10 livros que todos os investidores deveriam ler
Especialistas em finanças apontam livros que ajudam a formar bons investidores e aumentam o conhecimento dos mercados
Da Redação
Publicado em 20 de novembro de 2010 às 08h20.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h38.
Investir bem em bolsa exige muito estudo, disciplina e também um exercício constante de humildade. Muita gente nem se dá conta do quanto não sabe sobre determinados assuntos e toma decisões de investimento como num jogo de azar. Para quem tem uma visão de longo prazo e planeja passar a vida se aprimorando na arte de investir, EXAME.com preparou uma lista de dez livros que certamente vão ampliar o conhecimento técnico e a visão de mundo tão necessária aos bons investidores. Os títulos foram selecionados a partir de consultas a seis investidores ou escritores da área de finanças pessoais: Luiz Francisco Rogé Ferreira (InvestCerto), Conrado Navarro (Dinheirama), Jurandir S. Macedo (UFSC), André Massaro (MoneyFit), Hugo Daniel Azevedo (HD Educação) e Salomão Santos (iCash). "O mais importante é evitar esses livros que prometem logo no título uma fórmula para ficar rico", diz Hugo Daniel Azevedo, da HD Educação. "Se uma fórmula mágica realmente existisse, o autor não estaria escrevendo livros para ganhar dinheiro." Veja nas próximas páginas dez livros indicados pelos especialistas.
Há muitos motivos para quem investe em ações ler "O Investidor Inteligente", do economista americano Benjamin Graham (1984-1976). Mas nenhuma delas é mais convincente do que dizer que Warren Buffett considera esse o seu livro de cabeceira. Até os anos 1930, as decisões de investimento em bolsa eram tomadas sem um método científico. Foi ele o primeiro a dizer que o valor de uma ação deveria ser calculado pelo fluxo de caixa de uma empresa trazido a valor presente descontada de uma taxa de risco. Ele também foi pioneiro em defender a compra de ações de empresas sólidas com ótimas perspectivas de geração de caixa em momentos de estresse do mercado para mantê-las no portfólio por longos períodos de tempo. Bastante defendidas até hoje, essas teorias fizeram a cabeça do então jovem Warren Buffett quando livro foi publicado, em 1949. O bilionário já chegou a dizer que, depois de seu pai, Graham foi a pessoa que mais exerceu influência em sua vida. A única ressalva ao livro é que boa parte das regras de contabilidade ensinadas pelo autor não se aplicam à realidade brasileira.
Com mais de 30 milhões de cópias vendidas no mundo, sendo 2 milhões delas no Brasil, "Pai Rico, Pai Pobre" é um dos livros de finanças pessoais mais vendidos da história e se tornou best-seller mesmo com a defesa de teorias bastante polêmicas. Os autores Robert Kiyosaki e Sharon Lechter escrevem que as pessoas precisam trabalhar para acumular durante a vida ativos que possam se transformar em fonte de renda. A busca da independência financeira consiste em investimentos em negócios próprios, aplicações financeiras e principalmente compra de imóveis. Até aí tudo bem. Mas eles também criticam as escolas tradicionais, onde os jovens "passam anos sem aprender nada sobre o dinheiro" e, terminada a fase de estudos, acabam obrigados a trabalhar para se sustentar porque não aprenderam a fazer o dinheiro trabalhar para eles. Os críticos do livro também costumam apontar exemplos utilizados no livro que nunca existiram e afirmam que os autores não teriam ficado ricos sem o sucesso de vendas da publicação. Mas também há trechos de "Pai Rico, Pai Pobre" considerados consistentes. Os autores ensinam, por exemplo, que ativo é o que gera renda e passivo é o que dá despesa. Um imóvel de veraneio que nunca é alugado, por exemplo, pode ser considerado um passivo, e não um investimento.
Apesar de criticado por investidores com visões de longo prazo, o livro "Os Axiomas de Zurique" é visto como uma espécie de bíblia por quem especula no mercado de ações. O texto de Max Gunther revela os dogmas seguidos por banqueiros suíços para acumular patrimônio e obter êxito no mercado financeiro. O conteúdo pode ser sintetizado em 12 axiomas que devem ser seguidos sempre pelos investidores: 1) Não tenha medo de arriscar um pouco. Alto risco significa alto retorno; 2) Realize o lucro sempre cedo demais; 3) Se suas especulações andam mal, saia e parta para outra. Saber perder é uma das virtudes de um bom especulador; 4) Não baseie suas especulações em previsões - e, sim, no que você vê acontecendo a sua frente; 5) Não se deixe levar pela ilusão de ordem. Não existe um fórmula exata que vá lhe proporcionar sempre ganho; 6) Não se deixe prender a sentimentos em suas especulações. Se perceber uma oportunidade melhor, corte suas raízes e siga em frente; 7) Só confie em um palpite se você for capaz de identificar algo que consiga explicá-lo; 8) Mantenha o sobrenatural longe de suas especulações; 9) Um bom especulador possui confiança, não otimismo. A confiança nasce do uso construtivo do pessimismo; 10) Antes de arriscar seu dinheiro seguindo a opinião da maioria, pondere e avalie por si mesmo se a decisão é acertada ou não; 11) Se sua especulação não está dando o retorno desejado, não seja teimoso e desista. Outras boas oportunidades podem estar a sua volta sem ser notadas; e 12) Não planeje investimentos a longo prazo. O único plano a longo prazo que um especulador precisa ter é o de ficar rico.
