completa ou consistente, limitando a capacidade dos investidores de tomar decisões informadas. Para enfrentar esse desafio, é crucial que os gestores de fundos adotem frameworks reconhecidos internacionalmente, como os princípios do Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas) ou os critérios da GRI (Global Reporting Initiative). A transparência na comunicação dos critérios ESG e a auditoria independente das práticas adotadas pelas empresas são fundamentais para garantir a integridade dos fundos ESG.

Outro risco é o "greenwashing", que ocorre quando empresas ou fundos afirmam ser sustentáveis, mas, na prática, suas ações não correspondem a essas alegações. Esse risco é especialmente relevante em mercados emergentes, onde a regulação pode ser menos rigorosa.

Para evitar essa armadilha, os investidores devem fazer uma análise detalhada e rigorosa das práticas reais das empresas e dos critérios utilizados pelos gestores dos fundos. Os fundos que realmente se destacam pela autenticidade de suas práticas ESG e pela transparência em suas operações são os que provavelmente proporcionarão retornos sustentáveis a longo prazo, tanto em termos financeiros quanto de impacto positivo.

A popularização dos fundos ESG tem o potencial de transformar o mercado financeiro no Brasil, incentivando práticas empresariais mais sustentáveis e éticas. À medida que esses fundos ganham popularidade, eles exercem pressão sobre as empresas para melhorar suas práticas ambientais, sociais e de governança.

No Brasil, isso pode resultar em uma maior ênfase em questões como responsabilidade ambiental, direitos trabalhistas e transparência corporativa. Empresas que adotam práticas ESG robustas podem se beneficiar de maior acesso a capital e uma base de investidores mais diversificada.

O crescimento dos fundos ESG também incentiva as empresas a incorporarem práticas mais sustentáveis em suas operações. Empresas que demonstram liderança em ESG são frequentemente recompensadas por investidores com avaliações de mercado mais elevadas, maior lealdade dos clientes e melhores relações com stakeholders. Isso cria um ciclo virtuoso, onde práticas sustentáveis levam a melhores resultados financeiros - o que, por sua vez, atrai mais investimentos ESG.

Os fundos ESG representam uma oportunidade única para os investidores que desejam combinar retornos financeiros com impacto positivo. No Brasil, o crescimento desses fundos reflete uma tendência global que está redefinindo o mercado financeiro. Embora ainda existam desafios, como a medição de critérios ESG e o risco de greenwashing, os benefícios dos investimentos ESG são claros: mitigação de riscos, retornos a longo prazo e contribuição para um futuro mais sustentável.

À medida que o Brasil continua a desenvolver seu mercado ESG, os investidores têm a chance de se posicionar estrategicamente, aproveitando as oportunidades oferecidas por setores alinhados com práticas sustentáveis e influenciando positivamente o mercado financeiro.

A ascensão dos fundos ESG não é apenas uma tendência passageira, mas, sim, um reflexo de uma mudança profunda na forma como vemos o papel dos investimentos na sociedade. Para investidores conscientes, essa é uma oportunidade que não deve ser ignorada.

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