Startup ensina sobre controle de gastos e investimentos pelo WhatsApp
Barkus Educacional desenvolveu um bot humanizado que ensina finanças através da troca de mensagens pelo WhatsApp; foco da startup é classe C e D
Karla Mamona
Publicado em 8 de novembro de 2022 às 07h33.
Foi de um projeto de iniciação científica do Cefet-RJ que surgiu a ideia da Barkus Educacional, startup que ensina educação financeira por meio de plataforma digital. No final da adolescência, Bia Santos, fundadora da empresa, juntamente com mais dois colegas, realizou uma pesquisa sobre o comportamento do consumidor jovem. A conclusão foi que sem educação financeira, os jovens consumiam de forma despreocupada e sem interesse em fazer uma reserva financeira.
A pesquisa foi um marco importante na vida deles porque despertou ainda mais o interesse pelo assunto. A pesquisa também chamou atenção de um professor que trabalhava na área de finanças. Anos depois, este mesmo professor, convidou os ex-alunos para palestrar em um evento sobre educação financeira na bolsa de valores. O convite surgiu porque um dos palestrantes teve um imprevisto e não pode comparecer. Faltando menos de 24 horas para o evento, eles se reuniram novamente e toparam falar sobre a pesquisa que tinham feito na escola anos atrás.
“Depois da palestra, nós percebemos que era com isso que queríamos trabalhar. Educação financeira é o nosso grande propósito. Queríamos trabalhar com algo que gostávamos e que tinha impacto social”, disse Bia Santos, em entrevista à EXAME Invest.
Em 2016, depois de um ano da palestra realizada na B3, os jovens lançaram a Barkus. Nesta época, Bia ainda estudava Administração e Negócios na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Inicialmente, a ideia era fazer palestras para ensinar os jovens a dar os primeiros passos para ter um maior controle financeiro maior.
Em seguida, a empresa desenvolveu uma metodologia para ensinar sobre educação financeira e aplicar em aulas. O foco do negócio é B2B. As empresas contratam os serviços da startup para que ela ensine sobre consumo consciente, endividamento, crédito, organização financeira pessoal, técnicas sobre como poupar mais, como começar a investir, entender o conceito de inflação e juro e como elas afetam o dia a dia, entre outros. Até agora, a Barkus já atendeu mais de 100 mil pessoas.
Educação financeira pelo celular
A startup desenvolveu um bot humanizado que ensina finanças através da troca de mensagens pelo WhatsApp. A ideia é que a pessoa faça um curso de finanças pelo celular. “Escolhemos utilizar o WhatsApp porque ele está na mão de 96% da população brasileira. Conseguimos chegar até um público, que normalmente, as grandes instituições financeiras têm dificuldade de alcançar, são pessoas que têm baixo letramento digital e dificuldade de conexão com internet. Este é exatamente o nosso público.”
Santos diz ainda que a educação financeira para pessoas da classe A e B acaba sendo mais acessível, por isso, ela tem o foco em atender as classes C e D. “A maioria da nossa base é mulher e pessoas negras. Este é nosso público-alvo.” O objetivo da startup é ensinar a lidar com o dinheiro e a investir e dessa maneira, tentar reduzir um pouco a desigualdade social.
Santos explica que pelo celular a taxa de conclusão do curso acaba sendo maior. No mercado de soluções digitais, a taxa de conclusão em cursos educacionais de cerca de 15%, e na Barkus, a taxa média é de 50%. “O WhatsApp facilita muito.”
Com o trabalho desenvolvido, a startup venceu o Programa Meu Bolso em Dia da Federação Brasileira do Bancos e Banco Central e foi um dos negócios investidos pelo projeto Black Founders Fund do Google for Startups. Além disso, foi um dos primeiros negócios de impacto social a receber investimentos via empréstimo de Elie Horn, fundador da Cyrela , no valor de R$ 1 milhão.
Museu
Em agosto deste ano, Bia Santos foi homenageada no Museu da Bolsa do Brasil, criado pela B3 para ressaltar o mercado de capitais do país. A jovem é a única especialista negra que teve menção no acervo.
Para ela, participar desse projeto é uma oportunidade para dar visibilidade às pessoas negras no mercado financeiro, que até então é escasso de representatividade. “A diversidade é uma bandeira que levanto. É uma alegria saber que estou ali, mas surge um sentimento de indignação porque sabemos que tem outros especialistas negros não só na área de educação financeira, mas na área da economia.”