SPX faz cisão de fundo para grandes investidores e vira assunto na Fintwit
Justificativa é a limitação da legislação, que não permite investir parte relevante do patrimônio do fundo de varejo no exterior
Marília Almeida
Publicado em 15 de dezembro de 2020 às 14h30.
Última atualização em 15 de dezembro de 2020 às 17h44.
A gestora SPX não viu saída: optou por cindir quatro feeders do fundo multimercado Nimitz, distribuídos pela XP, pelo Safra, pelo Itaú e pelo Credit Suisse, entre investidores qualificados (que têm ao menos 1 milhão de reais investidos) e não-qualificados. A razão? Uma limitação na legislação, que não permite que fundos voltados para o investidor de varejo tenham mandato para investir mais do que 20% do patrimônio no exterior.
Com planos para se internacionalizar desde 2015, a gestora argumenta ter suportado até onde pôde, mas teve de optar por beneficiar 97% de seus clientes, em detrimento de cerca de 600 investidores não-qualificados. A estratégia do fundo para esses pequenos investidores não muda, mas terá, necessariamente, 50% menos risco do que o dos novos veículos para investidores qualificados, que poderão dobrar a sua exposição ao exterior. Ou seja, ter 40% do patrimônio lá fora.
A asset do Safra já realizou a cisão do Nimitz em setembro, segundo comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os fundos do Itaú e do Credit Suisse também já foram divididos. Resta o da XP, que deve comunicar a sua rede entre esta terça-feira, 15, e amanhã. Fundos feeder são aqueles que aplicam em um fundo master.
Apenas serão cindidos os quatro fundos porque os outros 32 ou já foram lançados apenas para investidores qualificados, desde que a gestora optou por se internacionalizar, ou tinham apenas investidores qualificados entre os cotistas, o que tornou a cisão desnecessária.
Para optar pela cisão, basta realizar uma assembleia simples, na qual os maiores investidores têm maior poder de voto. Caso o fundo seja dividido, os investidores devem necessariamente se qualificar para que sejam transferidos automaticamente para o novo fundo. Ou seja, caso tenham ao menos de 1 milhão de reais investido, devem atualizar o cadastro na corretora e listar esses investimentos.
A decisão causou polêmica entre investidores e consultores financeiros na comunidade do mercado financeiro no Twitter, a Fintwit. Isso porque, mesmo que o investidor não-qualificado tenha adquirido cotas do mesmo fundo que investidores mais ricos, terá potencialmente um retorno menor do que o do novo veículo criado.
A analista Helô Cruz classificou a proposta como "decepcionante". Já outros gestores apontam que um possível favorecimento é culpa da legislação, e não da SPX. Outros especialistas dizem que a SPX poderia ter fechado o fundo para captação e ter criado um novo, específico para o público-alvo. Mas, segundo a gestora, isso não resolveria o problema.
Em entrevista para a EXAME Invest, o sócio da SPX Daniel Schneider argumenta que a cisão dos fundos não foi algo sugerido agora, mas desde o final do ano passado. "Achamos que não era prudente prejudicar 97% dos clientes. Comunicamos a todos que suportamos até onde deu, mas não conseguimos mais aplicar apenas 20% dos fundos lá fora com o tamanho de equipe e estrutura que temos no exterior. Temos 40 pessoas em Londres e 11 pessoas em Nova York. É um investimento grande."
A alta do câmbio dificultou ainda mais, segundo o executivo."Quando o fundo foi lançado, em 2010, o dólar era equivalente a 1,70 real. Hoje, subiu para 5 reais e continuamos com o mesmo limite para investir no exterior. Então temos menos dólares alocados lá fora, o que gera disponibilidade menor para o caixa dos fundos."
Evolução da legislação
Buscando atualizar a legislação, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) colocou em audiência pública e receberá, até abril, sugestões para mudar a norma sobre fundos de investimento. Na discussão está prevista uma flexibilização da lei, o que fará com que fundos de investimento voltados para o varejo possam investir até 100% do patrimônio lá fora.
Em relação à cisão de fundos de investimentos, a autarquia não comenta casos específicos e ressalta que os administradores devem seguir o disposto na ICVM 555, que dispõe sobre a constituição, a administração, o funcionamento e a divulgação das informações dos fundos de investimento, em especial no Capítulo XII.
Não é praxe no mercado, mas, historicamente, alguns fundos já propuseram cisões no mercado. O motivo mais comum, contudo, é que a decisão ocorra quando a gestora deseja "isolar" o cotista em um fundo espelho em determinada instituição financeira. Nesse caso o movimento é claramente desfavorável para o cotista. Caso ele queira sair da corretora, terá dificuldades para pedir portabilidade e a alternativa será realizar o resgate das cotas.
Histórico
Criado em 2010, o fundo SPX Nimitz é o carro-chefe da gestora e segue uma estratégia macro: investe em juros, moedas, ações, commodities e crédito. Desde a sua criação, o fundo acumula rendimento de 218%, contra 78% do CDI.
No acumulado de 2020 até novembro, rendeu 5,54%, enquanto o CDI subiu 2,6%.