PicPay aposta no empréstimo entre amigos e tem solução até para calote
Carteira digital habilitou função inicialmente para 500 mil usuários e pretende formalizar esse segmento do mercado de crédito. Veja como vai funcionar
Marília Almeida
Publicado em 26 de março de 2021 às 06h00.
Última atualização em 29 de março de 2021 às 01h17.
No Brasil é uma prática comum emprestar o nome para amigos e parentes, especialmente em comunidades. Aproveitando da base de 48 milhões de usuários, o PicPay quer monetizar esse comportamento ao lançar o empréstimo entre amigos, um P2P lending "one a one", anunciada com exclusividade para a EXAME Invest .
A funcionalidade foi lançada inicialmente para uma base inicial da operação de 500 mil usuários e deve se estender a todos os usuários do super app nos próximos meses. O empréstimo só poderá ser pedido para quem esteja na agenda de contatos do usuários.
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Segundo Eduardo Chedid, vice-presidente de Serviços Financeiros do PicPay, a maior parte desses empréstimos acontece hoje no país de forma informal. A ideia do app é trazer formalização para esse mercado.
"Ao usar a funcionalidade é automaticamente gerado um contrato entre duas pessoas. O PicPay se responsabiliza pelas interações. Não é o amigo que vai mandar mensagem dois dias antes cobrando o pagamento do valor. Somos nós que vamos fazer isso de forma amigável e estruturada, antes e depois do vencimento", afirma.
E se o amigo não pagar? O app estará pronto para atuar também, mas deixa claro que oferece apenas apoio operacional à operação. Ou seja, não arca com o seu risco. "Temos estrutura jurídica para negativar a pessoa, caso seja necessário. Só não iremos disponibilizar isso de forma automática. Como é uma relação delicada, entre amigos, quem empresta terá de nos procurar para contratar o serviço."
O nicho, diz Chedid, não é atendido por bancos por envolver valores mais baixos, que são pagos em poucos meses. "Se o usuário precisar de 500 reais em dois meses, faz muito mais sentido recorrer a um amigo. É um modelo mais flexível que o banco não alcança. Já para valores maiores, faz mais sentido, naturalmente, buscar um crédito pessoal".
No lançamento, a carteira digital e marketplace de serviços financeiros irá cobrar uma taxa promocional de 0,10% sobre o valor do empréstimo para intermediar a operação, mas isso deve mudar com o tempo.
As taxas do empréstimos são negociadas entre as partes, mas a taxa máxima permitida pelo serviço é de 12% ao mês. O contrato é formalizado junto ao Banco Central através de uma CCB (Cédula de Crédito Bancário), portanto não corre o risco de se enquadrar como agiotagem.
Como usar a modalidade de crédito
Ao clicar em "Meu saldo" no app, basta clicar em "Adicionar" e "Peça para um amigo". Outro caminho é clicar em "Empréstimos e escolher a modalidade "Empréstimo entre amigos".
As propostas serao personalizadas. Por exemplo, quem está desempregado no meio da pandemia, e deseja pedir emprestado a um amigo ou parente um valor para fazer um curso de reciclagem, formula uma proposta na qual haverá espaço para explicar o motivo do empréstimo, valor, prazo de pagamento e juros que poderá pagar pelo crédito.
Caberá então ao amigo ou parente aceitar a proposta recebida. Antes de aprová-la poderá negociar certas condições, como os juros. Tudo pela plataforma.
O PicPay já oferece crédito pessoal com taxas que variam de 1,49% a 8,29% ao mês e tem um cartão de débito e crédito próprio sem anuidade, com cobrança de IOF de 6,38% e saques que custam 6,90 no débito (a partir do 2º saque) e R$ 9,90 no crédito.
Evolução para o empréstimo coletivo
Essa é apenas a primeira fase da funcionalidade. Em um segundo momento, nos próximos meses, a carteira digital deve oferecer também a modalidade de empréstimo coletivo, na qual irá unir investidores (que desejam emprestar dinheiro) a tomadores (que desejam tomar valores emprestados com pagamento de juros).
O P2P Lending é ainda novo no Brasil. Apesar de ter dado origem a empresas gigantescas nos Estados Unidos, ainda engatinha no Brasil. A modalidade de investimento foi regulamentada pelo Banco Central em 2018.
Mas Chedid acredita que ter uma base de clientes já acostumada a operar no ambiente do app, e a reputação da marca, devem incentivar o serviço agora. "Além disso, temos uma feature social, que permite ver interações de amigos na plataforma e incentiva esse produto."
A regulamentação prevê que um investidor possa emprestar a pessoas físicas no máximo 15 mil reais. Para Chedid, é uma fronteira saudável, que poderá evoluir com o tempo.
"Com essa base já é possível construir uma carteira de investimentos na modalidade. Se o usuário tem mil reais para emprestar, é bem melhor emprestar para dez pessoas e diversificar, diluir o risco, do que concentrar apenas em uma."
IPO próximo
Segundo fontes do mercado, o PicPay se prepara para fazer seu IPO. A preferência deve ser pela listagem na Nasdaq, nos Estados Unidos. Questionado sobre o assunto, Chedid não comentou.