Minhas Finanças

Garantir o futuro está cada vez mais na moda

Os brasileiros estão cada vez mais preocupados em garantir financeiramente seu futuro. As melhores estratégias de aposentadoria para quem tem 30, 40 ou 50.

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.

Sabe aquela história de que o futuro a Deus pertence? Pois saiba que ela vale cada vez menos entre os brasileiros poupadores de longo prazo. Eles estão mais preocupados em garantir financeiramente seu futuro. Este foi o ano do investidor individual no segmento de previdência privada no Brasil. As estatísticas da Associação Nacional de Previdência Privada (Anapp) dão conta de uma participação surpreendente de pessoas físicas nas vendas de suas seguradoras afiliadas: 79% dos planos de previdência complementar aberta vendidos em 2002 foram comprados por pessoa física -- contra apenas 21% dos planos empresariais. Ou seja, garantir o futuro não é só privilégio de quem trabalha em grandes companhias. Nem é mais tarefa exclusiva da empresa poupar para a aposentadoria de seu funcionário.

Não há como negar também que este foi um ano turbulento. Para o brasileiro que entrou nos fundos DI (na esperança de conseguir rentabilidade melhor que a da poupança), não foi fácil agüentar os solavancos do mercado. Isso sem falar na Argentina, nos escândalos americanos e na desacelerada geral da economia. Pela frente, temos novo governo e o desafio de sobreviver a um dólar acima de 3 reais. Ainda assim, os brasileiros foram bravos e não desistiram de iniciar sua poupança para a aposentadoria. Um público maior, interessado em poupar, pôde ser atingido com o lançamento de um novo produto: o VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres). Enquanto o PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres) beneficia com isenção fiscal -- ao longo do período de contribuição -- investidores que fazem a declaração de IR completa ou são assalariados, o VGBL atinge mais gente. Ele é uma saída para quem não é assalariado ou faz a declaração simplificada. Quem opta por um VGBL adquire um seguro de vida resgatável, e não um produto de previdência privada. A diferença é que, por isso, não pode deduzir até 12% de sua renda bruta na declaração do IR, como faz quem poupa num PGBL. Mas, na hora de resgatar o bolo, pagará imposto de renda apenas sobre seus rendimentos, e não sobre todo o capital acumulado.

Apesar do faturamento aparentemente milionário do setor, o ano não foi dos melhores para o segmento de previdência privada no Brasil. É claro que à medida que o mercado vai sendo conquistado o crescimento tende a ser menor. "Neste ano, os planos de previdência empresariais deram uma recuada", explica Flávio Perondi, diretor da Anapp e da Real Seguradora. Mas há outros motivos. O ano de 2002 foi pródigo em novas regulamentações, o que aumentou o trabalho de adequação às normas nas seguradoras. Algumas trouxeram mais transparência e segurança para o poupador. Hoje, graças à fiscalização da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que regulamenta o mercado de previdência privada aberta no país, é muito mais seguro manter uma aplicação num fundo de previdência. A possibilidade de acompanhar o desempenho dos fundos nos jornais e a garantia de portabilidade -- transferência do dinheiro -- são um alívio.

Outras regulamentações complicaram um pouco as coisas. Foi o caso da instituição da taxa de saída, que é facultativa, mas já está sendo cobrada por algumas seguradoras. Por causa dela, os investidores devem ficar atentos aos termos de contrato, já que podem ser obrigados a pagar uma taxa caso efetuem o resgate antes do prazo determinado. Outros que tiveram problemas foram os fundos de pensão fechados (nos quais a empresa e o funcionário poupam em parceria). Instituiu-se a cobrança de imposto de renda sobre a parte que a companhia contribui para o fundo de seus funcionários. Além disso, a possibilidade de transferir o dinheiro para um fundo aberto está mais restrita. No caso de você sair da empresa, precisará esperar um prazo de carência para transferir o dinheiro para um fundo de previdência privada aberta. A rigidez de controle é benéfica porque torna o sistema mais seguro e transparente. "Mas parece que tentaram fazer tudo em um ano", diz Sidney Pariz, executivo de previdência privada da HSBC Seguros.

O cenário, à primeira vista, não empolga. Mas o saldo é positivo para o investidor, pois ele já se conscientizou de que pode planejar para ter uma aposentadoria ativa e confortável. A expectativa de vida da população brasileira passou de 65,7 anos de idade há pouco mais de uma década para 68,8 em 2001, de acordo com o IBGE. Além disso, já é lugar-comum dizer que não dá para esperar muito da previdência social. Com a consciência de que vai viver mais, o brasileiro está deixando de lado o comportamento imediatista dos anos de inflação e aderindo a um novo padrão de poupança. A tarefa agora é ajudar o investidor a definir a melhor estratégia para o seu investimento. Idade, perfil de risco, plano de vida... são itens que personalizam a estratégia de poupança de cada um. "Com o crescimento do mercado e a disseminação das informações, as pessoas estão vendo que aposentadoria não é questão de produto. É de estratégia e disciplina", diz Paulo Colaferro, consultor de finanças pessoais da Mony Consultoria.

