Ações das varejistas de vestuário perderam o brilho, avalia Raymond James
Papéis do setor sofreram uma forte correção nas últimas semanas, caindo 20% frente aos picos registrados no último trimestre de 2010
Da Redação
Publicado em 8 de fevereiro de 2011 às 09h41.
São Paulo – A temporada de ouro do varejo de vestuário na bolsa de valores já está com os dias contados. Após o forte desempenho registrado no mercado de ações em 2010, o setor deve agora sofrer com um possível aumento da taxa básica de juros (Selic) no Brasil e com o impacto desta medida nos financiamentos concedidos aos consumidores, afirmam em relatório os analistas Guilherme Assis e Daniela Bretthauer da casa de análise Raymond James.
O aumento nos preços do algodão, que praticamente dobraram nos últimos 12 meses, também eleva o pessimismo sobre as companhias do setor, principalmente porque suas margens de ganhos deverão ser afetadas já no primeiro semestre de 2011. O algodão é uma das principais matérias-primas da indústria têxtil, representando cerca de 15% do total dos custos de produção. A expectativa é que a cotação da commodity siga em alta até 2013.
Por conta disso, a Raymond James reduziu, na média, em 23% as estimativas de lucro por ação para as varejistas de vestuário no Brasil, mesmo apesar de reiterar as recomendações para as empresas do setor.
A preferida
As ações ordinárias da Lojas Marisa (AMAR3) despontam como a preferida dos analistas da Raymond James. A recomendação permanece como “outperform” (performance acima da média do mercado), mas o preço-alvo para o fim de 2011 foi reduzido de 32 reais para 27 reais. Apesar do cenário para o setor, "nós sentimos que a companhia ainda oferece o melhor potencial de valorização com base em nossas análises”, afirmam Guilherme Assis e Daniela Bretthauer.
Lojas Renner
Os papéis da Lojas Renner (LREN3) são negociados atualmente com um prêmio de 25% frente a média histórica, mesmo com a recente queda das ações. Contudo, a Raymond James alerta que uma desaceleração mais forte na receita, a pressão sobre as margens pelos altos custos do algodão e possível redução dos ganhos por conta da queda nos financiamentos feitos pelos consumidores poderão promover uma reavaliação da recomendação da companhia. Até lá, a casa de análise reitera sua recomendação de “market perform” (performance igual a média do mercado).
Hering
O diferencial no valor da Hering (HGTX3), em comparação a Lojas Renner, se estreitou no ano passado devido ao forte momento de ganhos nas receitas, além de maior liquidez nos papéis da companhia, explica a Raymond James. Para os analistas, as ações da empresa estão com um prêmio de 60% em relação a média histórica, considerando que os papéis são negociados ao equivalente a 12 vezes o múltiplo de valor da empresa sobre a geração de caixa (EV/EBITDA) para 2011.
Segundo eles, os ativos já chegaram ao seu valor justo. “Estaríamos mais otimistas com a empresa caso ela mudasse a projeção de aberturas de lojas de uma forma geral, mas em particular para a Hering Kids”, ressaltam Guilherme Assis e Daniela Bretthauer.
Guararapes
Com exceção da Hering, todas as varejistas brasileiras se beneficiam das vendas de serviços financeiros aos consumidores, o que torna esta atividade responsável por 25% a 50% da geração de caixa das companhias do setor, revela a análise.
Considerando que os analistas de mercado consultados pelo Banco Central projetam que a taxa Selic deve chegar em 12,50% até o final deste ano, a Raymond James acredita que o grande diferencial entre a taxa básica e as taxas cobradas nos refinanciamentos dos consumidores mais do que compensa o impacto de um aumento nos juros durante o aumento da inadimplência“, afirmam.
“Nossa análise de sensibilidade aponta para uma possível redução de 50% nos ganhos de refinanciamentos dos clientes no pior dos cenários”, preveem.
A Raymond James reiterou sua recomendação para as ações da Guararapes (GUAR3) em “market perform”, mesmo apesar de que a empresa poderia perder até 1/3 da geração de caixa de 2011 e 40% dos lucros por ação por conta da exposição da companhia aos serviços financeiros. Na contramão, a Lojas Renner é a que possui menor risco, com uma possível redução de 9% e 12% no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e nos ganhos por ação neste ano, respectivamente.
Mais análise
Em entrevista ao programa Portfólio de EXAME.com, o analista Renato Prado da Fator Corretora se mostrou pessimista sobre os papéis das varejistas de vestuário. "As ações já estão bem precificadas. Nossa recomendação é de manutenção neste momento, apesar do bom desempenho que as empresas tiveram em 2010", estima. Confira a entrevista na íntegra:
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