Por que volatilidade e dólar são as palavras-chave para entender o futuro dos mercados
Em um contexto internacional de profunda incerteza, a moeda norte-americana e o índice de volatilidade vão ditar o rumo dos mercados
Carlo Cauti
Publicado em 28 de setembro de 2022 às 06h18.
Os mercados financeiros internacionais está amargando resultados negativos nas últimas semanas, por causa dos temores de uma recessão mundial e de uma piora na crise do gás provocada pela guerra na Ucrânia.
Entretanto, as Bolsas de Valores do mundo todo chegaram a uma encruzilhada. Se continuarem caindo, vão aumentar os riscos de derrocada, ou seja aquelas vendas desencadeadas primeiro por pânico e depois por tecnicismos (como chamadas de margem, redução automática de risco pelos fundos, entre outros).
Nesse caso, a alternativa mais correta seria fazer uma pausa, enquanto as Bolsas permanecem em um total "mercado urso". Mas essa possibilidade vale apenas para os investidores mais corajosos, com "estômago" suficiente para encarar perdas em um período de tempo razoável.
Até pelo fato que uma recuperação repentina dos preços dos ativos é algo que dificilmente vai ocorrer no curto ou médio prazo, a menos que boas e surpreendentes notícias cheguem do front ucraniano.
Por isso, os fatores que ditarão a linha dos mercados financeiros nos próximos pregões serão dois: o Vix e o dólar.
Volatilidade e câmbio vão ditar o futuro da economia mundial
O primeiro mede a volatilidade do índice S&P 500 da Bolsa de Valores dos EUA, e nas últimas sessões saltou para perto de 33 pontos. Um nível muito distante do patamar considerado "de tranquilidade", ou seja abaixo dos 20 pontos, e um pouco mais próximo da chamada "zona de pânico", localizada acima de 40 pontos.
Ao longo de 2022, o Vix arriscou superar essa zona quatro vezes, mas sempre voltou para trás seguindo sua natureza de reversão média.
Os próximos pregões serão decisivos do ponto de vista da volatilidade para entender o caminho que o mercado vai tomar no futuro próximo. O Vix nesta fase está mais do que nunca diretamente correlacionado com o dólar, cuja alta parece não encontrar um fim.
O índice do dólar - que mede a tendência da moeda norte-americana em uma cesta internacional de moedas -ultrapassou os 114 pontos nesta segunda-feira, como não acontecia desde 2002.
Nesse momento, o dólar está atuando como um tanque de guerra, destruindo tudo que encontra em seu caminho. Desde o início do ano o dólar já subiu 20% em nível global. E quando a moeda norte-americana sobe, as demais classes de investimento caem.
As ações estão sofrendo pois um dólar cada vez mais forte significa que os mercados não sabem até que ponto o Federal Reserve (Fed) e os outros bancos centrais terão que aumentar as taxas de juros .
Além disso, face a taxas de juro mais elevadas, as ações tem seus valuations reduzidos em consequência do impacto no fluxo de caixa e nos resultados. As commodities também sofrem por serem cotados em dólares, custando mais em nível mundial (pois a maioria dos países do mundo não usam o dólar como moeda nacional) e, portanto, tendo sua demanda reduzida.
Por isso, até que o dólar diminua sua alta parabólica, os mercados financeiros vão continuar mostrando vulnerabilidades. Sem esquecer que um dos maiores riscos que correm as economias (e os ativos financeiros) é que os bancos centrais de outros países - incluindo o Brasil - sejam obrigados a aumentar excessivamente as taxas, não só para combater a inflação mas sobretudo para defender a taxa de câmbio desse "super dólar".
Dólar alto pode aumentar riscos de recessão
Nesse caso, criar-se-ia um círculo vicioso que poderia transformar a recessão que está chegando em várias regiões do mundo em uma verdadeira depressão. A única forma de evitar esta possibilidade é tentar parar esse "dólar-tanque".
Uma missão quase impossível, pois evidentemente o mercado entende que a moeda norte-americana é ainda o "porto seguro" mundial, e em um momento de profunda turbulência como o atual, todos querem proteger seu capital.
Por isso, o "dólar-tanque" vai continuar avançando e destruindo tudo que encontra em sua rota. Até mesmo as chances de recuperação da economia mundial. Isso junto com um Vix que vai distribuir intensas doses de terror nos mercados mundiais.