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Novos investidores precisam aprender cultura do longo prazo, diz Barsi

O bilionário investidor, conhecido como "rei da bolsa", revela a sua visão estratégica para acumular riqueza com o investimento em ações

Luiz Barsi; Corecon-SP; Economista; Investidor (Germano Lüders/Exame)

Karla Mamona

Publicado em 18 de novembro de 2020 às 05h34.

Última atualização em 19 de novembro de 2020 às 11h37.

Nos últimos dois anos, a bolsa brasileira ganhou cerca de 2,5 milhões de novos investidores. Somente neste ano, a B3 contabiliza 1,4 milhão de novos entrantes, chegando à marca recorde de 3 milhões de pessoas físicas no mercado de capitais no país. O que é motivo de otimismo para muitos com o que vem pela frente, para Luiz Barsi Filho (81 anos), um dos mais experientes investidores do país, é razão de preocupação: ele diz que essa marca é passageira e não deve se sustentar caso a taxa de juros volte a subir no país.

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“Os novos investidores estão no mercado para poder ludibriar o baixo ganho da renda fixa. Quando a renda fixa voltar a gerar ou produzir um resultado melhor do que o atual, eu não tenho dúvida de que os investidores sairão da Bolsa”, afirmou o economista, que tem a fama de "rei da bolsa" e "rei dos dividendos".

Com um patrimônio avaliado em mais de 2 bilhões de reais em ações construído ao longo de 50 anos, Barsi criticou a forma como o brasileiro médio investe. Segundo ele, sem uma cultura de investimento forte, o pequeno investidor vai para Bolsa especular e tentar ganhar no curto prazo. "Eu brinco que eles não compram ações, mas batata quente. O longo prazo dos novos investidores não existe. Eles querem ganhar rápido e fácil e isso não existe. Então ou perdem dinheiro ou não ganham nada.”

Barsi recebeu a Exame Invest na sede do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP). Confira a entrevista abaixo:

Como o senhor avalia a chegada dos novos investidores na bolsa?

Todo este pessoal que chegou não veio convencido de que o segmento acionário é uma excelente opção de investimento. Eles vieram fugindo da renda fixa. Foi uma fuga em massa, já que a renda fixa passou a não oferecer nada. Os novos investidores vivem uma aventura no mercado para conseguir um percentual maior do que teriam no investimento na renda fixa. Para eles, é muito melhor especular na Bolsa do que ficar na ‘perda fixa’.

-(BTG Pactual Digital/Divulgação)

Os novos investidores não têm a consciência de que o mercado é um mercado de investidores. Veja o acontece com o especulador: ele compra uma ação, por exemplo, a R$ 1,00 e, quando o papel chega R$ 1,05, ele vende. O papel vai para R$ 1,10 e ele compra, quando chega a R$ 1,15 ele vende, e assim ele vai. Se tivesse paciência e esperasse para vender a R$ 1,50, ele ganharia 50%. Mas não. Ele especula, ele vende. Eu brinco que este pessoal não compra ações, mas compra batata quente. Se o retorno for de 3%, vendem na hora. A avaliação é que é melhor 3% no dia do que em um mês. Essa é mentalidade que está se formando no mercado.

O senhor acredita que uma hora os novos investidores vão embora da Bolsa?

Sim, tenho absoluta certeza. Eles não se convenceram de que o mercado é de investimentos. Estão no mercado para poder ludibriar o baixo ganho proporcional da renda fixa. Quando a renda fixa voltar a gerar ou produzir um resultado melhor, eu não tenho dúvida de que os investidores voltam.  Quem veio especular não ganha. A maioria perde perde dinheiro no final das operações. E quando ganha são migalhas.

"O brasileiro não tem paciência para investir. Falta cultura de investimento" (Germano Lüders/Exame)

Mas, se perde dinheiro, por que o brasileiro especula?

É por falta de cultura de investimento. Não é uma questão de educação financeira. Na educação financeira, se a pessoa se convence de que ela tem que gastar menos do que ganha, já está educado financeiramente. Agora, cultura de investimento é saber para onde você direciona seus recursos.