Nos últimos dois anos, VOCE S/A produziu dois especiais sobre o assunto -- e, para isso, entrevistou profissionais de diversas idades e em diferentes estágios de carreira a respeito de suas estratégias de investimento de longo prazo. Nas próximas páginas, você confere o que mudou nos planos de dois deles de lá para cá, além de uma nova história. Confere também os conselhos que especialistas em finanças dão para fazê-los otimizar esses investimentos.

Futuro atrás da porta

Matheus Noronha Zanardi

O gerente de marketing Matheus Noronha Zanardi, de 27 anos, tinha uma vida bem diferente em 2000. Recém-formado em engenharia de produção, morava no Rio de Janeiro e trabalhava para a consultoria McKinsey. Hoje, Zanardi vive em São Paulo e é gerente de marketing da Primesys, empresa do grupo Portugal Telecom. Há dois anos, Zanardi planejava "pegar pesado" até os 45 anos para, depois disso, reduzir o ritmo de trabalho.

Qual era, então, sua estratégia para ser bem-sucedido? Poupar todos os meses num plano de previdência privada e distribuir 20% de seu salário em ações e fundos de renda fixa. Hoje, seu perfil de investimentos está mais sofisticado. Zanardi desistiu de poupar em produtos de previdência. "É limitante. Você perde liquidez", explica. Por isso, seu patrimônio está atualmente dividido em fundos de renda fixa e derivativos (75%), cambial (20%) e ações (5%). "Sou disciplinado. Não preciso da obrigação do PGBL para poupar." No ano que vem, ele embarca para um MBA nos Estados Unidos. A temporada de estudos deve custar algo próximo de 100 000 dólares. Zanardi já conseguiu patrocínio para 50%. "A outra metade vou financiar num banco americano." Enquanto estiver estudando, ele não pretende mexer nos investimentos, que vão ficar engordando no Brasil. Esses recursos servirão para financiar casamento, casa própria e planos afins, no futuro. O que não mudou? Seu conceito sobre aposentadoria. "Aposentar-se significa liberdade de escolha."

Sugestões dos especialistas: "O tipo de fundo que ele vai usar para constituir sua aposentadoria não faz muita diferença", diz Colaferro, da Mony (veja reportagem na pág. 96). "O que me pergunto é se nessa idade e com tantos planos ele está mesmo poupando para aposentadoria." Colaferro se refere à possibilidade de Zanardi decidir, por exemplo, usar sua poupança para comprar um apartamento no médio prazo -- ou efetivar outras conquistas comuns a quem está começando a vida. "Começar a pensar em aposentadoria antes de ter ao menos a casa própria é ilusório."

O comportamento disciplinado de poupança, entretanto, é alvo de elogios. Mas Colaferro aconselha a Zanardi que passe a concentrar esforços para aposentadoria depois do MBA. "E sugiro que ele se programe para reduzir o ritmo só a partir dos 55 anos." Quanto à estratégia de investimentos, o perfil moderado está de acordo com a idade e a sofisticação do investidor. Mas Renato Ramos, diretor de renda fixa da HSBC Asset Management, tem uma sugestão sobre a parcela de ações do portfólio. "Ele deveria considerar um PGBL com uma parcela maior em renda variável." Além da isenção fiscal, Zanardi teria o benefício de uma gestão mais ativa de sua carteira de ações. Além disso, de acordo com Giuliano de Marchi, gerente da Cigna Previdência e Investimentos, a parte em renda fixa está rendendo menos num fundo de investimento do que renderia num PGBL. Nas contas de De Marchi, em 20 anos (tempo aproximado que Zanardi tem para poupar até os 45), ele poderia ganhar 44% a mais num produto de previdência privada. "Um fundo de renda fixa rende menos que um PGBL de renda fixa no longo prazo devido à isenção fiscal", diz De Marchi. Como Zanardi é assalariado, poderia destinar até 12% de sua renda bruta e se beneficiar da isenção direto na folha de pagamento. Caso a empresa onde ele trabalha não inclua seu PGBL na folha, já que Zanardi faz a declaração de renda simplificada, a saída seria um VGBL, segundo Sidney Leone, executivo responsável pela área de previdência privada da Nationwide Marítima.

