Invest

Caixa: Rita Serrano anuncia suspensão de crédito consignado para beneficiários do Bolsa Família

Nova presidente do banco público também disse que a Caixa teve um política de 'assédio e medo' sob o antigo governo

Auxílio Brasil: em posse, nova presidente da Caixa fala sobre suspensão do crédito consignado (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Auxílio Brasil: em posse, nova presidente da Caixa fala sobre suspensão do crédito consignado (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

AO

Agência O Globo

Publicado em 13 de janeiro de 2023 às 07h44.

Rita Serrano afirmou, após sua cerimônia de posse como presidente da Caixa Econômica Federal na noite desta quinta-feira, que o banco público vai suspender as operações de crédito consignado do antigo Auxilio Brasil, agora renomeado como Bolsa Família. O perdão da dívida, por outro lado, foi descartado.

"Nós estamos suspendendo o consignado do Auxilio (Brasil), por duas razões. A primeira é que o Ministério do Desenvolvimento Social vai revisar o cadastro (dos beneficiários), então é de bom tom que a gente mantenha, pois nós não sabemos quem ficará nesse cadastro ou não. E a outra razão é que de fato os juros para essa modalidade consignada é muito alto. Nós estamos suspendendo para reavaliar essa questão dos juros e ver as possibilidades que existem para tentar baixar esse juros dentro das regras de conformidade", disse.

Atualmente, de acordo com informações oficiais da Caixa, os beneficiários têm possibilidade de empréstimo com juros de 3,45% ao mês, muito acima de outros consignados, como de aposentados. O prazo de pagamento do valor emprestado é em até 2 anos.

De acordo com a equipe de transição do governo Lula, essa modalidade de crédito concedeu R$ 9,5 bilhões em empréstimos para 3,5 milhões de beneficiários do Auxílio Brasil. A maior parte do valor saiu da Caixa Econômica. A linha de crédito, que começou entre os dois turnos das eleições presidenciais, foi questionada por comprometer até 40% da renda dos beneficiários e pelo eventual uso eleitoral da medida, uma vez que Jair Bolsonaro queria aumentar suas chances de reeleição.

LEIA TAMBÉM: Caixa: Rita Serrano assume a presidência com apoio de Haddad e promete abrir agências

Primeiro discurso

Questionada sobre possível perdão aos devedores, a nova presidente da Caixa Econômica Federal disse que "não há perspectiva".

"O banco não tem como fazer isso, mas eu acredito que há possibilidade de tentar negociar com o Governo inclusive formatos para baixar os juros", afirmou.

No primeiro discurso como presidente, Rita Serrano também falou do papel estratégico do banco na gestão de políticas públicas e criticou o que chamou de governos liberais do passado. Em sua cerimônia de posse, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a nova chefe do banco público afirmou que no governo de Jair Bolsonaro houve uma política de "assédio e medo" na direção do banco.

Foi uma referência ao escândalo de assédio sexual e moral que afastou da presidência do banco Pedro Guimarães, muito próximo de Bolsonaro, no ano passado. Ao agradecer Lula pela nomeação, Serrano destacou o fato de ser mulher, ativista e representante sindical.

"A instituição sobreviveu aos governos liberais da década de 1990, privatizando praticamente todos os bancos estatais e outras empresas públicas, e se consolidou como maior gerenciadora de programas sociais do país a partir do Governo Lula", afirmou. "Hoje a Caixa faz 162 anos e a construção dessa história se deu por diversas mãos (...) Essa façanha (sua posse) só foi possível com um governo ousado e comprometido com a democracia, a igualdade e a justiça social."

LEIA TAMBÉM: Lula: 'Caixa precisa ser banco que empresta dinheiro muito mais barato'

Rita é a quarta mulher na presidência do banco e substitui Daniella Marques, que assumiu a direção da instituição em julho de 2022, após Pedro Guimarães pedir demissão em meio fortes acusações de assédio sexual a funcionárias. O caso foi parar na Justiça.

A nova presidente da Caixa foi anunciada para o posto máximo do banco no fim de 2022, ao lado de Tarciana Medeiros, funcionária de carreira que deverá assumir a presidência do Banco do Brasil, ainda neste mês.

O presidente eleito Lula com a escolhida para chefiar a Caixa Econômica Federal, Maria Rita Serrano (Twitter/Reprodução)

Quem é Rita Serrano?

A nova presidente da Caixa tem forte vínculo com o movimento sindical. Já presidiu o Sindicato dos Bancários do ABC paulista entre 2006 e 2012, atuando, hoje, no conselho fiscal da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae).

A defesa de empresas públicas é outro ponto recorrente na trajetória de Serrano. Ela coordena, desde 2015, o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas. Ela também é autora do livro “Caixa, banco dos brasileiros’’ de 2018.

Rita Serrano é funcionária da Caixa Econômica Federal desde 1989. Ela entrou para o Conselho de Administração do banco em 2014 e atua como titular do colegiado desde 2017. A renúncia ao posto máximo do Conselho foi anunciada logo após a sua indicação para a presidência do Banco Público.

Também presente na cerimônia de posse, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que manteve contato com a Caixa diversas vezes, quando era ministro da Educação e prefeito de São Paulo. Ele ressaltou que, nos governos petistas, foram oferecidos subsídios para que as famílias de baixa renda pudessem ter acesso a moradia digna

"É emocionante ver a Caixa voltar às mãos dos trabalhadores", disse o ministro, referindo-se ao fato de Rita Serrano ser funcionária de carreira do banco.

Haddad anunciou, nesta quinta-feira, uma série de medidas para melhorar as contas públicas. As ações, que abrangem aumento de receitas e corte de despesas, somam R$ 243 bilhões.

Quer receber os fatos mais relevantes do Brasil e do mundo direto no seu e-mail toda manhã? Clique aqui e cadastre-se na newsletter gratuita EXAME Desperta.

Acompanhe tudo sobre:Auxílio BrasilCaixa

Mais de Invest

Ibovespa vira para queda em dia de Copom e de olho em inflação dos EUA

CSN faz proposta por 70% de empresa de logística por R$ 742,5 milhões

EUA e Adani rompem acordo de financiamento de porto no Sri Lanka

Copom, inflação dos EUA e serviços no Brasil: o que move o mercado