O senhor não aplica nada na renda fixa?

A minha renda fixa são as ações. Eu só invisto em ações. Em nada que seja derivativo eu invisto, a não ser que seja lançar algumas opções. E sabe por que eu não invisto? Porque não dá lucro. Eu ganho muito mais com as ações. No início da pandemia, por exemplo, as ações da AES Tietê custavam R$ 1,90. Hoje, elas custam R$ 3,14. A Taesa custava R$ 21. Hoje, custa R$ 30. A Transmissora Paulista de Energia Elétrica custava R$ 19. Hoje, está R$ 25. São papéis que subiram 30% em 8 meses.

O cidadão precisa ter a consciência de que deve esperar o tempo necessário para que a empresa possa gerar riqueza, fazê-la circular e distribuir essa riqueza. O brasileiro não tem cultura e ele tem uma sensação de insegurança muito grande. Ele quer o ganho fácil e rápido. Ele é um agiota por excelência. Tudo que você faz emprestando, você está praticando agiotagem. Quando na verdade ele deveria investir na geração de riqueza, na circulação e na distribuição de riqueza.

-(EXAME Academy/Exame)

A insegurança do brasileiro ao investir não é consequência das crises que o país já enfrentou?

Não acredito nisso. Se olharmos por esse ângulo, outros países também passam por crise. Devemos lembrar que as crises são determinantes para oferecer oportunidade. Eu estou permanentemente em crise. Quando o mercado sobe, meu recursos estão em crise porque eu não posso comprar bem. Quando o mercado está em uma crise forte, meu recursos sorriem porque eu posso comprar bem. Eu não compro hoje para vender daqui a cinco minutos. Eu compro para ser parceiro. Eu não quero ser considerado como um acionista minoritário. Eu quero ser considerado como um pequeno dono. Um dono não abandona o barco. Ele enfrenta a crise junto e ajuda a empresa a se estruturar. As oportunidades só vêm com as crises. Quando não há crise não existe oportunidade. Esta avaliação é simples, mas o brasileiro não faz isso. Ele quer ganhar fácil e rápido. Mas o ganho rápido e fácil está do outro lado.

De qual lado?

Quem mais ganha com isso é a Bolsa. Ela quer que você compre e venda hoje. Ela fala quer que você ganhe no longo prazo, mas o longo prazo dela são 15 minutos. Isso porque ela ganha na corretagem. Hoje, nós somos um país que tem a bolsa rica e o mercado pobre. Hoje, não temos quem defenda o mercado. Se a bolsa está de um lado, eu estou do outro.

Hoje, se você alugar uma casa, você não pode vender. Se você alugar um carro, você não pode vender. Mas na Bolsa você pode alugar uma ação e vender. Se a ação também é um ativo, claro que há algo bem errado nisso. Se você pode alugar uma ação e vender ao seu bel prazer você está praticando um ato ilegal. Mas na Bolsa isso é permitido.

Como o senhor avalia os IPOs que aconteceram neste ano?

A chegada de novas empresas ao mercado é algo muito positivo para o país. A finalidade do mercado de ações é proporcionar uma capitalização barata para as empresas. Mas a maioria dos IPOs que ocorreu não teve essa  característica. A maioria dos IPOs foi de emissão secundária, quando o controlador está vendendo as suas ações. Ou seja, o dinheiro não entra para a empresa. Se você souber que o dono da empresa está querendo vender as suas ações, o meu conselho é: venda primeiro. Mas se você souber que o dono da empresa está comprando tudo que pode, compre com ele. Os IPOs, lamentavelmente, tem se prestado a isso. A gerar benefício mais para os empresários do que para a empresa.

O senhor participou de algum IPO neste ano?

Não participei porque todos vieram com um preço muito alto. Preços que não são atrativos. Alguns foram tão altos que não tiveram tomadores, como foi o caso da Compass. Hoje, existe um interesse maior das empresas de sair do mercado do que entrar. Na década de 70, por exemplo, nós chegamos a ter mais de 1.000 empresas listadas. Hoje, temos 360 empresas, ou seja o mercado não se constituiu.

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