Como não ficar sem dinheiro após a aposentadoria
Especialistas explicam como calcular quanto dinheiro será necessário para não passar por apuros no final da vida
Gabriela Ruic
Publicado em 16 de outubro de 2010 às 11h01.
São Paulo - Aproveitar a aposentadoria de maneira tranquila e saudável requer um bom planejamento financeiro. Os mais prevenidos começam a pensar com antecedência nas implicações que o fim da carreira pode trazer à renda familiar enquanto outros deixam para se preocupar com os preparativos em cima da hora.
Lógico que a falta de planejamento pode levar toda a família a uma queda brusca do padrão de vida. Mas também não adianta começar a se preparar com várias décadas de antecedência se não houver a consciência de que o patrimônio acumulado durante o tempo precisará ser gasto de maneira racional após a aposentadoria.
Na hora de fazer as contas, a primeira dificuldade que aparece é avaliar durante quanto tempo o dinheiro acumulado poderá ser gasto. A pergunta é difícil de responder porque ninguém sabe exatamente até quando poderá viver. Quanto maior a expectativa de vida, maior deverá ser a reserva constituída para que o dinheiro não acabe antes da hora.
Para reduzir os riscos, o especialista em finanças pessoais André Massaro, da MoneyFit, diz que a primeira coisa a fazer é supor que você vai ver bem mais que a média. Segundo o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro alcança 72 anos e dez meses. Faça as contas levando em consideração números maiores
A segunda providência é fazer uma simulação conservadora sobre seu patrimônio na época da aposentadoria. Isso deve ser feito jogando propositadamente para baixo o rendimento futuro das aplicações destinadas para gastos após o término da carreira.
Se hoje o governo federal paga juros próximos a 11% para o investimento em títulos públicos, por exemplo, é necessário usar um número bem inferior a esse nas suas próprias projeções. Isso é importante porque há mais de uma década as taxas de juros se encontram em uma tendência de baixa no Brasil.
Para evitar decepções na hora de começar a receber o montante referente à aposentadoria, Massaro produziu dois cenários que traduzem como os valores a serem recebidos por alguém que se aposentará daqui a algumas décadas pode mudar se a taxa básica de juros brasileira continuar a baixar.
Supondo um indivíduo que projeta a aplicação de sua aposentadoria baseada na atual taxa básica de juros, em média 10,75% ao ano. Se essa pessoa tiver acumulado 1 milhão de reais quando completar 60 anos, poderá gastar, mensalmente, 8.964,05 reais até esgotar suas reservas aos 90 anos.
Entretanto, no caso de queda da taxa básica de juros para 5% ao ano, esse mesmo indivíduo terá de se aposentar com uma bolada bem menor. Nesse cenário, o sujeito só poderá gastar 5.300,55 reais por mês até completar os mesmos 90 anos. "O problema é achar que vai viver até os 90 e chegar aos 100", alerta.
Para não esgotar as reservas
William Bernstein, um dos maiores gurus de investimentos pessoais dos Estados Unidos, desenvolveu uma técnica para reduzir a zero o risco de queimar todas as reservas antes do tempo. Se alguém aposentar-se aos 60 anos e gastar anualmente 2% do que acumulou, diz ele, pode ficar tranqüilo que não faltará dinheiro até o final da vida.
Se os gastos alcançarem 3%, provavelmente o sujeito também estará a salvo. Caso o percentual chegue a 4%, há riscos reais de faltar dinheiro na velhice. E com 5%, a longevidade seguramente trará problemas. No caso de alguém que já tenha 70 anos, como a expectativa de vida extra será menor, é possível acrescentar de 1 a 1,5 ponto percentual a todos esses números
Se você já fez os cálculos e concluiu que terá uma drástica queda no padrão de vida se gastar a cada ano somente 2% do acumulado, a única solução será aumentar as reservas durante o período de trabalho. "O aposentado não tem que se preocupar com renda. Quem tem que pensar nisso é o profissional que ainda está na ativa", explica Massaro.
Ele também afirma que só restam aos trabalhadores duas formas de poupar mais: ou é feito um corte de gastos ou se procura outra alternativa para complementar a renda.
Em relação aos cortes de gastos, comece pelo supérfluos e não abra mão dos gastos mais essenciais. Não é preciso deixar de lado sonhos de consumo, mesmo aqueles que não são de primeira necessidade, mas é recomendável fazer escolhas e definir o que é realmente importante.
Outro erro comum é cortar gastos importantes como o plano de saúde, por exemplo. Esse tipo de decisão pode levar o indivíduo a queimar boa parte das reservas que acumulou caso algum imprevisto aconteça.
Evitar desde cedo um endividamento excessivo para garantir um padrão de vida irreal também é importante. Bancos costumam cobrar juros muito maiores do que a pessoa vai receber com aplicações financeiras. "Então gaste menos. Não há outro jeito", explica o planejador financeiro Conrado Navarro.
Um último alerta é não subestimar o aumento dos gastos com saúde na terceira idade. Não é à toa que planos de saúde chegam a custar mais de 1.000 reais por mês para quem já ultrapassou os 60 anos À medida que a idade aumenta, os problemas de saúde começarão a aparecer. Então não conte com a possibilidade de que seus gastos sejam menores na velhice na hora de fazer as contas.