Entrada de visitantes brasileiros na Argentina aumentou 25% e já está acima do patamar pré-pandemia (Ricardo Ceppi/Getty Images)
Bianca Alvarenga
Publicado em 19 de julho de 2022 às 06h03.
Última atualização em 21 de julho de 2022 às 16h58.
A profunda crise econômica vivida pela Argentina nos últimos meses tem deixado o câmbio do país instável. Embora o governo esteja tentando controlar a saída de dólares do país, em um esforço para frear a desvalorização do peso argentino, o chamado câmbio paralelo (ou "dólar blue") mostra que o enfraquecimento da moeda local nunca foi tão forte. Nos últimos dias, 1 dólar blue valia em torno de 290 pesos, enquanto a cotação oficial era de 1 dólar para 130 pesos.
Se, por um lado, a desvalorização do peso causa uma série de problemas para os moradores do país – a inflação de mais de 60% no ano é o mais evidente deles –, por outro lado o turismo tem sido um dos beneficiados pelas flutuações no câmbio. Desde que as fronteiras abriram, em outubro passado, o número de visitantes brasileiros ao país aumentou 25%, comparando com o mesmo período de 2019, antes da pandemia.
A busca pelas viagens é alimentada, também, pelo crescimento de plataformas financeiras que oferecem uma câmbio mais favorável do que o oficial, praticado em bancos locais, como o Banco de La Nación. Se antes a cotação do dólar blue só era encontrada em casas de câmbio espalhadas pelas ruas argentinas, agora bancos conseguem oferecer um valor mais próximo, de forma mais segura – sem o risco de o turista acabar recebendo notas falsas no processo.
Uma das plataformas que mais tem atraído turistas brasileiros em busca de câmbio para a viagem à Argentina é a Wester Union. A corretora, que tem quase dois séculos de existência e atuação em mais de 200 países, oferecia, na segunda-feira, 18, um câmbio de 1 real para 55 pesos. Isso é mais que o dobro da cotação oficial, que estava em 1 real para 24 pesos.
Além de controlar o câmbio oficial para conter a inflação, o governo argentino tem estabelecido cada vez mais barreiras para a saída de dólares do país. Na última semana, A Administración Federal de Ingresos Públicos (Afip), organismo de arrecadação de impostos da Argentina, anunciou um aumento nos tributos sobre o dólar turismo, por exemplo.
No entanto, a cotação oferecida pela Western Union aos seus clientes não segue a restrição oficial, pois a empresa é detentora de títulos da dívida pública argentina, que são negociados no mercado global – portanto, fora do câmbio estabelecido pelo próprio governo.
"Negociamos títulos do governo cotizados a mercado. Através dessa operação conseguimos alcançar a paridade com o 'dólar blue'", explicou Ricardo Amaral, CEO da Western Union Brasil.
Os custos para enviar dinheiro pela Western Union são os da taxa de transferência (de 3% sobre o valor total da transação) e do imposto federal, de 1%. Há, ainda, um limite de envio mensal de 335 mil pesos, o que equivale a pouco mais de R$ 6.000 na cotação atual.
Um dos grandes atrativos do serviço é a facilidade: o cliente consegue enviar os reais da própria conta no Brasil, por meio de um Pix, e sacar diretamente em uma das lojas da Western Union na Argentina. O tempo médio decorrido entre o envio do dinheiro e a disponibilização das notas na loja costuma ser de 1 hora, podendo ocorrer em menos tempo.
Além do câmbio, os turistas acabam optando pelo serviço da Western Union pela possibilidade de fazer remessa de qualquer lugar e a qualquer momento, apenas com acesso ao aplicativo ou site da empresa.
É importante dizer, no entanto, que a busca pelo serviço tem causado alguns inconvenientes. Nem todas as mais de 5 mil agências da Western Union na Argentina oferecem a possibilidade de resgate de valores maiores – as unidades menores, operadas em parceria com a marca Pago Fácil e localizadas em comércios das cidades, não têm dinheiro suficiente para resgates mais volumosos, e não é possível sacar valores parciais, somente o saldo todo de cada remessa feita.
Em razão das restrições, as filas nas unidades centrais são longas e chegam a mais de duas horas, mesmo em dias comuns. Além disso, a crise argentina tem tornado a disponibilidade de cédulas mais restrita. Nas últimas semanas, mesmo as agências centrais da Western Union chegaram a contar somente com cédulas de 100 ou 200 pesos.
Para se ter uma ideia de grandeza, um almoço ou jantar em Buenos Aires costuma custar entre 2.000 e 3.000 pesos. Seriam necessárias, portanto, de 20 a 30 cédulas para pagar uma única refeição.
Sobre a indisponibilidade de notas, Amaral, da Western Union, explica que parte do serviço de câmbio é abastecido pela plataforma Pago Fácil. Os residentes argentinos vão às lojas para pagar contas, e essas cédulas são usadas para as retiradas nas operações de câmbio.
"Essa operação dá solidez para termos sempre disponibilidade de cédulas nas lojas. É uma operação particular, que consiste em dinheiro de um cliente e pagar para outro", explicou o presidente da empresa.
O executivo contou, ainda, que a disparada recente na demanda foi alimentada pelo turismo, mas que há uma fatia de clientes que usam o serviço, pois são brasileiros vivendo na Argentina.
"São clientes que estão no país para estudar e recebem dinheiro do Brasil mensalmente para pagar despesas", explicou Amaral.
A possibilidade do trabalho remoto também aumentou a busca por moradia no país, embora as condições econômicas atuais (em especial a inflação) sejam um obstáculo diário para a administração das contas.
Para os brasileiros, o enfraquecimento do peso frente ao real ajuda a driblar o efeito inflacionário, mas uma vez que a moeda brasileira também tem perdido força frente ao dólar, parte dessa vantagem é anulada.