Economista ensina finanças com letra de rap dos Racionais MC’s
Com as letras de música do grupo, Gabriela Chaves ensina conceitos básicos de economia e como se relacionar com o dinheiro
Karla Mamona
Publicado em 14 de maio de 2020 às 17h45.
Última atualização em 15 de maio de 2020 às 11h48.
As letras de música dos Racionais MC's serviram de inspiração para que a economista Gabriela Mendes Chaves desenvolvesse um método que ensina finanças pessoais baseadas na discografia do grupo. Com as letras de rap, ela ensina desde conceitos básicos de economia e até como as pessoas se relacionam com o dinheiro.
O consumo e o endividamento são abordados em letras como “Vida Loka parte 2”, em que o rapper Mano Brown canta “na loja de tênis o olhar do parceiro feliz. De poder comprar o azul, o vermelho. O balcão, o espelho. O estoque, a modelo, não importa.” O rapper complementa ainda dizendo que “preto e dinheiro são palavras rivais.”
Segundo Gabriela, neste momento, o grupo faz uma provação em relação à condição social da população negra do país. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) comprovam que o rendimento médio dos negros (R$ 1.608) ainda é mais baixo do que dos brancos (R$ 2.796)
A população negra e de baixa renda é o foco da economista. Em 2008, ela fundou a escola NoFront- Empoderamento Financeiro e já deu aula para 2.500 pessoas. O curso é itinerante e as aulas já foram dadas em várias regiões de São Paulo e até mesmo fora do país, nos Estados Unidos. Hoje, são cinco profissionais que trabalham na escola. Entre eles, Rodrigo Dias, planejador financeiro e sócio de Gabriela.
Antes de fundar a escola, a economista trabalhou durante cinco anos no mercado financeiro. Uma das empresas em que passou foi a Cetip (Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos Privados), que fez a fusão que a BM&F Bovespa, e deu origem a B3.
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Após sair da Bolsa, e com o dinheiro da rescisão do contrato de trabalho, ela fundou a escola. “Eu tinha um incomodo muito grande com a questão do conhecimento financeiro não chegar em todo mundo. O conhecimento de como se relacionar com o dinheiro não atravessava a ponte Eusébio Matoso”, afirma a economista.
Gabriela brinca que foi do rap para a economia e não ao contrário. Nascida na periferia de São Paulo, ela cresceu ouvindo as músicas do grupo. Filha de uma cabelereira e de um metalúrgico, Gabriela foi a primeira a se formar na família e foi por meio de uma bolsa de estudo na PUC-SP.
Hoje, ela faz mestrado em Economia Política Mundial pela UFABC. “Quando a pessoa entende o conceito básico de Economia, ela percebe que pode ter tomado decisões financeiras erradas. Existe um caminho para que ela se organize, consiga fazer sua reserva e até investir futuramente.”
Pandemia
Com o início da pandemia, a economista suspendeu as aulas presenciais, mas seguiu orientando as pessoas por meio das redes sociais. Entre os questionamentos que surgiram para que Gabriela respondesse durante as lives estavam desde qual conta pagar primeiro até como lidar com o fato de estar endividado e não conseguir dormir.
Sobre qual conta pagar primeiro, a economista afirma que a prioridade deve ser alimentação e saúde. Ela também aconselha que a pessoa priorize o pagamento dos pequenos empresários e dos profissionais autônomos. Outra dica é analisar a taxa de juros das contas e pagar as mais altas, que podem virar uma bola de neve.
Em relação à saúde mental devido ao endividamento, Gabriela afirma que este não é o momento das dívidas tirarem o sono do brasileiro, já que a situação é reflexo do momento econômico. “Os Estados, a União e as empresas estão devendo. Claro que trabalhador também está. Milhões perderam a renda ou tiveram o salário reduzido. É fundamental ter o autocuidado e não se cobrar tanto.”