No meio do caminho

Antônio Francisco Loriggio

Pai de dois filhos adolescentes, Antônio Francisco Loriggio, de 42 anos, tem muito com que se preocupar antes de pendurar as chuteiras. Ele tem filhos que ainda vão consumir um bom dinheiro com educação -- e sabe que a tarefa de poupar para a aposentadoria vai exigir tempo e fôlego. "Começar a pensar em aposentadoria, só depois dos 60 anos", afirmava em 2001. Hoje ele é sócio de uma consultoria de desenvolvimento organizacional. Não se encaixa na categoria de assalariado. "Por isso, decidi sair do plano de pensão de uma empresa onde trabalhei e para o qual continuava contribuindo." Loriggio poupou sete anos, mas a disciplina exigida o incomodava. Depois que trocou de emprego, se deixasse de contribuir um mês apenas perderia o direito de fazer parte do fundo. Por isso, optou por se desligar e sacou o dinheiro, mesmo perdendo a parte que a empresa colocara em co-participação.

Seu patrimônio hoje está dividido em um imóvel em São Paulo, letras hipotecárias (50%), Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e fundos DI (40%) e poupança (10%). "Tenho sido disciplinado, mas a tentação de comprar um barco continua rondando", brinca Loriggio. Velejar faz parte de seus planos de aposentadoria. Além do barco, ele pensa em adquirir um segundo imóvel. Esse novo imóvel faz parte da estratégia de diversificação conservadora do consultor. "Além disso, invisto em quatro bancos diferentes para diluir o risco da instituição."

Sugestões dos especialistas: Poupar, no caso de Loriggio, parece uma tarefa mais fácil. Afinal, ele tem um objetivo bem definido: comprar um barco. O único senão foram as escolhas de investimento. "Loriggio deveria rever os CDBs, pois eles exigem renovação a cada vencimento. Ele deve estar pagando muita CPMF", diz Ramos, diretor do HSBC. O diretor de renda fixa sugere a transferência das aplicações em CDBs e letras hipotecárias para fundos de renda fixa e DI. "Eles sempre apresentam melhor rentabilidade e são conservadores", explica. De Marchi, da Cigna, aconselha que a poupança seja destinada a um VGBL com as letras hipotecárias, se Loriggio preferir. "Hoje, a rentabilidade de VGBLs de renda fixa é de 11% a 15%, contra 5% a 8% da poupança e das letras." Ao mesmo tempo ele manteria uma porcentagem de seus investimentos em aplicações com maior liquidez para as necessidades de curto prazo.

Às portas da mudança

Hermes Anghinoni

Aos 53 anos de idade, Hermes Anghinoni, diretor de portos da Cargill, está prestes a se aposentar. Durante os últimos 14 anos, ele depositou religiosamente 7,5% de seu salário no fundo de pensão da empresa. Anghinoni foi um dos primeiros a aderir ao plano de pensão da Cargill. Antes de "calçar as chinelas", no entanto, ele ainda tem pelo menos mais dois anos de poupança. Fora da companhia, Anghinoni parece ter feito tudo de forma conservadora. Hoje, ele é dono do imóvel onde mora com a esposa, Daisy, em Santos, e tem outro apartamento no Paraná. Tem ainda reservas em um PGBL (50%), fundos DI (30%) e fundos mistos (20%). "Mantenho o PGBL para aproveitar toda a isenção fiscal permitida", afirma. Os planos para depois da aposentadoria incluem, eventualmente, mudar-se para o Paraná e comprar um sítio para criar gado. "Vou poder usar tudo o que aprendi na empresa." Depois de 32 anos na Cargill, ele se sente preparado para iniciar uma nova fase. Anghinoni faz parte do projeto de preparação para a aposentadoria da companhia. Nesse programa, os executivos são acompanhados por uma consultoria que os prepara para enfrentar a vida pós-carreira. "Esse projeto confirmou minhas idéias de que é preciso planejar a parte psicológica da transição, e não só a financeira."

Sugestões dos especialistas: "Ele cumpriu todos os passos, utiliza o limite de isenção fiscal, começou a poupar assim que pôde... quisera todos fossem tão disciplinados", elogia Colaferro, da Mony Consultoria. A partir de agora, é contagem regressiva. Sidney Leone, da Nationwide Marítima, lembra que quando Anghinoni adquirir uma renda vitalícia -- ou planejar um resgate programado do dinheiro acumulado -- precisa estar atento às condições de pagamento. "No contrato, ele vai definir que índice corrigirá sua renda e a porcentagem a ser paga caso o rendimento do fundo exceda esse limite." Como está próximo da aposentadoria, pode também começar a programar a transferência de seus recursos em fundos mistos para renda fixa. "O mercado anda instável e faltam apenas dois anos para ele se aposentar, sendo assim talvez pudesse rever sua exposição ao risco", diz De Marchi, da Cigna. De resto, é começar a visitar sítios e fazendas -- e se organizar para aproveitar a vida no campo e sua segunda carreira.

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