O investidor e professor libanês Nassim Nicholas Taleb ficou muito famoso em meio à última crise com o livro "A Lógica do Cisne Negro", que explicava como eventos totalmente inesperados poderiam afetar não apenas os mercados financeiros como as vidas das pessoas. Antes disso, em 2004, Taleb já havia abordado o tema de maneira ainda mais interessante e didática com o livro "Iludido pelo Caso". Na obra, o libanês radicado nos Estados Unidos defende que é muito fácil ganhar dinheiro na bolsa nos tempos de vacas gordas. O difícil é entender o mercado antes que os outros quando o cenário muda. Taleb afirma ainda que a sorte e o mero acaso têm uma influência muito maior nos ganhos e nas perdas do que as pessoas imaginam. O escritor aconselha as pessoas a se acostumar com as eventuais perdas que sempre acontecerão, motivadas por eventos mais raros ou de difícil leitura. Outra dica seria tentar tirar o máximo proveito dos momentos específicos de euforia justificada nos mercados.
Pode parecer absurdo para quem está acostumado a investir em bolsa, mas durante milênios os seres humanos acreditaram que o destino era traçado pelos deuses. De nada adiantava alguém se esforçar para tomar as decisões certas, já que isso não poderia mudar o rumo das coisas. Em "Desafio aos Deuses: A Fascinante História do Risco", Peter L. Bernstein mostra como o ser humano começou a virar esse jogo com o uso de instrumentos de medição e controle de riscos. O livro não trata diretamente de bolsas de valores, mas a teoria discutida tem implicações claras no funcionamento dos mercados financeiros e na indústria de seguros. Com um texto semelhante ao de um romance, a leitura agrada tanto leigos quanto especialistas no assunto. "É o mais elegante e empolgante livro de negócios que já li", diz o professor de finanças Jurandir S. Macedo, da UFSC.
Em "O Novo Modelo dos Mercados Financeiros", o megainvestidor George Soros surpreende os leitores ao trocar a matemática pela filosofia para explicar os motivos que levam às crises econômicas. O livro traz ainda uma descrição detalhada de seu acompanhamento da crise do subprime e revela como ele mesmo reagiu, à frente do Soros Fund, aos episódios que levaram à lona alguns dos maiores bancos do mundo em 2008. A tese principal do livro é de que, ao contrário do que pregam os economistas, os mercados são imperfeitos e tendem a errar com uma constância muito maior do que atualmente se aceita como verdadeiro. De uma leitura rápida do livro, é possível tirar lições valiosas para as crises econômicas que certamente virão.
O livro "Finanças Comportamentais", de Aquiles Mosca, consegue explicar, de uma maneira didática e científica, por que os investidores erram na hora de aplicar o dinheiro. A origem dos equívocos estaria na própria limitação do ser humano, que não está apto a fazer todos os cálculos de todas as probabilidades de todos os eventos. Na dúvida, o indivíduo acaba fazendo aproximações mentais e toma decisões de investimento com base nessas deduções. É aí que surgem os equívocos. Outro problema é que a maioria das pessoas tende a realizar os lucros mais rápido do que as perdas. Um sujeito que compra uma ação a 100 reais ficará bem feliz em vendê-la a 110 ou 115 reais alguns dais depois. No entanto, se o mesmo papel cair a 85, será mais difícil reconhecer o erro e vendê-lo. Esse tipo de postura costuma reduzir a rentabilidade das carteiras.
Para quem passa horas olhando para gráficos da bolsa e não enxerga nenhuma oportunidade de investimento, um bom primeiro passo para entender a análise técnica é a leitura do livro "Comprar ou Vender", de Eduardo Matsura. A obra é bem técnica e ensina a entender os gráficos e os movimentos de preços das ações. A partir de sua leitura, o investidor poderá começar a tentar antever os movimentos futuros de determinadas ações com base em indicadores técnicos, como média móvel, índice de força relativa, divergências, osciladores e muitos outros. A sexta edição vem acompanhada de um pôster com as principais figuras gráficas da análise técnica e também dá acesso gratuito a um software gráfico no site da editora.
Como as regras contábeis variam de país para país, um livro completo que se proponha a ajudar as pessoas a entender e analisar balanços de empresas precisa necessariamente ter sido escrito por um autor local. No Brasil, o livro "Estrutura e Análise de Balanços", do professor Alexandre Assaf Neto, da FEA-USP, tem ótima reputação porque explica os principais conceitos para a análise de balanços de empresas comerciais, industriais, de serviços e financeiras. As explicações talvez não sejam tão simples para leigos, mas qualquer investidor que leia o livro vai ao menos entender melhor os relatórios publicados pelos analistas das corretoras. O investidor também vai se familiarizar com conceitos como análise de viabilidade econômico-financeira, estrutura de liquidez e dinâmica de capital de giro.
O livro escrito pelo psicólogo Van K. Tharp nunca foi traduzido para o português, mas, devido à infelicidade do título, se um dia isso acontecer é provável que a editora escolha um nome que se distancie da tradução literal. Ao trazer várias técnicas para investimentos em bolsa, porém, o livro logo se mostra para o leitor muito melhor do que sugere o título. O autor explora com propriedade o conceito de "expectativa matemática positiva", que consiste em limitar o tamanho das perdas nas operações equivocadas e maximizar os ganhos quando a bolsa for para o lado esperado. Dentro da política de gerenciamento de riscos, o investidor deve estipular com antecedência quanto poderá ser colocado em cada operação e qual a perda máxima a ser tolerada. Tharp também descreve um sistema criado por ele mesmo com critérios muito rígidos para o tamanho das posições e para usos de ordens "stop" na limitação de perdas. Segundo ele, o sistema criado era tão bom que seria suficiente para fornecer ganhos maiores do que perdas mesmo quando as entradas na bolsa fossem completamente aleatórias, decididas no cara ou coroa. "Mas o leitor não conseguirá repetir o experimento em casa por falta de ferramentas, dados históricos ou software" diz André Massaro, especialista em finanças pessoais da MoneyFit.